Uma revolução está em curso no ensino. O modelo tradicional das escolas e universidades, segmentado em disciplinas, foi posto em questão e, agora, cada vez mais educadores defendem que é preciso reconectar as matérias para promover uma educação integrada. Os termos ligados a essa mudança são muitos e podem confundir: interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, pluridisciplinaridade etc. são conceitos diferentes, mas todos dizem respeito a uma mesma tendência, a reconstrução das pontes que unem as diferentes áreas do conhecimento.

TRANS- MULTI- INTER- PLURI-…?

♦ Multidisciplinaridade — Diz respeito a um conjunto de disciplinas trabalhadas simultaneamente, mas sem que sejam feitas relações entre elas ou que uma enriqueça a outra. Isto é, na aula de história, estuda-se a Idade Média; em matemática, logaritmos e assim por diante, separadamente. O modelo de ensino atual pode ser considerado multidisciplinar.

♦ Pluridisciplinaridade — Trata-se do estudo de um objeto de uma disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo. Por exemplo, o monte Fuji pode ser estudado pela geografia, pela geometria, pela história da arte etc.

♦ Interdisciplinaridade — É a articulação entre as disciplinas, para compartilhar não só informações como métodos e fundamentos. O objetivo da interdisciplinaridade é acompanhar a globalização e resistir à especialização excessiva do conhecimento.

♦ Transdisciplinaridade — É um princípio teórico, isto é, um conceito mais amplo que os anteriores. A transdisciplinaridade está entre, através e além das disciplinas. Em última instância, seu objetivo é a compreensão do mundo presente como um todo, superando até mesmo o conceito de disciplina.

Fontes: DIEB (Dicionário Interativo da Educação Brasileira) e Basarab Nicolescu, Manifesto da transdisciplinaridade.

Mas por que agora começamos a questionar a divisão das disciplinas? Segundo o teórico Basarab Nicolescu, a tendência é uma reação à hiperespecialização atual. “Um Pico della Mirandola é inconcebível em nossa época”, escreve em seu O manifesto da transdisciplinaridade, referindo-se ao filósofo renascentista italiano que se dedicou a praticamente todas as áreas de conhecimento de seu tempo. Hoje em dia, diz Nicolescu, a especialização se tornou tão profunda que dois estudiosos da mesma disciplina podem ter dificuldades em compreender um ao outro.

Daí a necessidade do diálogo entre as diferentes matérias; visto que “a soma dos melhores especialistas em suas especialidades não consegue gerar senão uma incompetência generalizada, pois a soma das competências não é a competência”, diz Nicolescu.

A especialização excessiva também é incapaz de acompanhar o ritmo do mundo globalizado. Para João Mattar, professor e pesquisador na área de educação e tecnologia, “o aprendizado segmentado em disciplinas não faz mais sentido em uma sociedade globalizada, baseada em rede e em que dados, informações e conhecimento estão mais disponíveis e são compartilhados”. Isso não significa, porém, que a especialização deva ser abolida: “continuamos precisando de médicos especialistas, engenheiros que conheçam melhor determinados procedimentos etc. Mas a interdisciplinaridade abre uma nova perspectiva, a de um conhecimento mais holístico”.

Essa nova concepção dá sinais de que chegou para ficar. Eventos e publicações sobre inter- e transdisciplinaridade são cada vez mais comuns, como a revista Interdisciplinaridade, do Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade (GEPI), da PUC-SP. E, em sala de aula, muitas experiências têm sido feitas no sentido de integrar as disciplinas, como o projeto Cri@tividade, da PUC-PR, que une a perspectiva interdisciplinar e as TIC, com foco na formação de professores.

E qual é o papel das TIC?

Com os avanços tecnológicos das últimas décadas, as TIC passaram a ocupar um lugar central na sociedade, aumentando a capacidade de comunicação em escala global. Como afirma o professor João Mattar, a sociedade em rede só se tornou possível após o desenvolvimento da internet – e é esse mesmo mundo conectado que agora busca conectar os diversos campos de conhecimento. De certa forma, podemos dizer que uma das causas do interesse nos conceitos ligados à interdisciplinaridade é próprio o desenvolvimento das TIC.

Por isso mesmo, essas tecnologias são boas aliadas de quem deseja experimentar e fomentar o ensino interdisciplinar e a transdisciplinaridade de maneira geral. “As TIC são essenciais nesse processo, porque permitem tanto encontrar informações com mais facilidade quanto compartilhar resultados de pesquisa, inquietações etc.”, diz Mattar. “As TIC são a base desse conhecimento planetário em rede”.

Portanto, é importante aproveitar todos os recursos disponíveis. Como explicam Clara Gurski, Dilmeire Vosgerau e Elizete Matos, do projeto Cri@tividade, “o professor necessita ousar, romper barreiras, propor metodologias inovadoras utilizando-se da rede informatizada como sua aliada no processo de ensino-aprendizagem”. Nicolescu, por sua vez, aconselha a criação de oficinas de pesquisa transdisciplinar em cada instituição de ensino, “cujos membros mudem com o decorrer do tempo e que agrupe educadores e educandos dessa instituição”. Os caminhos são muitos, e é importante lembrar que o trabalho interdisciplinar é contínuo, pois deve estimular a educação permanente.

Confira outras dicas para promover a interdisciplinaridade no ensino:

Como adotar a interdisciplinaridade?

♦ Comece com projetos — Desenvolva projetos com alunos (e colegas professores) que estimulem a integração de diversas disciplinas. Comece com projetos de curta duração e amplie aos poucos. Por exemplo, resolver um problema real da escola com uma abordagem interdisciplinar.

 O conhecimento é um só — Apesar de trabalhar com diversas áreas de estudo, a postura interdisciplinaridade considera o saber como unidade, não como conjunto de fragmentos.

♦ Ensino é pesquisa — O objetivo da transdisciplinaridade é o aprendizado permanente. Portanto, é preciso considerar o ensino também como pesquisa interdisciplinar, não como transmissão de informações.

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