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Marcelo Abud

Quanto nossas escolhas alimentares estão atreladas não apenas com o nosso bem-estar, mas também com a sustentabilidade do planeta? Para responder a essa pergunta, o Instituto Claro conversa com a jornalista, especialista em gastronomia, Ailin Aleixo. Para ela, “o que comemos molda o mundo”.

“A preocupação é crescente com este tema, tanto com relação à saúde física quanto à saúde ambiental, em relação ao que a gente come, porque a gente está passando já por um caos climático. Boa parte disso é derivado de como a gente usa o mundo para produzir comida.”

Aleixo passou por diversas redações cobrindo as novidades do setor gastronômico até começar um caminho mais autônomo na web sobre um consumo mais consciente e salutar dos alimentos. Influenciadora digital, ela coloca uma pitada de engajamento pessoal e cidadania em tudo o que produz atualmente.

A jornalista durante produção para a websérie “Por trás da Kg” (crédito: divulgação)

 

A mudança para este jornalismo mais ativista começou a partir de seu incômodo em relação aos processos por trás da produção dos alimentos. “A pecuária é a maior responsável pelo desmatamento da Amazônia. A única forma de diminuir o impacto é reduzir imensamente o consumo de alimentação a base de animais”, exemplifica.

Na entrevista que você confere no podcast, além de acompanhar os bastidores da forma em que são produzidas as tilápias no Brasil e como isso pode ser feito de maneira sustentável, Aleixo traz dicas para uma alimentação saudável e que gera bem-estar também ao planeta.

“No Brasil, a gente tem uma oferta muito grande de legumes, de frutas, de verduras. Cada estação tem a sua oferta desses itens vegetais e sempre que as coisas estão na estação, elas têm mais gosto, são mais baratas, e precisam de menos agrotóxico, porque elas estão no momento certo de crescimento delas”, dá a receita.

Em seu perfil no Instagram, ela publica frequentemente posts com dados de estudos oficiais que embasam tais afirmações, além de compensar os internautas com fotos de dar água na boca relativas às iguarias à base de grãos, vegetais e novos conceitos trazidos, por exemplo, pelo veganismo.

“Precisamos lembrar que nossas doenças mentais e físicas podem ser resultado de uma dieta mal feita. Essa coisa da gente querer comer sempre os mesmos itens o ano inteiro não é só ruim para o planeta, mas é ruim para a nossa saúde. A gente precisa de micronutrientes diferentes e, por isso, de uma alimentação diversificada”, conclui.

Crédito da imagem principal: reprodução site Gastrolândia

Transcrição do áudio:

Ailin Aleixo:
Não dá para falar de aquecimento global e de mudança climática sem falar sobre alimentação. A gente realmente precisa ter, cada vez mais, acesso a essa informação do que envolve produzir alimento para a gente poder fazer escolhas mais sensatas.

Meu nome é Ailin Aleixo. Eu tenho o site Gastrolândia e o canal no YouTube “Por trás da Kg”, que é dedicado a jornalismo gastronômico.

Vinheta: “Instituto Claro – Cidadania”

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Nossas escolhas alimentares, além de gerar bem-estar, podem também influenciar no aquecimento global? Para a jornalista, especializada em gastronomia, Ailin Aleixo, não há dúvida.

O engajamento com o tema vem a partir do incômodo ao conhecer os processos por trás da produção dos alimentos. Ailin constata, por meio de estudos oficiais, que a dieta humana está acelerando o aquecimento global, o desmatamento, a crise de água e o uso de recursos naturais.

Ailin Aleixo:
A preocupação é crescente com esse tema, tanto a saúde física quanto a saúde ambiental, em relação ao que a gente come, porque a gente está passando já por um caos climático. As coisas que estão acontecendo, tanto no Brasil, na Austrália, alagamentos e fogo, e boa parte disso é derivado do como a gente usa o mundo para produzir comida.

Trecho de vídeo “Desvendando a Piscicultura”, do canal “Por trás da Kg”, de Ailin Aleixo:
“O peixe macho cresce muito mais rápido, ganha mais peso do que a fêmea. Então, quando ele é alevino, ainda bem pequeno, os produtores de alevino colocam metiltestosterona na ração, para eles comerem e se transformarem todos em machos. Isso já é um problema em boa parte do mundo que tem piscicultura, porque se você joga esta água de volta na natureza, sem tratamento, você simplesmente está fazendo os peixes da natureza se tornarem machos e você vai ter uma queda absurda de população de peixe nativo.”

Marcelo Abud:

Este áudio é de um trecho do vídeo “Desvendando a Piscicultura”, do canal “Por trás da Kg”, de Ailin Aleixo. Nele, a jornalista investiga os impactos ao meio ambiente e no bem-estar animal, durante o processo de produção de tilápias, um dos peixes de criação mais consumidos no Brasil.

Ailin Aleixo:
Como que o consumidor vai saber que se usa testosterona para reverter sexo de peixe? Isso não está em lugar nenhum, quase. Está em manual de zootecnia. O que me deixa, cada vez mais, alarmada é a grandiosidade do problema que a gente tem na mão com a dieta atual do planeta, o quanto essa dieta está destruindo o planeta e a nossa saúde.

Música: “O Regime” (Léo Jaime)
“O problema é o regime / O problema é o regime / Que não dá satisfação”

Marcelo Abud:
Em suas redes sociais, Aleixo não apenas apresenta os problemas, mas também traz processos sustentáveis de produção de alimentos.

Trecho de vídeo “Desvendando a Piscicultura”, do canal “Por trás da Kg”:
Piscicultor:
“A diferença básica entre uma tilápia convencional e a tilápia sustentável é o modelo de criação.”
Ailin Aleixo:
“Tilápia é um peixe muito sensível à temperatura da água. Então, quando você muda para um certo padrão de temperatura, você já transforma os alevinos em machos sem necessidade nenhuma de colocar testosterona.

Marcelo Abud:
O Instituto Claro solicitou à jornalista dicas de como o cidadão pode mudar suas escolhas, diante da informação e, dessa forma, contribuir para que a produção de alimentos seja feita de maneira mais responsável.

Ailin Aleixo:
Eu posso falar aqui agora do cidadão urbano, classe média, que tem poder pra escolher o que ele compra. E a primeira coisa que eu acho interessante é comprar o que é local e sazonal. A gente está no Brasil, a gente tem uma oferta muito grande de legumes, de frutas, de verduras. Cada estação tem a sua oferta desses itens vegetais e sempre que as coisas estão na estação, elas têm mais gosto, elas são mais baratas, porque produzem mais, e, no caso, elas precisam de menos agrotóxico, porque elas estão no momento certo de crescimento delas.

Música: “Abacateiro” (Gilberto Gil)
“Enquanto o tempo não trouxer seu abacate / Amanhecerá tomate / E anoitecerá mamão”

Ailin Aleixo:
Não existe isso do ano inteiro ter tomate, o ano inteiro ter alface, o ano inteiro ter pêssego. A gente já faz isso acontecer, mas é completamente antinatural. Tudo o que está fora da estação exige muito mais água, muito mais hora/homem e quando não é orgânico, muito mais agrotóxico.

Essa coisa da gente querer comer sempre os mesmos itens o ano inteiro não é só ruim para o planeta, mas é ruim para a nossa saúde, a gente precisa de micronutrientes diferentes, a gente precisa comer coisas diferentes.

Marcelo Abud:
Além de dar preferência aos produtos que são locais e sazonais, Aleixo também defende a importância do consumo, sempre que possível, de produtos orgânicos.

Ailin Aleixo:
Não só porque tem contaminação de solo muito menor; porque os insumos não são sintéticos, são orgânicos, mas também porque para você ter certificação orgânica, você tem que ter uma série de pólices de bem-estar humano também. As pessoas têm que ganhar decentemente, o solo tem que ser tratado decentemente, você não contamina lençol freático com agrotóxico, então você preserva a fonte de água. O orgânico é uma cadeia que vai descontaminando o meio ambiente, ao contrário do que a gente chama, hoje, de convencional, que é o que vem contaminando.

Música: “O Cio da Terra” (Milton Nascimento/ Fernando Brant)
“Afagar a terra / Conhecer os desejos da terra / Cio da terra / Propícia estação / E fecundar o chão”

Ailin Aleixo:
E outra coisa é tentar priorizar pequenos e médios produtores. Tem muitas fazendas orgânicas, biodinâmicas, aqui em São Paulo, que já vendem cestas ou que as pessoas recolhem num determinado endereço ou que é mandada para casa delas. Isso sai muito mais barato, você coloca seu dinheiro num mercado que precisa de dinheiro girando, porque essas pessoas precisam se manter no campo. Senão elas vão acabar sendo compradas e uma fazenda que produz 20 tipos de legumes e verduras vai acabar produzindo só cana ou só milho. Então, um bom jeito de estimular as pessoas a permanecerem no campo é comprar direto os produtos delas, quando isso é possível para o consumidor.

Marcelo Abud:
Para a jornalista, a principal mudança na alimentação deve ser a diminuição, ao máximo, do consumo de alimentos derivados de animais.

Ailin Aleixo:
Hoje, a maior parte, mais de 60% dos antibióticos produzidos no mundo são para consumo animal, é mais do que o consumo humano. A gente tem um problema super grande de resistência, já, a antibióticos tanto entre os animais, quanto entre humanos, por conta do excesso de antibióticos que a gente toma e que a gente come através dos animais.

Marcelo Abud:
Em relação à dieta, uma medida fácil de ser tomada é evitar o consumo de alimentos superprocessados.

Ailin Aleixo:
Aqueles alimentos que têm uma lista de ingredientes gigantesca, que metade a gente não entende porque é código, cheio de conservante, corante, espessante, estabilizante, que parece que, se tiver um ataque zumbi, daqui 20 anos, se abrir o pacote, vai dar para comer ainda, porque o negócio dura uma eternidade. Isso, realmente, é muito ruim para a saúde, porque isso para durar assim tem muita gordura ou muito sal ou muita açúcar ou muito tudo isso junto.

E superprocessados, a gente inclui também refrigerante, fast food, tudo que é muito barato no mercado ou no fast food tem um custo ambiental e de saúde muito grande que não é contabilizado. É muito barato comer bolacha de pacote, mas a médio e longo prazo, o que a gente vai gastar – as pessoas que podem – em médico, em remédio é muito alto, porque a gente está botando para dentro do nosso corpo uma coisa que dificilmente pode ser chamada de alimento.

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
“O que a gente escolhe comer molda o mundo”, é com esse pensamento que Ailin Aleixo usa as redes sociais para informar e alertar sobre o impacto da alimentação humana em diversas questões urgentes para a qualidade de vida na Terra.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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