Os jovens que “já nasceram conectados”, como gostam de exagerar os estudiosos da geração digital, são os mesmos que cresceram vendo a questão ambiental ganhar espaço de destaque nos debates da sociedade. Os jovens que, nos anos 90, já mergulhavam no universo da internet e desvendavam com muito mais desenvoltura do que os seus pais as possibilidades das novas tecnologias são os mesmos que cresceram assistindo às convenções/conferências de meio ambiente, como ECO-92 e Bali-2007, ganharem respeito das organizações importantes da sociedade e começarem a contar com a participação dos chefes de Estados, os quais enxergaram que não seria mais possível adiar ações que tivessem a preservação ambiental como meta. Natural que esses jovens, ao se envolverem no debate das questões ambientais, o façam com auxílio das tecnologias que eles tanto dominam.

 

Se em 1992, quando a conferência no Rio aconteceu, o protagonismo juvenil não pôde ser levado aos quatro cantos do mundo – o espaço nos veículos de comunicação era reservado, prioritariamente, aos mais de 170 chefes de Estado que estiveram presentes no evento e aos grandes grupos de ativistas -, hoje as ações dos jovens ecoam em blogs, redes sociais, Ning, Youtube, microblogs etc.

 

Depoimento de adolescente de 13 anos durante a Eco-92

 

Quantas vezes, em um único minuto, a canadense Severn Suzuki, que aos 13 anos fez um apelo emocionante na Eco-92 (assista ao vídeo ao lado), não teria tido o seu vídeo, agora postado no Youtube, retuitado se o seu discurso fosse feito hoje?

 

No portal da Rejuma (Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade) não faltam exemplos de como o protagonismo juvenil pode “crescer e aparecer” com a tecnologia. Há exemplos também de como a recorrente falta de renda fixa dos adolescentes (muitos ainda não trabalham e não dispõem de dinheiro para viajar com frequência para eventos) deixou de ser obstáculo para que eles possam se reunir e se organizar para soltar o verbo.

 

Virtualmente, os jovens já tiram isso de letra e ainda divulgam ações locais que podem circular o mundo. Um dos blogs cujo endereço está cadastrado no portal Rejuma, o Coletivo Jovem Pará, anuncia o “Seminário Mudanças Climáticas e Suas Implicações na Amazônia”, a ser realizado no final deste mês. Abaixo do título, o texto explica: “O evento é uma iniciativa do ‘Coletivo Jovem de Meio Ambiente Pará’ e está inscrito como uma das ações da campanha TicTac”.

 

 

A Campanha Global de Ações pelo Clima (GCCA-BR), batizada de Campanha TicTacTicTac, uma aliança de ONGs, sindicatos e pessoas que objetivam mobilizar a opinião pública para reivindicar metas ambiciosas dos governos no COP-15 (Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que acontecerá em dezembro), só chegou ao alcance dos jovens, aliás, graças à web. O caminho virtual foi o utilizado para que eles se apropriassem da ação. “Nós buscamos ser uma organização social metacentralizada. Ou seja, com o centro em todo lugar”, diz Diego de Itu, integrante ativo da Rejuma.

 

A Rejuma está por todo o país. A lista de blogs mostra que as cinco regiões do Brasil têm representantes da organização, que podem ser encontrados no Orkut, onde criaram comunidades, na Rede Social do grupo lançada há três meses e, ainda, na lista de discussão. A reportagem do Instituto Claro se inscreveu na lista e pôde conferir o quão ativa é. Em apenas três dias, mais de 50 e-mails trocados pelos integrantes e muitos temas interessantes abordados. Desde eleição para representantes em conferências infanto-juvenis de meio ambiente até trocas de dicas de ferramentas interessantes disponíveis na web para serem utilizadas em aulas sobre meio ambiente com crianças. Engajados na causa, os integrantes da Rejuma se voltam para as políticas públicas e mostram que os jovens podem ir muito além da formação de grupos para plantar árvores.

 

Resposta às ações
Samir Raoni, 21 anos, coordenador do movimento Jovens Ambientalistas da Amazônia, que faz parte do Programa de Protagonismo Juvenil, iniciativa da reconhecida Ong “Argonautas Ambientalistas da Amazônia”, também mergulhou, desde a adolescência, na causa. Mantém blog, abastece o site do projeto com notícias e se comunica diariamente com outros ativistas pela web.

 

Como está definido no perfil do blog, os “Jovens Ambientalistas da Amazônia” são arte educadores, poetas e todos vivenciadores de realidades que buscam uma relação ecologicamente sustentável em uma sociedade tão fragmentada. Raoni destaca que um dos benefícios da rede para o movimento é sua eficácia na mobilização. “Quando organizamos a semana da Água Amazônica, há alguns anos, aqui no Pará, mobilizamos muitas instituições e pessoas, mas não sabíamos o que a população pensava sobre o que fazíamos. O retorno era pequeno. Hoje, nos espaços virtuais, esse retorno é rápido, e nos leva aos aperfeiçoamentos.”

 

O retorno, quase instantâneo, fascina os jovens e faz com que eles discutam qualquer assunto, mesmo os mais “sérios”, em ambientes virtuais. Desprovidos dos receios comuns às gerações anteriores, encaram com naturalidade a tomadas de decisão também on-line. Diego de Itu lembra do susto que uma diretora da Secretaria Estadual de Educação levou ao saber que, durante a organização de um encontro estadual de meio ambiente, na qual a Rejuma estava inserida, o grupo debatia todos os aspectos em um fórum aberto.

 

“A maneira de manter o coletivo na internet é confiando mesmo”, diz o ativista Diego de Itu, cientista social pela USP. O ambiente da web 2.0, com suas possibilidades, favorece a filosofia adotada pelos que defendem a troca do exercício de políticas públicas. “Sem trabalhar em rede, nada vai para frente”, sentencia.

 

Ciberativismo
Essa organização na rede, a capacidade de produzir conteúdo em defesa de uma determinada causa, fazê-lo circular pela web e o esforço despendido para mobilizar novos “atores” para questões importantes para a sociedade a partir de contatos virtuais chama-se ciberativismo. No YouTube, diversos vídeos carregam essa palavra em seus título e, ao serem acessados, tratam das mais variadas causas, não se restringindo à ambiental.

 

 

Para potencializar essa produção, há organizações jovens que estimulam as oficinas visando o “videoativismo”, uma das formas de expressão do ciberativismo. O comunicador cearense Leonardo Ferreira, 25, não faz parte de nenhum movimento, mas recentemente ministrou oficinas de audiovisual para integrantes da Rejuma que atuam em Fortaleza. “Eles queriam aprender a fazer vídeos já para campanhas que estão articulando relacionadas à Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que acontecerá na Dinamarca”, disse. Na web também existe uma rede ning “batizada” Ciberativismo. É uma comunidade aberta, que não foi criada por jovens, mas também muito frequentada por eles (ver endereço no box ao lado).

 

O Greenpeace, ainda nos anos 90, foi um dos pioneiros do ciberativismo, convocando os internautas a participarem, dentre outras ações, de abaixo-assinados que defendiam providências a serem tomadas em relação ao meio ambiente. Hoje, a organização tem uma página específica para esse tipo de ação em seu portal (veja aqui). O modelo foi copiado por organizações juvenis, que fazem o mesmo. No blog da Juventude Terra Azul, está publicado, desde julho, o “abaixo-assinado das Juventudes sobre Mudanças Climáticas”, o qual deve ser encaminhado ao governo brasileiro até dezembro.


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