Leonardo Valle

Segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen 2017), o Brasil possui a terceira maior população carcerária do mundo, com 726 mil presos. Estima-se, ainda, que um entre quatro condenados reincida no crime após cumprir sua pena (Ipea). Apesar do aumento da população carcerária ser um fenômeno complexo, especialistas garantem que a reinserção no mercado de trabalho é fundamental para que ele não volte para trás das grades.

“A relação entre trabalho e reincidência é direta. Dados dos Estados Unidos mostram que 50% da população carcerária reincidia. Ao ter oportunidade de emprego, a taxa caia para 30%”, destaca a pesquisadora do Instituto Igarapé, Anna Paula Pellegrino. “A reinserção rápida evita que ele retorne a esse ciclo e deve ser entendida como uma forma de prevenir a violência. Lembrando que uma parte considerável dessa população foi presa por crimes não violentos, como tráfico de drogas, e não representa risco à sociedade”, complementa.

Portas fechadas

O preso que procura emprego após sair do encarceramento, contudo, não encontra as portas do mercado de trabalho abertas. Foi o caso de Wellington William Pereira da Silva, de 31 anos. “O desafio é enfrentar uma sociedade preconceituosa que, ao invés de apoiar, prefere julgar”, explica.

Para a porta-voz da Cooperativa de Egressos e Familiares de Egressos (Coopereso), Carol Soares, além do preconceito, a baixa escolaridade dos que deixaram a cadeia também os impedem de conseguir bons trabalhos. “A maioria não terminou nem o fundamental”, denuncia.

Após anos procurando emprego, Silva realocou-se no mercado de trabalho por meio do projeto “Recomeçar”, da ONG Gerando Falcões. Hoje, ele atua como ajudante de conferente em uma empresa de logística. “Primeiramente, fazemos o cadastro desse cidadão e atendimento psicossocial e de socialização. Na sequência, realizamos um trabalho de desenvolvimento ligado à cidadania, ensino básico e qualificação profissional”, descreve o diretor do programa, Leonardo Precioso.

Uma vez que o ex-detento finalmente consegue emprego, ele passa a ser acompanhado pelo programa. “Assim, entendemos sua evolução e oferecemos suporte caso haja necessidade”, explica. “Ele volta a ter um posto de trabalho dentro da sociedade e são criados novos horizontes. Dessa forma, minimizamos ou praticamente zeramos os contatos ligados à criminalidade”, resume Precioso.

“Eu tenho o ‘Recomeçar’ como uma porta que se abriu, mas que cabe a mim mantê-la. Inclusive, para ajudar as pessoas que virão na sequência e que também podem ser beneficiadas”, garante Silva.

Valores de cooperativa

Trajetória similar teve Reginaldo Medeiros do Espírito Santo, de 42 anos, que ganhou o direito à liberdade em 2012. “Eu só pensava: quem vai dar trabalho para quem já foi preso?”, relembra.

Ao sair da prisão, Santo recebeu um panfleto sobre a Coopereso. “Sai do sistema penitenciário sem nada. Comecei a trabalhar de imediato na cooperativa, conheci minha esposa, construí minha casa, comprei meu carro e passei a viver dignamente. Tudo o que tenho e sou devo a eles”, aponta. “Penso que se existisse um projeto semelhante em todos os estados, não haveria necessidade de construir tantas cadeias. Para muitos, como eu, o que falta mesmo é oportunidade”, assinala.

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