Marcelo Abud
Professor, ilustrador e autor, Marcelo D’Salete tem seu trabalho reconhecido em duas importantes premiações voltadas a HQs neste ano. Sua mais recente publicação, “Angola Janga” foi a grande vencedora do Prêmio Grampo de Grandes HQs. Já a versão em inglês de “Cumbe” (nomeada de “Run for it”) conquistou o Eisner Awards, considerado o “Oscar” do gênero, na categoria Melhor Edição Americana de Material Estrangeiro. “Uma premiação como essa chama atenção também pra esse tipo de narrativa aqui no país e para outros escritores negros que não foram reconhecidos em seu período, como, por exemplo, Lima Barreto”, destaca o autor. “Cumbe” também foi publicada em Portugal, França, Áustria e Itália.
Em sua obra, D’Salete retrata a resistência negra no Brasil, tanto no período colonial quanto nas grandes cidades dos dias de hoje, como acontece em “Encruzilhada”, que trata de violência e discriminação em centros urbanos. Já em “Angola Janga (Pequena Angola)”, que concorre ao Jabuti 2018, o foco recai sobre Zumbi dos Palmares. “Essas narrativas colocam os negros como protagonistas de suas próprias histórias, mesmo dentro de um sistema cruel e selvagem”, aponta.
No áudio, Marcelo D’Salete, que é também mestre em História da Arte pela USP, fala sobre o que o motiva a lutar pelo reconhecimento simbólico, cultural, econômico e político de populações marginalizadas. Para o quadrinista, “trazer esses personagens para o centro e mostrar sua perspectiva é se contrapor a um contexto que nega o conflito, que nega essa subordinação e que até pouco tempo atrás pregava que essas pessoas conviveram em condições harmônicas e pacíficas”.

D’Salete lamenta que ainda hoje a sociedade brasileira conviva com o racismo. “Alguns grupos dominantes fazem menções bem depreciativas sobre populações negras e indígenas. É necessário construir um outro olhar, para romper com o ciclo de subordinação que as elites têm imposto”, conclui.
Créditos:
As músicas utilizadas na edição do podcast foram indicadas pelo próprio entrevistado e, por ordem de entrada, são: “Angola Janga” (Thiago Elniño), “Yá Yá Massemba” (Jose Carlos Capinam / Roberto Mendes) e “Haiti” (Caetano Veloso e Gilberto Gil).