“Quando o professor tenta ensinar é que começam os problemas do aprendizado”. Com essa frase, a professora Lea Fagundes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, resumiu algumas de suas reflexões durante palestra que proferiu na Interdidática, em São Paulo, no início de abril. A conversa, direcionada pelo tema “Ensino por Projetos e Aprendizagem por Projetos”, teve como foco as dificuldades dos sistemas atuais de aprendizagem e os possíveis modos de superação.

Lea refletiu sobre o quanto os métodos de ensino mais usados atualmente dependem da homogeneidade para serem aplicados. Os alunos são confinados sempre com outros da mesma idade e são submetidos aos mesmos conteúdos. Têm de fazer trabalhos sobre os mesmos temas e, de preferência, chegar a resultados parecidos para não dar muito trabalho para os professores.

Como explicou Lea, essa mentalidade de cumprimento de metas usada hoje no ensino tem muitas raízes em mecanismos desenvolvidos durante a II Guerra Mundial. “Isso significou muito avanço técnico, mas o problema da homogeneidade é herdado daí.” Na relação dessa herança tecnológica com o tempo atual, a professora é bastante otimista. “Enquanto a cultura analógica expandiu os poderes braçais do homem, a digital tende a expandir os poderes intelectuais”.

Mundo afora
Lea explicou que os problemas enfrentados para avançar o aprendizado não são uma exclusividade nossa. “Nos outros países é igualzinho ao Brasil, pois os conteúdos têm de ser ensinados”, afirmou, ao falar sobre os desafios essenciais que precisam ser superados. “Enquanto para as crianças o mundo é todo misturado, rico, cheio de ligações, na escola elas são obrigadas a se moldarem à estrutura atual das disciplinas, na qual os conhecimentos não dialogam e as disciplinas estão distantes da realidade”, afirmou.

Experiência coletiva
Para que os presentes no seminário pudessem refletir sobre o aprendizado e o conhecimento, Lea pediu a todos os presentes que fechassem os olhos e lembrassem de uma bicicleta. Fez-se o silêncio no auditório e, um minuto depois, a educadora pediu: “Agora podem abrir os olhos, peguem uma folha de papel e desenhem as suas lembranças.”

A grande surpresa se deu quando, depois de desenhadas as bicicletas, a professora pediu para os participantes citarem os conceitos presentes na ideia de bicicleta. Quando as pessoas começam a enumerar coisas como freios, guidão, correntes e pedais, o auditório caiu na risada. Isso porque quase ninguém desenha a bicicleta inteira, com todas as suas peças. Houve quem desenhou a bicicleta sem pedais e quem ligou as rodas de trás às da frente por meio das correntes.

A brincadeira serviu para discutir as imagens mentais, que são a base de tudo o que conhecemos. E lembrou que grande parte desse conhecimento se constrói por meio da experiência direta, passando para uma imagem mental, para só depois se converter em palavra. “Que conhecimento vamos ensinar para os alunos se não sabemos como se forma o conhecimento?”, perguntou a educadora, que indicou a necessidade de nos aproximarmos de disciplinas como a epistemologia genética, que estuda como o conhecimento se desenvolve nos seres humanos.

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