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O humor é uma válvula de escape que permite tornar mais leves algumas situações, como as declarações de que quem tomasse vacina viraria jacaré. A constatação é de Luiza Mello, especializada em memes e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação de Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF).

“A questão do humor para lidar com situações dramáticas, principalmente no contexto brasileiro, funciona mesmo como uma válvula de escape. A gente tem até o conceito de ‘zoeira’. É uma forma de você debochar de tragédias sob um olhar mais irônico. Tentar ouvir o lado positivo das situações”, afirma.

Já o professor do Departamento de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Hélio Roberto Deliberador, afirma que o humor, além disso, tem um poder terapêutico.

“É um aliviador de situações de medo, de ansiedade, às vezes, de depressão. A brincadeira, o meme, isso pode aliviar um pouco situações que são de sofrimento e dificuldade para as pessoas. É a transformação do instinto que, às vezes, é de dificuldade, de morte, para um instinto de vida e de prazer”, avalia.

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Transcrição do Áudio

Música: “O Futuro que me alcance” (Reynaldo Bessa), em versão instrumental

Luiza Mello:
A questão do humor para lidar com situações dramáticas, principalmente no contexto brasileiro, funciona mesmo como uma válvula de escape. A gente tem até o conceito de zoeira… É uma forma, né, de você debochar de tragédias sob um olhar mais irônico. Tentar ouvir o lado positivo das situações…
O meu nome é Luiza, eu sou doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação e Comunicação da UFF, a Universidade Federal Fluminense; estudo memes; meus interesses de pesquisas, minhas pesquisas atuais, giram em torno desse assunto.

Hélio Deliberador:
Essas novas formas de comunicação pelo lado, exatamente, da capacidade criativa humana, que descobre maneiras de transformar coisas, às vezes, difíceis, delicadas, em coisas mais leves – que faz com que situações possam se tornar atrativas e interessantes.
Hélio Roberto Deliberador, professor do Departamento de Psicologia Social da PUC-São Paulo.

Vinheta: Instituto Claro – Cidadania

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Será que rir, mesmo em meio a situações dramáticas, é algo positivo? E quando memes e o humor em geral podem ser terapêuticos? Pra começo de conversa, Luiza Mello, que é da equipe do Museu de Memes, da Universidade Federal Fluminense, explica o que caracteriza esta linguagem.

Luiza Mello:
Um conteúdo criado em conjunto e que circula muito nas plataformas digitais e que sofre processos de ressignificação, remixagem, e aí ele começa a se disseminar, né, viralizar. Então a gente acredita, hoje, que os memes surgiram muito antes da internet, mas claro que de uma certa forma eles conseguiram ganhar corpo, visibilidade, a partir da internet. E aí duas características que eu destacaria, né, seria a questão da estética amadora e da espontaneidade.

Marcelo Abud:
Hélio Deliberador cita que não é de hoje que a psicologia vê o humor como válvula de escape, mesmo em tempos de crise.

Hélio Deliberador
Como mostra bem Freud, o humor sempre é uma atividade que pode amenizar um pouco a situação de enfrentamento entre as pessoas, pra tornar o clima um pouco menos levado pelo ódio.
O Freud sempre propôs o chiste pra uma forma de fazer esse enfrentamento, às vezes, de diferentes opiniões ficar um pouco mais leves e, com isso, poder transformar um pouco as relações, não deixarem ser movidas pelo ódio.

Luiza Mello:
Então, a gente pode pegar, por exemplo, aquele meme que surgiu até da vacinação, né, da “Pifaizer”, que viralizou…

Esse Menino:
Aqui quem fala é ela, a “Pifaizer”, tá passada? Adivinha???? As vacinas, tão no grau, mami!!!!

Luiza Mello:
Os conteúdos que surgiram a partir do meme original são os virais, né, teoricamente, ele pega como referência aquele meme principal e faz ressignificações, né, remixagens…

“Pifaizer” (Versao em Inglês):
Here who´s speaking is her, the “Pifaizer”.

“Pifaizer” em Espanhol:
¡Mira! Mira que esta pasando, por tu calle, el camión de vacunas.

Marcelo Abud:
Os memes têm a capacidade de recuperar o nosso senso de humor diante de situações em que nos sentimos impotentes.

Hélio Deliberador:
É o que o Freud chamava de sublimação, o que pode, então, transformar, às vezes, as situações trágicas em situações cômicas. Porque toda a condição humana é caracterizada pela tragédia, mas também pelo cômico. É a linha tênue que pode fazer com que o humor, o chiste, possa encontrar maneiras de tornar a situação um pouco mais leve, não tão pesada, trágica, levada pelos enfrentamentos movidos pelo ódio.

Luiza Mello:
A linguagem dos memes tem sido difundida cada vez mais. É natural, nesse sentido, a gente ver que um certo conteúdo ele extrapole a internet, né, os memes, claro, eles encontraram na internet um terreno muito fértil pelas características mesmo do meio em si, mas a partir do momento que ele começa a se transformar numa linguagem – hoje a geração ela se informa por memes – então, naturalmente, a mídia, de uma forma geral, acaba incorporando essa linguagem também.

Trecho do quadro Buemba, Buemba, com José Simão(Rádio Bandnews):
Luiz Megale: Oh, Simão, você está acompanhando as negociações do governo com a Pfizer?
Simão: Sim. E aí nós vimos até um vídeo, viu, Megale, que é da Pfizer escrevendo cartas para o Bolsonaro. Evidente que viralizou na internet, né?

Luiza Mello:
E aí desde o entretenimento, onde é um gênero mais fácil de você incorporar uma linguagem que de certa forma é engraçada, né, apresenta uma estética mais amadora, diferente, mas o que a gente tem percebido também é que o jornalismo começa a introduzir esse tipo de linguagem; a política. Então, antes o que era produzido, consumido, por grupos sociais, né, em subculturas, em comunidades virtuais, hoje, ganha um espaço enorme em mídias massivas.

Marcelo Abud:
Será que rir é mesmo o melhor remédio? Para Deliberador, memes têm um poder terapêutico.

Hélio Deliberador:
É um aliviador de situações de medo, de ansiedade, às vezes, de depressão. A brincadeira, o meme, isso pode aliviar um pouco situações que são de sofrimento e dificuldade para as pessoas. É a transformação do instinto que, às vezes, é de dificuldade, de morte, né, para um instinto de vida e de prazer, né?

Luiza Mello:
Falando de crise humanitária, falando de crise política, enfim, todos esses problemas que não só o brasileiro, mas o mundo enfrenta, hoje, de certa forma, o meme traz esse recurso do humor e proporciona certa leveza. E ao mesmo tempo a gente consegue perceber que através de todo esse processo de produção, de compartilhamento de memes, a gente provoca um senso de comunidade. Ou seja, de as pessoas sentirem que estão no mesmo barco, mesmo que de uma forma negativa, né? E uma dessas peculiaridades, né, do humor brasileiro, é a autoironia, ou seja, você inverter o objeto da piada, usar o humor, pra rir das tragédias. E isso o brasileiro faz muito bem, assim. E querendo ou não você cria esse movimento de pertencimento, de identificação.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Memes, vídeos curtos e a repercussão desses conteúdos em mídias como o rádio e a TV podem ajudar a manter uma melhor qualidade da saúde mental em tempos de crise. O humor é ainda uma forma de conectar as pessoas e criar um senso de comunidade.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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