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“Estamos vivendo uma esperada revolução.” As palavras são da psicóloga Rosa Maria Farah, professora da Faculdade de Psicologia da PUC-SP e coordenadora do Núcleo de Pesquisas de Psicologia em Informática (NPPI). Segundo a profissional, a dinâmica na sala de aula permanecia a mesma há muitas gerações: carteiras, lousas e giz. Porém, agora, os próprios alunos estão levando seus equipamentos de uso pessoal para a escola, e o fenômeno ocorre em todas as faixas sociais. Há os professores que procuram integrar essa nova realidade ao ensino e há os que a evitam, tentando coibi-la em seu território. Os adeptos enxergam aí a oportunidade de diminuir o contraste que existe entre a vida cotidiana moderna dos estudantes e um sistema educacional que pouco se alterou nas últimas décadas. “Os alunos são nativos digitais e buscam autonomia, colaboração, velocidade e customização, entre outros aspectos que devem compor a sala de aula contemporânea”, afirma Tadeu Terra, diretor de Mídias e Conteúdos Digitais da Pearson Brasil (detentora dos sistemas de ensino COC, Dom Bosco e Pueri Domus).

A bola da vez dessa revolução é o tablet, um dos melhores exemplos de como aproximar o sistema escolar da vida dos alunos. Possibilita aulas mais criativas e interessantes, é facilmente manuseado e seu uso é intuitivo. A tela, sensível ao toque, possibilita interatividade. É possível adaptar o conteúdo curricular ao dispositivo, potencializando seus efeitos por meio de imagens ricas e dinâmicas, games, animações e vídeos. “A grande vantagem é a portabilidade: o aluno leva para onde for e acessa a internet de praticamente qualquer lugar”, destaca Ricardo Falco, diretor do Integral, escola de Campinas (SP) que, no início de 2011, distribuiu iPads aos 50 estudantes matriculados em seu curso pré-vestibular.

Mas ainda há um caminho a ser percorrido. Segundo Francisco Ferreira, diretor do Ensino Fundamental e Médio da Escola Viva, em São Paulo, a oferta de conteúdo curricular para os tablets ainda é baixa. A maior parte dos aplicativos é em inglês. Existe a questão de direitos autorais dos materiais didáticos para novas mídias. O que é usado atualmente, em sua maioria, é conteúdo próprio criado pela escola ou sistema de ensino, como no caso da Pearson. Os colégios ainda estão iniciando nesse novo mundo. Muitos deles, em um primeiro estágio, ofereceram os aparelhos aos professores para que se familiarizassem e entendessem suas possibilidades para, em um segundo momento, iniciar a adaptação de alguns conteúdos.

Capacitar é preciso

É, sem dúvida, um grande desafio a educadores e professores, uma vez que para fazer bom uso de aparelhos e ferramentas, é preciso domínio técnico.  Nesse sentido, saem na frente as escolas que investem em formação. No Integral, os professores foram capacitados antes do início do ano letivo. A direção estabeleceu as diretrizes (determinou, por exemplo, que as apresentações das aulas tivessem versão em pdf para serem lidas nos tablets) e treinou os docentes em alguns aplicativos que seriam instalados nos aparelhos dados aos alunos. “O resultado foi muito bom. No ano que vem, vamos fazer o mesmo para todos os níveis de ensino”, afirma Falco. A escola tem quatro unidades em Campinas e cerca de 1.500 alunos no Infantil, Fundamental e Médio, além do Cursinho.

O Ministério da Educação (MEC) ainda está preparando sua política para a área, mas já deu sinais de que aposta na tendência. O ministro Fernando Haddad anunciou, em setembro, que em 2012 o governo federal começaria a distribuir tablets para escolas públicas. “Nós estamos investindo em conteúdos digitais educacionais”, disse na ocasião. “Precisamos, agora, dar um salto com os tablets. Mas temos que fazer isso de maneira a fortalecer a indústria, os autores, as editoras.” Estas, aliás, estão dando seus primeiros passos no setor – nada de espantar, considerando que o modelo mais vendido, o iPad, começou a ser comercializado no Brasil apenas em dezembro de 2010.

“Há vários aspectos técnicos, operacionais e jurídicos a analisar, de modo que as editoras possam produzir conteúdo digital de qualidade a ser efetivamente utilizado pelos professores e alunos com os devidos cuidados em relação ao direto autoral e à segurança contra a pirataria digital”, afirma Beatriz Grellet, gerente executiva da Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros).

Na Editora Moderna, líder no segmento de livros didáticos, a estratégia inicial foi vincular o conteúdo para tablet a um produto já existente, o Moderna Plus, coleção que traz recursos multimídia complementares ao livro impresso. Antes, o material extra ficava abrigado num site; agora, também em aplicativos para sistemas operacionais iOS (iPad) e Android (Galaxy, Motorola e outros). “Os alunos e os professores continuam tendo acesso ao Portal Moderna Plus, que possui recursos multimídia, simuladores, informações sobre o Enem e vestibulares”, afirma o diretor de Marketing e Serviços Educacionais da empresa, Miguel Thompson. “Para o tablet, também foram incorporados os objetos instrucionais multimídia interativos, como vídeos, áudios e animações pertinentes ao trabalho em sala de aula, que estarão disponíveis para uso off-line e serão atualizados periodicamente.”, atesta Thompson.

Ainda que o processo seja incipiente, uma coisa é clara para os especialistas: de nada adianta fornecer tablets aos alunos se o professor for esquecido no processo. De acordo com Tadeu Terra, a tecnologia pela tecnologia em si não traz resultado efetivo para a melhoria do ensino. “O que importa não é a ferramenta, mas a mudança de paradigmas no processo pedagógico. O aparelho a ser usado varia de acordo com as necessidades; portanto, antes do dispositivo, deve-se considerar a proposta pedagógica, e só então a sua adequação ao aparelho de forma a explorar os recursos disponíveis”, completa. “A tecnologia digital deve ser utilizada de maneira a contribuir efetivamente para o aprimoramento da educação, e não como simples incorporação de um modismo”, concorda Beatriz Grellet.

Mais do que nunca, o real significado do termo pedagogo – que vem do grego paidós (criança) e agogé (condução) – precisa ser aplicado. O papel do educador passa a ser, cada vez mais, o de estimular a busca do conhecimento, orientando o acesso à informação e a postura do aluno para compreensão e análise da mesma. E quanto mais próximo estiver da realidade de seus alunos, mais fácil será fazê-lo.

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