Homenageada este ano com o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação, pela Câmara dos Deputados, Débora Seabra, 34, é a primeira professora com síndrome de down do Brasil. Formada em magistério na Escola Estadual Professor Luis Antônio, em Natal (RN), com estágio na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela trabalha há mais de dez anos como auxiliar de desenvolvimento infantil na Escola Doméstica, na capital do Rio Grande do Norte.
“Eu gosto de ajudar os alunos e a ajudar a professora também. Eu recebo os planos de aula e, fora da escola, estudo com minha orientadora”, conta Débora, que é acompanhada por uma psicopedagoga no trabalho.
Os colegas de profissão são somente elogios para a dedicação de Débora aos alunos. “Ela, na escola, promove crescimento mútuos para alunos e professores”, conta a coordenadora da educação infantil da Escola Doméstica, Lucila Ramalho. “Se supera no dia a dia. Está sempre ao lado dos alunos, aproximando-se deles e dando assistência direta. Além disso, é uma ótima contadora de histórias”, destaca.
Inclusão na prática
Débora é filha da advogada Margarida Araújo Seabra de Moura e do psiquiatra José Robério Seabra de Moura. Seus pais sempre fizeram questão que ela
estudasse em escolas regulares, apesar da inclusão de alunos com síndrome de down ser pouco praticada e discutida nos anos 80.
Em sua trajetória escolar, Débora passou por algumas situações de preconceito. “Teve um caso com alunos em um determinado momento do curso de magistério. Eu não podia parar, tinha que ir à frente. O diretor pediu para eu escrever uma carta a todos relatando o que sentia com a situação. Eu escrevi e ele e alguns professores me receberam de braços abertos”, conta.
No Natal de 2010, Débora presenteou seus pais com um livro de contos escrito por ela. As histórias usavam animais para falar de tolerância e respeito – caso do sapo deficiente que não conseguia nadar ou do pato discriminado por não querer namorar patas. Os contos deram origem ao livro "Débora conta histórias", com texto de apresentação do escritor membro da Academia Brasileira de Letras, João Ubaldo Ribeiro. “Os animais não são preconceituosos, só os seres humanos que são. Pensei, então, em utilizar os animais para contar fábulas inclusivas”, explica a autora.
Para o futuro, Débora sonha em ter sua própria família e fazer teatro, uma das suas paixões. “É muito bom para fazer amigos e conhecer gente nova”, explica. Além disso, continuará ensinando na prática o que é inclusão para os seus alunos. “Nem sempre eu preciso explicar o que é ser especial. No próximo ano, alguns deles irão para uma sala onde há uma aluna com síndrome de down. Lá eles vão entender melhor”, afirma.
Débora com seus alunos da educação infantil (Foto: Câmara dos Deputados)
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