Marcelo Abud
Entre 2011 e 2018, a guerra civil na Síria já matou mais de 500 mil pessoas e exilou 5 milhões. Destas, cerca de 80 mil estão refugiadas no acampamento Zaatari, na Jordânia. De acordo com os dados, essa é a pior crise de migração na história da humanidade, desde a Segunda Guerra.
Este cenário inspirou o diretor de “Zaatari – Memórias do labirinto”. “É um filme sobre o que se passa no exílio. O documentário traz um estado de suspenção e evidencia uma espera de pessoas que saíram pensando que iam ficar 15 dias fora de casa e estão lá há oito anos”, afirma Paschoal Samora, ouvido neste podcast.
Samora iniciou o processo de criação em 2016, ao lado dos roteiristas Ricardo Vargas e Ana Cláudia Streva. O ponto de partida foi um trabalho voluntário junto às Nações Unidas, que gerou o desafio de desenvolver o argumento para o longametragem.
“As pessoas perguntam como é um campo de refugiados, como as coisas funcionam? Estamos falando de verdadeiras cidades, várias crianças nasceram dentro de Zaatari e o único mundo que elas viram é o mundo do refugiado”, ressalta Vargas que, na época da produção, era diretor de projetos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Um vendedor ambulante, uma fotógrafa que ensina seu ofício para meninas, um diretor de teatro com deficiência física e um pai que planta junto com o filho um jardim no deserto são alguns dos personagens das histórias presentes no enredo. “Nós estamos falando de pessoas que estão tentando reerguer suas vidas, descobrir uma nova profissão, um novo hábito, um novo amor por alguma coisa. E esse foi o argumento: como construir uma história de esperança num ambiente tão traumatizado?”, continua o roteirista.
A resposta surge na publicação “O Artigo dos Vaga-lumes”, escrito em 1975 pelo cineasta, poeta e escritor italiano Paolo Pasolini, que serviu de inspiração a Paschoal Samora. “Para se saber dos vaga-lumes é preciso ver eles brilharem vivos no coração da noite. Quanto maior a escuridão, mais importante é o brilho dos vaga-lumes. O fundamental é esta resistência”.
Ainda no podcast, diretor e roteirista tratam do campo de refugiados como consequência de uma guerra, o que deve servir de alerta diante da incapacidade de se aceitar as diferenças. “A maior parte das guerras são fruto de intolerância por uma religião diferente, da repulsa por uma pessoa que tenha uma opção sexual diversa, que seja de outra raça ou enxergue e tenha um conjunto de valores divergentes”, conclui Vargas.
O filme foi lançado nos cinemas da Europa em abril de 2018 e, no Brasil, no Festival Internacional de Documentários “É tudo verdade”. Em cartaz no Rio e em São Paulo, “Zaatari – Memórias do labirinto” em breve será exibido no Canal Brasil e na GloboNews.
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A música utilizada na edição deste podcast é a trilha sonora original do filme, de autoria de Diogo Poças.