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Em 2004, a partir do programa “Pontos de Cultura Indígena” foi criado o portal “Índios Online”. A proposta era reunir os saberes e a luta de alguns dos povos indígenas oriundos de Alagoas, Bahia e Pernambuco.

“E eu fui convidado para fazer parte dessa rede de comunicação, onde a gente tinha um chat para conversar com as pessoas, e a gente publicava matérias escritas pra divulgar nossa cultura, nossa situação, falar um pouquinho dos povos indígenas do Brasil, como eles realmente são”, conta o produtor cultural, cineasta e comunicador Alexandre Pankararu.

Ao perceber a importância de indígenas terem suas realidades retratadas em conteúdos desenvolvidos pelos povos, Pankararu juntou-se à também produtora audiovisual Graci Guarani e, em 2014, criaram a Olhar da Alma Filmes, produtora de conteúdos originais de cineastas indígenas.

“Isso é pela importância de nós escrevermos a nossa própria história e contar a de nossos antepassados, porque entendemos que um povo sem história não existe”, afirma o cineasta.

Segundo Pankararu, é fundamental que a história e a cultura indígenas sejam mostradas pelos povos originários.  “Eu percebi a importância de a gente contar a nossa realidade do nosso jeito para que ela seja transmitida por quem a vive. Isso nos possibilitou mostrar como nós vivemos de verdade, o que sofremos de verdade”, revela.

Diversidade dos povos originários

De acordo com os dados do Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, o Brasil conta com mais de 266 povos indígenas, em todo o território nacional. Apesar de cada povo ter suas especificidades, segundo Alexandre Pankararu, há um pensamento comum entre todos eles.

“Sempre lutamos pela sobrevivência, direito à natureza, a importância da natureza para a nossa sobrevivência. Então nós temos essa preocupação, não só o povo Pankararu, mas todos os povos indígenas do Brasil. Vocês vão poder perceber que onde tem a maior quantidade de matas e recursos naturais preservados são em territórios indígenas, então, para isso continuar, precisamos garantir o nosso território”, conclui.

Crédito da imagem: Olhar da Alma Filmes – divulgação

Atualizado em 26/04/2024, às 18h50.

Transcrição do Áudio

Música de ritual em reserva indígena de Dourados, Mato Grosso do Sul, fica de fundo

Alexandre Pankararu:

A mudança ela foi bem visível no audiovisual indígena. A gente faz esse grande intercâmbio, a gente levar para outras pessoas esse novo conhecimento. E, também, levar para outros povos indígenas, porque, erroneamente, as pessoas nos viam como povos únicos, né? “Ah, você é índio”. Então achava que o indígena, ele era tudo igual. Mas somos centenas de povos indígenas no Brasil, com cultura, com especificidade, costumes e crenças diferente e aparências físicas também – muitos por conta da colonização –, mas não deixamos de ser indígenas por causa disso. Então, a grande mudança foi essa.

Olá a todos, a todas e a todes. Eu sou Alexandre, sou indígena Pankararu, e eu sou indígena comunicador social e realizador de cinema.

Vinheta: Instituto Claro – Cidadania

Marcelo Abud:

Há duas décadas, o produtor de audiovisual Alexandre Pankararu tem se dedicado a mostrar a cultura, luta e lendas dos povos indígenas pelo ponto de vista dos próprios indígenas. Tudo teve início a partir do convite para participar de um portal criado para facilitar a comunicação entre diversos povos indígenas e a sociedade.

Alexandre Pankararu:

Em 2004, com o programa “Pontos de Cultura Indígena” foi criada uma rede de comunicação indígena “Índios Online”. E o meu povo, né, o povo Pankararu fez parte e eu fui convidado para fazer parte dessa rede de comunicação, onde a gente tinha um chat para conversar com as pessoas, e a gente publicava matérias escritas pra divulgar nossa cultura, nossa situação, falar um pouquinho dos povos indígenas do Brasil, como eles realmente são. Até o início dos anos 2000 nós, povos indígenas, éramos tratados como personagens do folclore brasileiro. Até então nós só erámos reportados por pessoas não-indígenas.

Isso chamou mais atenção porque eu percebi a importância de a gente estar contando a nossa realidade do nosso jeito, mostrando como nós somos de verdade e não pessoas que iam captavam imagem, captavam informação da gente, mas na hora de publicar, publicavam do jeito que elas queriam, que elas achavam que era. E isso nos possibilitou mostrar nossa realidade, como nós vivemos de verdade, o que nós sofremos de verdade e os impactos que nós sofremos de verdade.

Marcelo Abud:

Junto com a parceira de vida e de trabalho Graci Guarani, Alexandre Pankararu está à frente de uma produtora de conteúdos originais de cineastas indígenas. Os filmes que realizam estão no canal do Youtube “Olhar da Alma Filmes”. Ele conta como o audiovisual se torna uma ferramenta de expressão importante para os povos indígenas.

Alexandre Pankararu:

A gente viu uma transformação em 2012. A internet começou a ser mais acessível dentro dos territórios. As pessoas começaram a adquirir smartphones na época, né? E, vendo essa questão, começaram a divulgar a sua cultura, sua história, as suas tristezas, suas angústias, suas derrotas e as suas vitórias.

E em 2014 nós criamos o “Olhar da Alma Filmes”. O nosso primeiro filme foi com equipamento emprestado, com câmera, captação de som. Através desse filme nós conseguimos adquirir nossa primeira câmera. Mas muitos dos recursos audiovisuais através de celulares. Meu primeiro celular que eu tive na minha vida foi em 2007. Através do programa “Celulares Indígenas”, promovido pela rede “Índios Online”, fazia vídeo, né, em 2007. E muitos indígenas também foram contemplados nessa época com celulares que filmavam.

Então isso é da importância de nós escrevermos a nossa própria história, a nossa atual história e também contar a história de nossos antepassados, porque entendemos que um povo sem história, ele não existe. Então a mudança foi grande, e hoje muitas pessoas não-indígenas já nos veem de forma diferente do que nos viam há 10, 20, 30 anos atrás.

Marcelo Abud:

“Tempo Circular” é uma das produções da Olhar da Alma Filmes. No curta-metragem, o tempo é abordado de forma não linear. Na visão indígena, é necessário escutar o passado estando no presente e pensando no futuro.

Depoimento de indígena no filme “Tempo Circular”:

Porque fica complicado, fica difícil a gente falar do futuro sem conhecer o nosso passado. A gente viver o presente, sem ter noção do que os nossos antepassados viveram, né? De quem foram? O que é que eles deixaram de legado para nós? Não só dentro dos conhecimentos dos saberes tradicionais indígenas, mas também de fatos mesmo, fatos importantes que marcaram a história do povo Pankararu.

Alexandre Pankararu:

É um olhar para contar nossa história de dentro para fora, de dentro do nosso território, de dentro dos nossos corpos, da nossa espiritualidade. E ele não foge muito dessa questão, né, do ser indígena. Falamos do racismo – também sofremos racismo até os dias de hoje –, falamos da nossa agricultura, falamos das nossas crenças, falamos das nossas lutas e, também, de uns anos para cá, nós também estamos contando um pouquinho da nossa magia.

Marcelo Abud:

De acordo com os dados do Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, o Brasil conta com 266 povos indígenas em todo o território nacional. Se por um lado, cada povo tem suas especificidades, segundo Alexandre Pankararu, há um pensamento comum entre todos eles. Isso está representado, inclusive, na maneira como se dirigem uns aos outros e que pode ser acompanhado no filme “Parente, a esperança do mundo”.

Alexandre Pankararu:

“Parente”, né, que é o termo que nós utilizamos com outros indígenas de outros povos. Parente nós ‘se’ trata como família. “Parente, a esperança do mundo” mostra essa preocupação em comum em todos os povos, que é o cuidar, o cuidar da vida.

Áudio do filme “Parente, a esperança do mundo”:

Graci Guarani:

Há exatamente 520 anos, a história dos povos indígenas tem sido de muita resistência. Com uma vasta riqueza cultural, sobrevive bravamente ao tempo e à memória.

As artes indígenas, assim como a cultura indígena, vêm tomando um papel muito forte, comendo mundos para transcender formas diversas de resistir culturalmente, espiritualmente e politicamente.

 Alexandre Pankararu:

O direito à natureza, a importância da natureza para a nossa sobrevivência. Então nós temos essa preocupação não só o povo Pankararu, mas todos os povos indígenas do Brasil. Se vocês tiverem curiosidade, vão poder perceber que onde tem a maior quantidade de matas e recursos naturais preservados são em territórios indígenas, então, para isso continuar, precisamos garantir o nosso território. Então isso é nossa luta, a nossa preocupação, que é em comum com todos os povos do Brasil.

Música de ritual em reserva indígena de Dourados, Mato Grosso do Sul, fica de fundo

Marcelo Abud:

Para Alexandre Pankararu, o audiovisual é uma ferramenta de expressão e luta para os povos indígenas. A partir dos pontos de vista de centenas desses povos, é possível pensar o mundo por meio das vivências, culturas e histórias que representam a diversidade do Brasil.

Marcelo Abud para o podcast de cidadania do Instituto Claro.

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