O stand do Projeto Barreiro, um dos 12 finalistas do Prêmio Educadores Inovadores, era o último no salão de entrada do Teatro Franco Zampari, em São Paulo, onde foi realizada a final brasileira da disputa que contou com 702 projetos inscritos por escolas de todo o país. Ainda assim, era um dos mais visitados. O professor Lucrécio Filho de Oliveira mal terminava de explicar o conceito do projeto que coordena no Tocantins e já tinha de repetir tudo novamente, pois um novo grupo de interessados o rodeava, fazia perguntas e olhava atento as fotos expostas. A curiosidade se devia pelo ineditismo de um projeto que funciona num lugar onde a simples dinâmica do dia a dia, por si só, já é curiosa para os que vivem nas grandes cidades. Ocupando um espaço de 25 milhões de metros quadrados, a Escola de Canuanã, localizada em área rural, tem a sua volta reservas indígenas e muito, muito verde. Vizinhos, tem poucos. A cidade mais próxima à escola fica a 59 quilômetros.

 

Agora, a escola terá também um troféu. Foi a campeã na categoria “Inovação Comunidade” do prêmio promovido pela Microsoft. As outras categorias, “Inovação em Colaboração”, “Inovação em Conteúdo”, “Educador Inovador-Escolas Técnicas” e “Educador Inovador” foram vencidas, respectivamente, pelos projetos Fractal Multimídia (RJ), Fontes de Energia (BA), Robótica Educacional à Luz da Pedagogia de Projetos (SP) e A Construção de Conhecimento em Ambiente Digital (RS).

 

Em comum, todos eles apresentam não somente a preocupação de utilizar a tecnologia como suporte, em vez de tê-la como produto final, mas também de promover a colaboração na comunidade escolar, envolvendo alunos e professores em tarefas onde a troca de informação e de conhecimento é fundamental. O projeto Barreiro, entretanto, vai além. Envolve alunos, professores, outros funcionários da escola e os pais dos estudantes. O objetivo traçado, que já vem sendo consolidado com sucesso, foi desenvolver soluções para o lixo produzido pela comunidade, que se acumulava em montes, já que a coleta sistemática não faz parte da realidade das pessoas que moram “ali” próximo ao Rio Javaé, no município de Formoso do Araguaia, a 250 km da capital Palmas.

 

Isoladas? Nem tanto. A internet na escola que integra a rede Fundação Bradesco e funciona em sistema de internato (são 916 alunos acomodados nas dependências) permitiu as primeiras pesquisas sobre tratamento de lixo. A troca de informações entre professores de diversas disciplinas e os integrantes da comunidade, somada às pesquisas dos alunos, deu origem à ideia de um miniaterro sanitário. Com autoridade, o professor Lucrécio Filho, que se adianta em dizer que ele atualmente é também coordenador de educação ambiental, explica: “Aterro sanitário é obra de engenharia, mas miniaterro, não”.

 

O lixo, antes um problema, agora tem destino. Mais que isso. Tem uma função. Depois da coleta seletiva e da produção da compostagem, o lixo preenche parte dos buracos cavados pelos integrantes do projeto, que alternam aquele material com camadas de terra. O trabalho é finalizado com esterco animal e, em seguida, é feito o plantio de mudas de bananeira. Mas não acaba por aí o processo que foi iniciado com as pesquisas na web. As descobertas feitas pelos alunos são levadas novamente ao ambiente virtual e ali compartilhadas com todos.

 

Metodologias que se encontram
Mesmo numa área rural, erma, distante de um grande centro, a metodologia utilizada no Projeto Barreiro é fomentada sobre os mesmo pilares em que estão os outros projetos vitoriosos na premiação. Em palestra ministrada no evento, o professor Eduardo Chaves destacou quais são esses pilares que devem estar sob as práticas que envolvem a Tecnologia da Informação e Comunicação nos processos de ensino e aprendizagem: Gerenciamento (organização/armazenamento de informações); análise (avaliação inicial do que será realizado), compartilhamento (troca de informações); discussão (avaliação profunda de informações) e colaboração (tomada de decisão, planejamento, coordenação da ação para encontrar respostas para perguntas e soluções para problemas).

 

Maíra Soares

Professora Terezinha Motter foi um dos vencedores com o projeto
“A Construção de Conhecimento em Ambiente Digital”

 

A professora Terezinha Motter, que arrebatou com o Instituto Estadual de Educação Cristovão de Mendoza (RS) o prêmio da categoria “Educador Inovador”, ressaltou um ponto que vem se tornando consenso entre aqueles que pregam uma educação horizontal. Ela afirmou que esse gerenciamento ao qual o professor Eduardo Chaves se refere tem de ser feito a partir dos questionamentos dos alunos. O ponto de partida tem de ser algo que interessa a eles.

 

“Nessa busca, os conteúdos escolares vão aparecendo sem que sejam determinadas as disciplinas”, diz Terezinha. No ano passado, com o mesmo projeto, ela havia sido vencedora do prêmio Professores do Brasil, promovido pelo Ministério da Educação. O projeto “A Construção de Conhecimento em Ambiente Digital” tem como proposta orientar futuros professores a utilizarem metodologia de processo de aprendizagem combinada com Tecnologia de Informação e Comunicação (TICs) em atividades com crianças de séries iniciais do ensino fundamental. “Projeto de aprendizagem difere de projeto de ensino porque a escolha do aluno pesa nesse processo”, afirma a professora.

 

 

A disputa segue
Os vencedores do Prêmio Educadores Inovadores nas categorias “Inovação Conteúdo”, “Inovação Comunidade”, “Inovação Colaboração” e “Educador Inovador” seguem para a etapa regional, em setembro, na Argentina. Se obtiverem a classificação para a final mundial, decidem o almejado título com os concorrentes internacionais no fórum mundial sobre educação que a Microsoft promoverá em novembro na cidade de Salvador.

 

Este será o primeiro ano em que a grande final acontecerá em solo tupiniquim. Segundo Emílio Munaro, Diretor de Educação da Microsoft no Brasil, o país concorreu com outros 11 países e foi à decisão da candidatura com a África do Sul e a Turquia. Ele afirma que a intenção é fazer um evento que integre os “três ‘E’s”: Escola, Estudante e Educador. “Pensamos num número de 450 participantes de 75 países diferentes”, calcula Munaro.

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