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Marcelo Abud

No final de março de 2019, a Fábrica de Cultura do Capão Redondo, na periferia da zona sul de São Paulo, recebeu milhares de pessoas para a primeira edição da PerifaCon – feira que reuniu nomes da cultura nerd e geek na região. A iniciativa inédita surgiu a partir de uma conversa entre sete amantes de quadrinhos, livros, desenhos, games e todo esse universo pop, que cresceram nas periferias da cidade e – em sua maioria – nunca frequentaram algo do gênero. Mateus Ramos Martins é uma exceção. Frequentador da Comic Con, ele foi um dos idealizadores do projeto.

“O Perifacon é um evento com recorte social, que tem por princípio trazer uma programação nerd gratuita. Toda nossa programação foi pensada para o público da periferia. Convidamos quadrinistas periféricos, de fora e mulheres, por exemplo. A gente não aceitou expositores que tinham conteúdo misógino em suas obras”, explica.

Entrada do público na Fábrica de cultura do Capão Redondo, onde aconteceu a primeira PerifaCon (crédito: Marcelo Abud)

 

A equipe do Instituto Claro esteve do início ao fim da feira e conversou com participantes e visitantes, que ficaram satisfeitos com o que viram e com a expectativa de outras edições. “Quanto mais tivermos iniciativas assim, chegaremos a um momento em que já não exista mais uma diferença tão grande entre aquilo que é da periferia e aquilo que é do centro ou das zonas mais privilegiadas dessas cidades”, defende o diretor de TV, Zico Góes. Ele ocupou a sala de audiovisual e falou com os jovens sobre a série “Impuros”, do canal Fox.

O DJ KL Jay corrobora com essa visão e defende que “evento assim tem que acontecer pelo menos a cada dois meses. Tem muita gente com sede de arte e de mostrar o valor que tem”. O integrante do grupo de rap Racionais MC’s participou da mesa “Arte e Resistência”, que teve como pano de fundo o chamado ativismo artístico.

O debate sobre representatividade e questões de classe nas HQ’s foi um dos destaques da programação e contou com o premiado autor de “Cumbe” e “Angola Janga”, Marcelo D’Salete. O ilustrador e mestre em história da arte pela Universidade de São Paulo (USP) se surpreendeu com uma particularidade. “Visualmente, olhando pra plateia, foi um dos públicos mais negros que eu pude ter contato, ainda mais neste formato de Comic Com.”

Público acompanha palestra “Produção e representatividade negra nos quadrinhos”, mediada pelo youtuber e ilustrador Load (crédito: Marcelo Abud)

 

Cris Bartis, do canal de podcasts Mamilos, mediou o bate-papo “produção de podcast no Brasil e porque ninguém consegue parar de ouvir”. Nascida no que chamou de “Capão de Belo Horizonte”, emocionou-se com a troca de ideias que manteve com o público. “Eu vejo as pessoas hoje orgulhosas de quem são, de onde estão. E elas estão transformando esses lugares a partir do orgulho que têm deles. Eu já fui em eventos enormes, eles são muito legais e eu não vejo esse aqui perdendo em nada para eles.”

Mateus Ramos deixa no ar o desejo da realização de novas edições da feira em outras regiões periféricas. “Nossa ideia é que a Perifacon vá cada vez mais longe, pra outras periferias”, pontua o jovem.

Créditos:
As músicas utilizadas na edição do áudio, por ordem de entrada, são: “Rap Instrumental”, creative commons; “Resiliência”, DJ KL Jay feat. Nathy MC; “Na atividade”, DJ KL Jay feat. Kamau, “Diferenças (Tabu Brasil)”, Criolo; e “Cabeça de nego”, Karol Conka e Sabotage.

Veja também:
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Marcelo D’Salete usa HQ para expor condição do negro no Brasil

Crédito das imagens principais: divulgação/PerifaCon

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