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A Cinemateca Brasileira teve origem em 1940, quando Paulo Emílio Salles Gomes, Décio de Almeida Prato e Antonio Candido de Mello e Souza fundaram o primeiro clube de cinema de São Paulo com o propósito de estudar essa arte, a partir de projeções, conferências, debates e publicações.

Ao longo de oito décadas de existência, a instituição, passou a abrigar a maior quantidade de documentação audiovisual da América Latina. “Além do acervo de filmes, temos cerca de um milhão de documentos relativos ao segmento, como cartazes, fotografias, desenhos, livros, roteiros, periódicos, certificados de censura, material de imprensa e arquivos pessoais e institucionais”, revela a preservacionista audiovisual da Cinemateca, Ines Aisengart Menezes, ouvida neste podcast.

Área externa destinada a sessões ao ar livre na Cinemateca Brasileira (crédito: divulgação)

Também entrevistado no áudio, Paulo Gabriel Galvão, que começou na programação de filmes e agora atua no setor de atendimento, ressalta que, enquanto a visitação está interrompida, por causa da pandemia do novo coronavírus (covid-19), “uma parte significativa do acervo documental e algumas coleções estão disponíveis no site do banco de conteúdos culturais”.

A quantidade de imagens em movimento e outros materiais que preservam a história do cinema nacional só não é maior em função de quatro grandes incêndios sofridos pela organização. “Em 2016, que a gente tem os números, foram 1.003 rolos, referentes a 731 títulos, com expressivo número de cinejornais”, lamenta Ines. “Os incêndios são eventos com um volume de perdas grande, mas a gente tem diversas outras com a ausência da atuação de equipe técnica e de um depósito climatizado”, complementa.

No podcast, você entende mais sobre a importância da Cinemateca Brasileira e os riscos que envolvem a preservação e o acesso ao material mantido no espaço, que fica na Vila Clementino, em São Paulo (SP).

Crédito da imagem principal: reprodução site Cinemateca

Transcrição do Áudio

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Ines Aisengart Menezes:
A gente tem que garantir a preservação e o acesso a produções que hoje são pouco comentadas, discutidas e vistas, justamente para a gente garantir revisões da historicidade, da filmografia brasileira.

Marcelo Abud:
Ines Aisengart Menezes, preservacionista audiovisual, trabalha na Cinemateca Brasileira desde 2016.

Paulo Gabriel Galvão:
Em seus escritos para o suplemento literário do jornal O Estado de São Paulo, um dos fundadores da Cinemateca, o Paulo Emílio Salles Gomes, ele disse: “Não se faz bom cinema sem uma cultura cinematográfica e uma cultura viva exige simultaneamente o conhecimento do passado, a compreensão do presente e uma perspectiva para o futuro”.

Marcelo Abud:
Paulo Gabriel Galvão, trabalha na Cinemateca Brasileira desde 2015, atualmente é assistente no setor de atendimento.

Vinheta: “Instituto Claro – Cidadania”

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Em 1940, a Cinemateca Brasileira nasce como clube de cinema de São Paulo. Há 80 anos em cena, que raridades o acervo da instituição preserva? O que já se perdeu em incêndios? Quais os riscos de novos prejuízos para a memória do país?

Nesta edição, você vai entender qual a importância da Cinemateca Brasileira como patrimônio histórico e cultural.

Ines:
A Cinemateca Brasileira é uma instituição de memória audiovisual brasileira, que tem como papel preservar e promover o acesso a esses acervos. A Cinemateca possui um laboratório de dublicação fotoquímica e de digitalização de imagem e som, duas salas de cinema como possibilidade de exibição em película 16 milímetros, 35 milímetros, formatos de vídeo e digital, além de tela para exibições ao ar livre.

Paulo:
A intenção primeira da programação é exibir filmes nacionais do acervo respeitando, no limite possível, o formato original, porque ele mantém as características do filme, né, como ele foi concebido. Também tem uma questão nisso de valorizar o trabalho da preservação e do caráter museológico da exibição.

Música: “Resistência Cultural” (Marcelo D2 e Nave), com Marcelo D2 e Gilberto Gil
“Eu luto e não me rendo / Caio e não me vendo / Não recuo nem em pensamento / Sigo em movimento que pra mim é natural / De resistência cultural”

Som de um filme sendo projetado, de fundo

Marcelo Abud:
Localizada em São Paulo, a Cinemateca Brasileira reúne o maior acervo de imagem em movimento da América Latina e é uma das principais instituições do gênero no mundo.

Ines:
São cerca de 255 mil rolos, dentre películas em suporte de nitrato, acetato de celulose, poliéster, além de um expressivo acervo de fitas e rolos magnéticos e cerca de 800 terabytes de arquivos digitais. São obras desde 1910 até a produção contemporânea. E, além do acervo audiovisual, temos o acervo documental, que são cerca de 1 milhão de documentos relativos ao audiovisual, como cartazes, fotografias, desenhos, livros, roteiros, periódicos, certificados de censura, material de imprensa e documentos de arquivos pessoais e institucionais.

Paulo:
Todo mundo pode consultar o acervo da Cinemateca. Uma parte significativa do acervo documental e algumas coleções audiovisuais estão disponíveis no site de banco de conteúdos culturais. E ainda tem o catálogo da Biblioteca Paulo Emílio Salles Gomes, com informações do acervo bibliográfico especializado e coleções de VHS, de DVD, Blu-ray, que estão disponíveis para consulta presencial, obviamente que depois da pandemia, de forma gratuita.

Ines:
E é importante também a gente frisar que a União adquiriu uma série de acervos que hoje estão presentes na Cinemateca, como o da Vera Cruz, do cineasta Glauber Rocha, o acervo do Canal 100 de futebol, dos estúdios Atlântida, da atriz e diretora Norma Bengel. Eu quero mencionar o DVD do resgate do cinema silencioso brasileiro que foi lançado década passada.

Música: “Samba Dobrado” (Djavan)
“Quem faz parte dessa cena (Gravando, vai) pode rodar / Pra cumprir a mesma pena / Não é preciso ensaiar / ‘Tá combinado / Basta aprender sambar dobrado”

Marcelo Abud:
Parte importante dessa memória se perdeu em incêndios que atingiram a Cinemateca Brasileira.

Ines:
Todos os incêndios da Cinemateca foram originados no acervo de nitrato de celulose, que era uma película usada do início do cinema até o início da década de 50. Para a gente manter segura a coleção de nitrato de celulose, todos os rolos devem ser tirados de suas embalagens uma vez ao ano e revisados para evitar o acúmulo de gases emitidos no processo de deterioração desses materiais. Esse trabalho de revisão é, então, crucial pra evitar episódios de autocombustão. Até o momento foram quatro incêndios de grandes proporções e realmente muito se perdeu nesses incêndios.

Áudio do telejornal SPTV em 2016:

Agora, ainda segundo o corpo de bombeiros, o fogo atingiu, sim, uma parte do acervo da Cinemateca. A gente não tem ideia do quanto foi comprometido, mas essa é uma informação muito preocupante…

Ines:
Em 2016, que a gente tem os números, foram 1003 rolos, referentes a 731 títulos, com expressivo número de cinejornais. É importante destacar que é possível também a gente ter edificações e sistemas para prevenção ou minimização de possíveis sinistros que, infelizmente mesmo após o incêndio de 2016, a gente não conseguiu obter tais recursos para essas obras. Os incêndios são eventos com um volume de perdas grande, mas a gente tem diversas outras perdas com a ausência da atuação de equipe técnica, de um depósito climatizado.

Paulo:
As consequências pra cultura e pra educação do país num cenário em que o acervo está em risco são desastrosos. É perder grande parte dos registros e da própria história feita no país, em grande parte pelo nosso povo e para o nosso povo. Na Cinemateca são depositados os mais de 120 anos de produção audiovisual brasileira, o que por inúmeros casos são os registros da nossa história, não só os acontecimentos de determinadas épocas, mas também do pensamento dessas épocas. Enganam-se os que confundem a ação das cinematecas com saudosismo. É muito do que, apesar de várias vezes conscientemente esquecido, nos fez enquanto povo desse país, cuja ciência e, com ela a crítica aos erros e acertos do passado, auxilia em nos informar a ação de hoje e a ação para o futuro.

Música: “Resistência Cultural” (Marcelo D2 e Nave), com Marcelo D2 e Gilberto Gil
“Eu olho pro futuro / Sem esquecer o passado”

Mistura com: “Povo Brasileiro” (Rodrigo Santoro)

Nada mais será um Bicho de 7 Cabeças, a Hora da Estrela vai chegar. O Palhaço vai voltar a alegrar a gente em um Grande Circo Místico, que é O Filme da Minha Vida. Viva o povo brasileiro!

Marcelo Abud:
A preservação e acesso à memória e evolução do audiovisual do país estão diretamente ligados à manutenção e conservação do acervo da Cinemateca Brasileira.

Ao colocar luz nessa história, projetam-se a ação no presente e as cenas do futuro.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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