Atuando no Brasil desde 2008, o REA vem promovendo discussões e disseminando experiências e resultados do compartilhamento de conteúdos educacionais mundo afora. O seminário mais recente reuniu políticos relacionados à iniciativa da secretaria municipal, educadores, pesquisadores e interessados em geral que discutiram o tema e divulgaram experiências que têm como princípio as licenças livres.
Para Sérgio Amadeu, ativista do software livre e integrante no evento da mesa “Material didático na internet: direito à educação, licenças flexíveis e formatos livres”, a iniciativa de São Paulo deve servir de exemplo para outras administrações, mas ainda há evoluções a serem feitas no formato. “Neste primeiro momento, teremos acesso aos conteúdos em formato PDF, que não são remixáveis, e este não é o ideal”, pontuou.
Esta restrição, destacada por Amadeu, impede que os usuários modifiquem o conteúdo. As instituições ou pessoas físicas interessadas no material didático da Secretaria Municipal de Educação, que contém inclusive guias de estudo e planos de aula, podem utilizá-lo sem qualquer ônus e ainda criar obras derivadas, desde que não tenham fins comerciais e que apresentem os créditos da obra original.
Democratização x tradição
Giulliana Bianconi
John Wilbanks falou sobre como a inovação depende da livre circulação do conhecimento
Representante do Creative Commons no seminário promovido pelo REA-Brasil, John Wilbanks falou sobre como a inovação depende da livre circulação do conhecimento, que é potencializada com as licenças livres. “Para incrementar uma ideia, precisamos criar, remixar partes por partes, mas como incrementar em ‘sistemas’ ou licenças ‘fechadas’?” Wilbanks defende que a democratização do conhecimento é o principal impacto da cultura digital na educação. Entretanto, afirma, há dificuldades por causa do apreço exacerbado à tradição. “Aqui no Brasil, assim como vejo nos Estados Unidos, ainda existe a leitura: ‘este aluno é tão bom que estuda em Harvard’ ou ‘ele é muito preparado porque estuda na USP’. O que a cultura digital, com as licenças livres, permite é que todos tenham acesso aos bons conteúdos e possam estudar, pesquisar e ter o mesmo grau de conhecimento.”
Escola e Universidades como espaço para a formação crítica
Mestre em educação pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e doutor em comunicação pela Universidade de São Paulo, o professor Nelson Pretto destaca que as instituições não devem enxergar as iniciativas que privilegiam o compartilhamento de conteúdos como ameaças a sua atuação. “O que as escolas precisam perceber, falo daquelas que ainda não o fazem, é que na cultura digital elas não são ‘a’ fonte de informação, mas sim o espaço de cultura e criação.”
A mudança, destaca Pretto, também atinge em cheio a atuação do professor. “É preciso resgatar a função intelectual e ativista do educador. Eu diria que falamos de um professor ‘hacker’”, compara.
O pesquisador levou ao debate um recente caso polêmico para exemplificar o seu ponto de vista. “Se temos um livro didático cujo resultado de ‘10 – 7 = 4’, isso para mim não é um problema gigante. Problema será se, dentro de sala de aula, o professor não souber conduzir a sua aula, apontar aquele erro e ensinar o correto”, disse, defendendo a postura crítica diante de situações online ou offline.
Pretto, que atua como conselheiro titular do Conselho de Cultura do Estado da Bahia, revelou que está trabalhando em parceria com órgãos públicos em novos projetos voltados à educação e afirmou que a ideia de inclusão e de democratização do conhecimento é horizontal a todos eles. Durante o evento, iniciativas foram apresentadas como exemplos, no Brasil, de compartilhamento de conteúdo. O projeto Folhas e o bloco da Unicamp, composto pela Biblioteca Digital Unicamp, pelo portal Câmera e pelo recém-lançado Open CourseWare Unicamp, marcaram presença.
Veja abaixo a apresentação do Rea no seminário