O professor é considerado um empreendedor quando usa a criatividade, tem boas ideias, trabalha no desenvolvimento de projetos multidisciplinares e busca desenvolver o engajamento da comunidade educativa para melhorar a aprendizagem e o contexto educacional no qual está inserido. Quando não desperta para isso ou esmorece diante das já conhecidas dificuldades encontradas no sistema de ensino tradicional e nas instituições ainda carentes de recursos e metodologias inovadoras, mesmo sem se dar conta, termina por estimular os alunos a seguirem um caminho padrão.
Divulgação
O professor Giovanni Mesquita busca envolver os alunos com ideias inovadoras
Atitudes empreendedoras podem promover mudanças não só nos ambientes de ensino e aprendizagem, mas também na sociedade. Ao ajudar a formar alunos mais autônomos, proativos e interessados, estão contribuindo para que esses estudantes tenham também um melhor desempenho profissional e pessoal. “A maioria dos alunos chega aos cursos de nível superior com expectativa de se formar e conseguir um emprego, poucos têm visão empreendedora, postura ousada ou acreditam que as próprias ideias podem se tornar o seu negócio, pois não foram incentivados a isso”, ressalta Márcio Bambirra, mestre em economia pela UFMG e professor no Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais). Para ele, o próprio modelo de ensino muitas vezes engessa o trabalho do educador e que cabe a todos mudar essa realidade.
Bambirra, que tem um pé nas empresas e outro nas universidades, conta que seu trabalho é reverter esse “gap” entre jovens e o empreendedorismo, com projetos que sempre envolvem as TICs. Mas, se for crescente o número de professores do ensino médio ou fundamental com o perfil dos educadores que responderam à enquete do Instituto Claro ou de atitudes semelhantes às de Dulcinéia Ribeiro e Giovanni Mesquita, cujas histórias estão nesta reportagem, a tendência é que os estudantes cheguem cada vez mais preparados ao ensino superior.
Transformando a comunidade escolar
Inserida na realidade das escolas públicas desde a década de 1990, Dulcinéia preferiu arregaçar as mangas a engrossar o coro dos que reclamam da falta de recurso ou estrutura. A descoberta da sua face empreendedora, em 2009, quando ela decidiu aplicar em um projeto de vídeo-documentário os conhecimentos adquiridos em curso de especialização realizado no Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação(Lantec/Unicamp), marcou o início de uma nova forma de atuação desta professora de biologia.
Instituto Claro
Dulcinéia Ribeiro na Escola Castinauta, em Campinas, onde é coordenadora
“Depois deste vídeo, realizado pelos estudantes da Escola Estadual Trinta e Um de Março, a relação entre alunos e professores passou a ser muito mais de parceria, com mais respeito e atenção. Os alunos se sentiram valorizados e motivados”, conta Dulcinéia, hoje coordenadora de ensino médio. A ascensão na carreira tem a ver com o vídeo que narra a história do Bairro Santa Mônica –com muitos problemas sociais– onde fica a escola. O documentário, construído de forma multidisciplinar, com professores de português e história, foi reconhecido por um prêmio nacional da Microsoft voltado a professores que inovam e fez com que os integrantes da escola sentissem orgulho de ali estudar. Ao concorrer ao cargo que hoje ocupa na Escola Castinauta, Dulcinéia revelou à diretoria outros projetos que pretende desenvolver em parceria com a Unicamp.
Um desses, revelou Tel Amiel, pesquisador do Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Unicamp e pós-doutorado em educação pelo Lantec, é o desenvolvimento de uma biblioteca digital com recursos educacionais abertos.
Assista ao vídeo sobre a história da Escola Estadual Trinta e Um de Março
https://youtu.be/wXLm6jTRhFU
Empreendedorismo na escola reflete desenvolvimento local
O olhar sobre o contexto da escola também é a principal motivação para o professor Giovanni Mesquita, do Ceará. Ele não fez vista grossa ao perceber que os alunos não se dedicavam com afinco às feiras de ciência e tratou de pensar em um projeto que pudesse motivá-los. O caminho foi a robótica, e o estímulo foi apresentar aos estudantes um projeto que pudesse contribuir para o desenvolvimento regional.
Na EEEP Rita Aguiar Barbosa, em Itapipoca, Mesquita envolveu estudantes do ensino médio na construção de um robô com função de esteira seletora de grãos. Além dos conhecimentos técnicos que os alunos adquiriram, o professor conta que “o mais marcante foi o protagonismo percebido nos estudantes, além de uma consciência social e respeito pelo próximo”. A iniciativa busca aliar agricultura local e robótica e vem se mostrando útil para a região.
O engajamento do professor também é maior a cada passo dado. Ele agora visa captar recursos para financiar oficinas que repliquem esse conhecimento. A captação de verba é sempre uma fase desafiadora para empreendedores, mas isso não representa exatamente um problema para educadores como Dulcinéia e Giovanni, que não sabiam quase nada sobre produção audiovisual e robótica, respectivamente, quando abraçaram projetos que, de alguma forma, promoveram transformação no ambiente educacional.