Leonardo Valle

Moradores de zonas rurais no Brasil estão sofrendo intoxicações decorrentes da pulverização de agrotóxicos nas proximidades de suas casas, escolas e locais de trabalho, aponta a instituição Human Rights Watch no relatório “Você não quer mais respirar veneno”. Com 52 páginas, o documento relata casos de intoxicação aguda causada pelo uso de agrotóxicos em sete localidades de zonas rurais no Brasil, incluindo comunidades, indígenas, quilombolas e escolas. A publicação está disponível online para consulta.

Além disso, traz depoimentos de membros de comunidades rurais que sofreram represálias caso denunciassem as intoxicações ou defendessem leis e regulamentações mais protetivas ao uso de agrotóxicos. Segundo as vítimas, as retaliações são feitas por grandes proprietários de terra com poder político e econômico.

Questão de saúde

A exposição das pessoas aos agrotóxicos acontece quando estes são dispersados em plantações e se dispersam durante a aplicação ou quando evaporam e seguem para áreas adjacentes nos dias após a pulverização. Em casos de intoxicação aguda, os sintomas apresentados incluem vômitos, náusea, dor de cabeça e tontura durante ou imediatamente após a pulverização nas proximidades. A exposição crônica a agrotóxicos, mesmo em doses baixas, é associada à infertilidade, a impactos negativos no desenvolvimento fetal, ao câncer e a outras consequências graves à saúde. Mulheres grávidas, crianças e outras pessoas vulneráveis aos agrotóxicos podem enfrentar riscos maiores.

“Eu me senti mal, com enjoo e dor de cabeça. Eu vomitei muito, depois que comecei eu não conseguia parar. Eu tive que ligar para o meu marido pedindo ajuda. Estou grávida e minha principal preocupação era com meu filho. Estava preocupada que isso pudesse afetar sua saúde”, relatou Eduarda, uma mulher grávida, moradora de uma comunidade rural próxima a Santarém (PA).

“O avião estava jogando veneno do lado da escola e o vento trazia para a escola. Não dava para sentir o cheiro, mas dava para sentir a neblina, o vapor [de agrotóxicos] entrando pela janela. As crianças, entre quatro e sete anos reclamavam que suas gengivas e olhos estavam ardendo”, afirmou Marelaine, professora em uma comunidade rural no sul da Bahia.

Segundo o diretor-adjunto da divisão de meio ambiente e direitos humanos da Human Rights Watch e autor do relatório, Richard Pearshouse, “as autoridades brasileiras devem acabar com a exposição tóxica aos agrotóxicos e garantir a segurança daqueles que denunciam ou se opõem aos danos causados às famílias e comunidades.”

Com Human Rights Watch.

Crédito da imagem: Alfribeiro – iStock

 

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