As relações ecológicas são as interações entre os seres vivos em um ecossistema. Elas podem ocorrer entre indivíduos da mesma espécie (intraespecíficas) ou de espécies diferentes (interespecíficas), como ensina a bióloga Milene Martins da Silva Nascimento. Esse conteúdo é comumente abordado no sétimo ano do ensino fundamental, dentro da unidade temática “vida e evolução”, e no ensino médio, em ecologia. Em ambos os casos, o tema pode ser explorado durante uma visita a um parque urbano, permitindo que os estudantes observem diretamente essas interações ecológicas.
“Uma visita com foco nos seres vivos e nas condições ambientais nos parques direciona o olhar dos estudantes para interpretar as relações que acontecem simultaneamente, muitas vezes sem que percebamos, mas que interferem diretamente nas nossas vidas”, explica a educadora ambiental e analista pedagógica Gracieli Dall Ostro Persich.
Antes da atividade, Nascimento sugere que os conceitos relacionados às relações ecológicas sejam explicados e que os alunos saibam o que observar e registrar. “Também é necessário considerar os riscos que o ambiente pode trazer aos alunos durante a visita”, reforça.
Persich orienta que o professor conheça o parque previamente, elabore um mapa com os estudantes e use perguntas exploratórias durante a exploração, como: “Qual é a relação entre as abelhas e as flores?”, “Como isso afeta a sobrevivência da espécie humana?”, “Quais relações entre seres vivos vocês observam ao redor?”.
No parque, os estudantes podem observar em silêncio, coletar materiais orgânicos e registrar as relações ecológicas por fotos ou desenhos. A seguir, conheça 14 exemplos de relações ecológicas que podem ser observadas com os alunos no parque.
Interações intraespecíficas
Ocorrem entre indivíduos da mesma espécie, como a competição entre dois pássaros por uma larva de inseto ou formigas trabalhando juntas em um formigueiro.
Interações interespecíficas
Envolvem indivíduos de espécies diferentes, como o exemplo de um beija-flor retirando o pólen de uma flor, como menciona Nascimento.
Comensalismo
É a relação em que uma espécie se beneficia e a outra não é nem beneficiada nem prejudicada. “Quando pessoas, pássaros ou larvas se alimentam de frutas de árvores como goiaba, pitanga ou carambola sem prejudicá-las, essa relação pode ser classificada como comensalismo”, afirma Persich.
Protocooperação
É uma relação ecológica em que duas espécies diferentes se beneficiam mutuamente, mas sem ser essencial para a sobrevivência de nenhuma das partes. “Se o animal ajuda a espalhar sementes, temos um caso de protocooperação”, ilustra Persich.
Predatismo
Quando um organismo (predador) mata e se alimenta de outro (presa). “Por exemplo, quando um pássaro ou sapo se alimenta de um inseto”, informa Nascimento.
Inquilinismo
É uma relação ecológica em que uma espécie vive dentro ou sobre outra sem prejudicá-la, usando-a apenas como abrigo. “Como as plantas epífitas (bromélias ou orquídeas) que se fixam em cima de árvores de grande porte para alcançar melhor luminosidade, beneficiando-se dessa condição ambiental sem prejudicar a árvore”, exemplifica Persich.
Mutualismo
É uma relação ecológica em que duas espécies diferentes se beneficiam mutuamente da convivência. “A abelha precisa do néctar da planta para se alimentar e a planta precisa que a abelha leve seus grãos de pólen para que ocorra o processo de polinização”, compartilha Nascimento.
Herbívora
Espécies que se alimentam de plantas. “Pode acontecer entre lagartas, lesmas e caracóis que comem folhas, ou besouros que comem brotos de plantas”, indica Persich.
Coevolução
É um processo evolutivo em que duas ou mais espécies influenciam a evolução uma da outra. “Podemos observar o comensalismo, que é um tipo de coevolução, no caso de pássaros que usam as árvores para fazer ninhos ou beija-flores e flores com bicos alongados que facilitam o acesso ao pólen”, diferencia Persich.
Oviposição
Qualquer situação em que os estudantes consigam observar ovos, como ovos de insetos em folhas ou troncos, ou ovos de anfíbios visíveis em rochas próximas a corpos d’água, assim como os ninhos de aves”, ressalta Persich.
Decomposição
É o processo em que organismos, como fungos e bactérias, quebram a matéria orgânica morta, reciclando nutrientes para o ecossistema. “Pode-se observar as folhas caídas das árvores em solo com terra, cuja decomposição é feita principalmente por fungos e microrganismos”, afirma Persich.
Polinização
Polinização é o transporte de grãos de pólen entre uma flor e outra, realizado por insetos, vento ou animais como aves, esquilos e morcegos. “Geralmente vemos abelhas, besouros e borboletas polinizando flores durante o dia em parques, mas é preciso que as plantas tenham flores abertas no momento para observar esse processo”, explica Persich.
Dispersão de sementes
“Pode ser evidenciada por fezes de animais no solo com sementes, geralmente de aves e alguns mamíferos que se alimentam de frutas, como roedores, gambás, antas, muriquis, bugios”, lista Persich.
Sociedade
Sociedade é uma relação ecológica intraespecífica em que indivíduos da mesma espécie vivem juntos, com divisão de trabalho e cooperação. “Os alunos podem ver as formigas trabalhando juntas em equipe, carregando seu alimento”, aponta Nascimento.
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