A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é parte importante da prova e aborda questões alinhadas aos desafios da sociedade, incentivando os candidatos a refletir sobre problemas reais e a apresentar soluções fundamentadas. Segundo a professora de redação do Curso Anglo Daniela Toffoli, a redação do Enem avalia simultaneamente a capacidade de argumentação, pensamento crítico e escrita.
“É um texto dissertativo-argumentativo em prosa, com um tema que apresenta algum problema de teor social, político, ambiental, tecnológico ou econômico. Assim, é importante demonstrar conhecimento sobre o tema, apresentar argumentos baseados em dados, exemplos e outras referências consistentes”, descreve.
A correção da redação do Enem é realizada com base em cinco competências. “Espera-se que o candidato use adequadamente a língua portuguesa, compreenda o tema, mantenha-se focado na proposta, apresente ideias pertinentes nos limites estruturais da dissertação argumentativa, conheça os mecanismos linguísticos para construir a argumentação e, por fim, apresente uma proposta que respeite os direitos humanos”, resume Toffoli.
Temas de 2009 a 2024
Apresentar aos alunos os temas que já caíram na redação do Enem em anos anteriores ajuda o futuro candidato a entender o perfil das propostas, identificar assuntos recorrentes ligados à cidadania e aos direitos humanos e treinar a argumentação dentro dos critérios exigidos pela banca. Os últimos temas da redação do Enem foram:
- 2024: Desafios para a valorização da herança africana no Brasil
- 2023: Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil
- 2022: Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil
- 2021: A falta de empatia nas relações sociais no Brasil
- 2020: O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira
- 2019: Democratização do acesso ao cinema no Brasil
- 2018: Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet
- 2017: Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil
- 2016: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil
- 2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira
- 2014: Publicidade infantil em questão no Brasil
- 2013: Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil
- 2012: Movimento imigratório para o Brasil no século 21
- 2011: Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado
- 2010: O trabalho na construção da dignidade humana
- 2009: O indivíduo frente à ética nacional
A seguir, conheça sete possíveis temas que podem cair na prova para trabalhar nas aulas de redação com a turma.
- Regulamentação de novas tecnologias
Com uma sociedade cada vez mais dependente de redes sociais, buscadores online e inteligências artificiais, passou-se a discutir a regularização das grandes empresas de tecnologia (big techs) que detém o controle desses produtos. A falta de regulamentação pode levar à violação da privacidade e à disseminação de desinformação, afetando a democracia, a economia e os direitos humanos. “Com avanços tecnológicos rápidos, regulamentação e ética digital se tornaram fundamentais”, defende Toffoli.
- Analfabetismo no século XXI e as barreiras para uma educação plena
De cada dez pessoas, três são analfabetas digitais, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), um estudo coordenado pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social.
“Aposta-se nesse tema devido à importância da educação como direito fundamental e base para o desenvolvimento. Na redação, pode-se explorar barreiras socioeconômicas e políticas de educação”, acrescenta a professora.
- Desafios no enfretamento da LGBTQIAPN+fobia
O motivo da aposta é que a redação do Enem tende a propor temas que reflitam sobre a proteção e valorização de grupos em vulnerabilidade. Nos últimos anos, o exame propôs temas relacionados a pessoas com deficiência, povos originários, mulheres, crianças e população negra.
Outro dado importante é que, em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) enquadrou homofobia e transfobia como crimes de racismo por entender que houve omissão inconstitucional do Congresso Nacional ao não editar lei sobre o tema.
“A luta por direitos LGBTQIAPN+ continua central no debate social. Em aula, pode-se debater a importância da diversidade”, aponta Toffoli.
- Jornada de trabalho no Brasil
A jornada de trabalho e sua relação entre a produtividade e a qualidade de vida é um tema apontado por Toffoli como possível. Desde 2024 discute-se no Congresso Nacional e em sociedade o fim da escala 6X1, quando se trabalha seis dias seguidos e se folga no sétimo dia. Defensores da mudança destacam que a redução da jornada evitaria o esgotamento dos trabalhadores e geraria mais empregos, enquanto opositores destacam possíveis impactos negativos na economia. “Podem ser citados no texto leis trabalhistas e efeitos do excesso de trabalho na saúde mental dos trabalhadores, como no caso do burnout, e na produtividade”, afirma Toffoli.
- Excesso de uso de telas entre jovens
O excesso de tempo conectado pode contribuir para quadros de ansiedade, depressão e baixa autoestima, especialmente quando há comparação constante com padrões irreais nas redes sociais. Também pode haver prejuízos no desenvolvimento de habilidades sociais, com redução da interação presencial, dificuldade de lidar com frustrações e com a diversidade.
“Em contrapartida, não se pode ignorar os benefícios da tecnologia”, lembra a professora. “Antes da escrita, discuta o uso responsável da tecnologia e seus impactos”, recomenda.
- Violência escolar
Pode-se discutir com a turma como esse problema compromete o ambiente de aprendizado, afetando a saúde emocional de estudantes e professores; diferentes tipos de violência, como o bullying, e soluções, como investimento público em educação, programa de mediação de conflitos, ações de escuta ativa e a presença de profissionais de apoio psicológico nas instituições de ensino. “O candidato deve evitar propostas sem base em dados ou práticas testadas”, sugere Toffoli.
- O desafio da sustentabilidade ambiental nas grandes cidades brasileiras
Tofolli explica que a crescente urbanização e seus impactos ambientais tornam este tema relevante. Além disso, as cidades brasileiras já sofrem as consequências do aquecimento global, com enchentes, desmoronamentos, erosão do solo entre outros.
Segundo ainda a professora, é possível trabalhar em classe dados sobre poluição, mobilidade urbana e políticas de sustentabilidade. “Os alunos podem pesquisar práticas sustentáveis já em atividade e debater urbanização. Erros comuns são defender no texto propostas irreais ou a falta de embasamento científico”, conclui.
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