O reconto de “Os três porquinhos” pode ser usado para apresentar conceitos de química a estudantes do quinto ano do ensino fundamental, permitindo explorar as propriedades físicas dos materiais. Essa foi a proposta da professora de química Gabrielle Anália Cristiano e da doutora em ensino de ciências e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Tathiane Milaré.

A história original, de Joseph Jacobs (1854–1916), fala sobre três porquinhos que saem da casa da mãe e constroem suas casas com materiais como palha e tojo, que são facilmente destruídos pelo sopro do lobo, e de tijolos, que permanece resistente. No entanto, o gênero reconto, que permite a incorporação de novos elementos à história, possibilita explorar as propriedades e a resistência de outros materiais.

Na proposta das professoras, além de assoprar as casas, o lobo também tenta atear fogo e jogar água. “Outras ocorrências foram consideradas, como a casa estar localizada em um lugar de clima quente, muito frio ou chuvoso”, descreve Cristiano.

Criando o experimento

Para que os alunos testassem a narrativa do reconto na prática, foram realizados experimentos de variação de temperatura, de combustão e de exposição à água e ao vento. As professoras construíram com a turma casinhas de papel, madeira, parafina, plástico filme (PVC), cimento, metal, acrílico e capim seco, com dimensões de aproximadamente nove centímetros. “Criamos uma casinha de cada material diferente, mas que fosse de fácil acesso”, explica Cristiano.

O sopro do lobo foi simulado com o jato de ar frio e quente de um secador de cabelo, para checar o que aconteceria com a casa em um lugar de clima quente. Um borrifador de água foi utilizado para simular a chuva ou uma possível ação do lobo. Para representar um lugar frio, as casinhas foram colocadas no freezer — que, na escola, poderia ser substituído por uma caixa de isopor com gelo. Já o fogo ateado pelo lobo foi simulado com o uso de uma vela.

A averiguação do comportamento dos materiais em diferentes climas foi realizada por meio da medição das temperaturas internas iniciais das casinhas. “Os alunos puderam identificar quais materiais eram mais adequados para a construção das casas dos personagens em cada situação”, destaca Milaré.

Noções de química

“A partir da atividade, foi possível comparar características de diferentes materiais presentes em objetos de uso cotidiano, discutindo sua origem, os modos como são descartados e como podem ser usados de forma mais consciente”, explica Cristiano.

“Também foi possível testar e relatar transformações em materiais do dia a dia quando expostos a diferentes condições e verificar se essas mudanças são reversíveis ou não”, acrescenta.

“Além disso, exploramos fenômenos da vida cotidiana que evidenciam propriedades físicas dos materiais, como densidade, condutividade térmica e elétrica, respostas a forças magnéticas, solubilidade, respostas a forças mecânicas, entre outras”, afirma Cristiano.

“Porém, o objetivo da proposta não era que as crianças aprendessem conceitos, mas que construíssem uma noção sobre propriedades dos materiais e transformações químicas e físicas, uma vez que a sistematização conceitual de química é mais adequada e prevista para etapas posteriores”, lembra Milaré.

Segundo Cristiano, a maior dificuldade está relacionada ao tempo disponível para a atividade. “Cada aula tem duração de 50 minutos, e, considerando a participação dos estudantes e todas as etapas previstas, o professor precisa de organização e planejamento”, orienta. “Além disso, é preciso cuidado com experimentos com fogo. O professor deve ficar responsável por essa prática para garantir que ninguém se machuque”, alerta.

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Crédito da imagem: Jayesh – Getty Images

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