Depois da internet, a aprendizagem nunca mais foi a mesma. Os alunos ganharam uma poderosa ferramenta de pesquisa e os professores, mais um desafio. Em 0,08 segundo, o Google, ainda imbatível no ramo virtual das buscas, traz, para o termo “fotossíntese”, cerca de 230 mil resultados. Um universo farto para o que já vem ganhando nome oficial: “control cê, control vê”, as teclas de atalho usadas para copiar e colar um conteúdo de uma página de internet.

Embora a internet nem sempre seja exaltada por suas possibilidades pedagógicas, existem atividades educacionais quase totalmente baseadas em seu uso. É o caso da Webquest, um conceito criado em 1995 pelo professor Bernie Dodge, do departamento de Tecnologia Educacional da Universidade Estadual de San Diego. E o Brasil é um dos países em que as Webquests mais se desenvolveram nestes 14 anos.

O criador do conceito define Webquest como “uma atividade investigativa, em que alguma ou toda a informação com que os alunos interagem provém da internet”. Em geral, uma Webquest se apresenta como uma página simples de web contendo seis ou sete links que levam às etapas que os alunos – de preferência em grupos, para incentivar o trabalho cooperativo – devem percorrer para concluir a tarefa. Essa divisão por etapas ajuda a criar o clima que é um dos pontos fortes do modelo. “Tem aspecto lúdico, na medida em que apresenta desafios e é sempre baseada em uma situação fictícia que deve envolver os alunos”, explica Mariza Mendes, formadora do projeto Gestão Escolar e Novas Tecnologias, realizado em parceria entre a PUC e a Microsoft.

O primeiro tópico de uma Webquest é a introdução. Ali se apresenta o tema de forma sucinta, que, a rigor, pode ser qualquer coisa que tenha um fim educacional. O site do professor Bernie Dodge,  www.webquest.org, oferece um farto banco de dados de webquests que inclui temas variados como logaritmos, leis de direito autoral e até uso de pesticidas.

Muitas vezes, já na primeira etapa se coloca o ambiente ficcional, colocando os alunos dentro de alguma história. Em uma Webquest intitulada “The Show Must Go On”, direcionada para alunos iniciantes de música, o professor pede que o grupo assuma, em conjunto, o papel de maestro da Filarmônica da Filadélfia. Mas, como a seção de sopros está em férias, o grupo vai precisar descobrir quais trechos de “Pedro e o Lobo”, de Prokofiev, usam os instrumentos daquela seção e contratar músicos que toquem tais instrumentos.

No passo seguinte, a “Tarefa” é especificada. Nesse caso, a Webquest mostra detalhadamente todas as subtarefas que o grupo terá de realizar (descobrir quatro instrumentos de sopro presentes na peça, identificar que personagens eles representam, encontrar quatro instrumentistas da Filarmônica de Nova York para substituir os que estão em férias etc.). Cada subtarefa é detalhada no terceiro passo, o “Processo”. Ali são fornecidas instruções práticas, como número de participantes por grupo e modo de divisão das tarefas, alem de links necessários para a execução da missão (como para páginas com o roteiro da peça e o site da Filarmônica de Nova York). É possível dividir o “Processo” e colocar os links de apoio em um tópico separado, chamado “Recursos”.

Ao fornecer apoio ao aluno por meio da própria web é preciso tomar muito cuidado para não dar o conteúdo “mastigado”. “O erro mais comum é fazer de uma Webquest um questionário, levando o aluno buscar respostas prontas na pesquisa da internet. O ideal é que ele precise refletir, se posicionar e buscar soluções próprias para as situações apresentadas e não as encontre prontas”, explica Mariza Mendes. Por isso, no exemplo que estamos seguindo, além de “contratar” os músicos faltantes, os alunos têm de redigir uma breve história sobre eles e assim são estimulados a analisar o profissional que mais lhe agrada, aprender sobre os instrumentos pelos quais transitou até o momento etc. Além disso, os alunos são orientados a escolher um instrumento que represente melhor eles mesmos, o que obviamente não vão encontrar pronto na internet. É possível até mesmo exercitar a interdisciplinaridade, requisitando que os grupos desenhem personagens e instrumentos.

Como quarto tópico, a Webquest apresenta, por meio de uma tabela, a forma de “Avaliação” da tarefa, separada por subtarefas e exibindo claramente o que será avaliado em cada uma delas. Por fim, a “Conclusão” relembra o que deve ter sido aprendido e, em seguida, vêm os “Créditos” pela Webquest.

Não existe limitação quanto à idade dos alunos. “O uso de uma Webquest pode ser levado para qualquer ambiente onde se pretende que ocorra alguma aprendizagem e o desenvolvimento de competências como trabalho cooperativo e construção intelectual de conteúdos. Isso pode ocorrer também em empresas ou indústrias”, explica Lisbete Madsen, professora do Departamento de Computação da PUC-SP. Uma empresa de turismo interessada em consolidar o conhecimento de seus guias sobre determinado país, por exemplo, pode propor uma Webquest em que a tarefa seja criar um roteiro de um dia que satisfaça aos interesses de diversos componentes de uma família que devem passear juntos.

Muitas instituições, como o Senac e colégios renomados como Rio Branco, Dante Alighieri e Mackenzie, vêm utilizando Webquests em diversas aulas nos mais diferentes níveis. “O mais importante da Webquest é ter clareza do objetivo da atividade, criar uma tarefa interessante para o nível a ser aplicado, selecionar fontes de pesquisas confiáveis e de qualidade, ter um roteiro de trabalho bem definido, levar o aluno a construir um produto que seja resultado de reflexão sobre a pesquisa realizada e deixar margem para que os alunos continuem interessados pelo assunto mesmo depois da atividade”, orienta Mariza Mendes.

Veja alguns links onde você pode se familiarizar com as Webquests e dar uma olhada nas montadas pelas professoras citadas na reportagem:

http://www.webquest.org/index.php
http://wqamazonia.vilabol.uol.com.br/index.htm
http://wqtiete.vilabol.uol.com.br/ 
http://www.pucsp.br/tecmem/webquest.htm

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Talvez Você Também Goste

Confira 7 filmes para debater bullying na escola

Produções ajudam a identificar a prática e conscientizam sobre preconceitos que a motivam

Como usar fanfics em sala de aula?

Produção literária colaborativa de fãs estimula leitura e escrita entre jovens

Como utilizar a culinária afrodiaspórica no ensino de química?

Pratos como feijoada, acarajé e moqueca ajudam a abordar diferentes conteúdos da disciplina

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.