Enciclopédias, as principais fontes de pesquisa escolares até o início dos anos 90, mudaram de lugar. Das prateleiras para o mundo virtual. Entre as versões impressa e as milhares disponíveis na internet, houve ainda a febre das versões em CD-ROM, populares enquanto não se “multiplicavam” sites, blogs, vídeos e repositórios de pesquisas sobre os mais variados temas e focados nas diversas áreas do conhecimento humano. Entretanto, mesmo depois de chegarem em peso à web, as enciclopédias não foram sempre as mesmas. Primeiro, estáticas e alimentadas em ambiente fechado, eram úteis por cumprir o seu papel de fonte. Depois, abertas e no padrão “wiki”, passaram a permitir a construção conjunta do conhecimento e o incremento com recursos como vídeo, áudio, animações etc. Uma pequena revolução.

 

Divulgação

O professor e pesquisador Ig Bittencourt em palestra no SBIE 2009

A trajetória das enciclopédias serve como metáfora para falar sobre os ambientes educacionais na internet. E ainda para abordar o futuro. Depois do compartilhamento de conhecimento em formato criativo e livre entre pessoas, o que virá? Esqueça as previsões esdrúxulas e cheias de ficção. Ao menos o futuro próximo já tem um caminho certo, como afirmou o pesquisador e professor Ig Bittencourt, da Universidade Federal de Alagoas, no XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (SBIE), evento realizado em novembro, em Florianópolis.

Durante o minicurso “Web Semântica e os Ambientes Educacionais: Passado, Presente e Futuro”, Bittencourt destacou de onde vieram e para onde vão as trocas de informação e a construção do conhecimento humano, sempre focando nos espaços onde podem ocorrer processos de ensino-aprendizagem. A “primeira geração”, como ele denominou, aquela surgida lá nos anos 90, tinha foco na produção de conteúdo e nos formatos proprietários para recursos educacionais. Empresas dominavam a internet e os sites de notícia e informação eram carentes, “quadrados” e não representavam exatamente uma inovação nos processos educacionais.

A segunda, que ainda vivemos, mas que já se encontra numa fase de transição, aprofunda-se no ensino personalizado, na adoção de tecnologias web e na inteligência artificial. Ainda tem formatos proprietários, mas os formatos abertos ocupam espaços importantes e ganham cada vez mais adeptos.

Já a terceira geração deverá ser baseada na adoção de tecnologias de web semântica e inteligência artificial. “Preza pela reusabilidade, interoperabilidade, automatização, compartilhamento, extensibilidade, mais inteligência e mais adaptação às necessidades de cada usuário”, afirma Ig Bittencourt.

A reusabilidade, embora já seja um conceito largamente utilizado desde a criação dos repositórios de informação e de objetos de aprendizagem, ainda tem muito a ser aperfeiçoada, de acordo com o que explicou o professor no XX SBIE. “É preciso um outro nível de ligação entre sistemas e conteúdos, assim a busca poderá ser inteligente e será maior a possibilidade de se criar e se reutlizar a informação”, diz.

Ilustração utilizada por Ig Bittencourt no SBIE mostra evolução da web

Ao fazer uma busca, hoje, o usuário encontra na web as relações entre páginas e mídias. Com a semântica, que é a capacidade de fazer a máquina entender as relações de significado, é possível conectar conhecimento. Na educação, exemplifica Bittencourt, isso poderia se materializar, por exemplo, com agentes inteligentes guiando pesquisas de alunos e professores.

“A ideia é que, ao pesquisar um termo, um determinado assunto, o usuário possa encontrar não apenas páginas com conteúdo, mas que a própria máquina lhe apresente o melhor conteúdo didático e o remeta a outras pessoas que também pesquisam aquele assunto, podendo resultar em grupos de estudo”, diz.

De acordo com o pesquisador, apenas com dinâmicas nessa linha será possível ao ser humano conseguir aproveitar a quantidade quase incalculável de informação que existe na rede e que, no futuro, continuará crescendo sem limite. “A busca no estilo Google não será suficiente para absorver o que a web oferece, dessa forma, muita coisa será ‘perdida'”, afirma Bittencourt.

Esta web, que representa uma fusão entre a web 2.0 e a web semântica é classificada pelos pesquisadores de “web semântica social” ou, simplesmente, “web 3.0”. “Nela, os agentes humanos interagem entre si, com os agentes artificiais e vice-versa”, explica Bittencourt. É a evolução da conexão das informações, das pessoas e do conhecimento. Em suma, o futuro é a conexão da inteligência. Para a educação particularmente, esse cenário de web 3.0, que está ainda mais distante do que a web 2.0 das salas de aulas convencionais e verticalizadas, representa uma mudança total de paradigmas.

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