Publicado em
26 de outubro de 2017
O relatório “Education at a Glance” 2017, divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apontou o Brasil como um dos países com menos matrículas no ensino profissionalizante. Segundo o documento, apenas 9% dos estudantes brasileiros cursam esta modalidade, contra uma média de 25% de outras nações latino-americanas, como Chile, Colômbia, Costa Rica e México.
A meta 11 do Plano Nacional de Educação (PNE) tem como objetivo, justamente, triplicar o número de matrículas no Ensino Médio técnico até o fim da sua regência (2014-2024). Contudo, para a pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro do Observatório do Ensino Médio, Monica Ribeiro da Silva, apenas o aumento das matrículas não é garantia do sucesso da modalidade. Para ela, é necessário um olhar cuidadoso sobre as causas da evasão no ensino profissionalizante.
“Um exemplo é a atual reforma do Ensino Médio. Pode ser que ela, num primeiro momento, estimule o aumento das matrículas. Contudo, as escolas não são obrigadas a oferecem todos os cursos, e o aluno pode não encontrar a ênfase que gostaria na unidade próxima à sua casa, sendo obrigado a escolher a única oferecida”, pontua.
Além disso, a reforma não muda a estrutura física da escola, não garante a qualificação de professores e ignora o Ensino Médio noturno – que, atualmente, abriga um terço das matrículas de toda esta etapa de ensino e acolhe alunos com necessidades de aliar trabalho e estudos. “Ou seja, além de não oferecer políticas de permanência do aluno, ela estimula diretamente fatores relacionados à evasão escolar. Em outras palavras, ela aumentará as matrículas, mas de cursos precarizados”, contextualiza.
Busca ativa
Educador e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), João Bosco Laudares pesquisou a evasão escolar no Ensino Médio Profissionalizante de seu estado. Ele aponta um alto abandono da escola pelos estudantes na passagem do primeiro para o segundo ano.
“Uma das razões é a falta de conhecimento adquirido no Ensino Fundamental. O aluno chega ao ensino técnico com uma carga alta de Matemática e Física, a qual não consegue acompanhar. Ele até se segura no primeiro ano, mas desiste na sequência”, destaca.
Outro fator para a desistência são as condições socioeconômicas, principalmente relacionadas à necessidade de trabalhar para manter os estudos e à dificuldade de descolamento. “Não raro, o Ensino Médio técnico está em outro município, o que obriga o aluno a se deslocar diariamente entre 15 a 20 quilômetros”, revela. “No caso ainda do Ensino Médio noturno, no qual a maioria dos alunos trabalha, não há tempo para esse estudante voltar para casa, tomar banho, descansar e alimentar-se adequadamente antes de iniciar as aulas”, complementa.
Tanto para Laudares quanto para Silva, a solução para combater a evasão escolar no Ensino Médio profissionalizante passa por políticas públicas para atender jovens vulneráveis.
“O abandono ainda é visto como uma questão individual do aluno, não como um problema que atinge toda uma camada e que necessita de políticas educacionais específicas”, aponta a docente. “Infelizmente, o que temos são ações pontuais de escolas ou de gestões, mas não políticas com continuidade e abrangência”, alerta.
Uma segunda solução seria a busca ativa dos estudantes que estão matriculados, mas não frequentam as aulas. A ação ajudaria a diagnosticar os motivos que levam os estudantes daquela escola, especificamente, a não conseguirem permanecer na escola.
“Depois de identificar as causas, pode-se pensar em soluções para a permanência desses alunos”, diz Laudares. “A busca ativa é uma forma da escola também assumir a questão da evasão para si, ao invés de entendê-la como uma dificuldade de cada estudante”, completa.
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