Nascido em 12 de julho de 1904, o chileno Pablo Neruda foi um dos principais poetas da América Latina, ganhando o Prêmio Nobel de Literatura em 1971. Em sua trajetória, escreveu aproximadamente 54 livros somente de poesias, além de prosa. A diversidade de assuntos e tipos de poemas torna difícil classificá-lo em relação a uma vanguarda artística.

“Ele trouxe o surrealismo, como visto em “Residência na Terra”, e aprofundou temas como amor e nostalgia, com um pouco do romantismo espanhol. Também apresentou uma estreita ligação entre poesia e política. É talvez um dos nossos escritores mais politizados”, resume o pós-doutor em letras modernas, o chileno John Lionel O´Kuinghttons Rodríguez.

Para a doutora em estudos literários, Vera Gonzaga, Neruda tem todas as características de um poeta pós-moderno, apesar de ter morrido antes do termo ser cunhado.

“O pós-moderno se caracteriza pelos fragmentos de outras vozes colados na poesia.  O autor apresenta em sua obra intersecções com William Shakespeare e Luís de Camões. Este último possui o soneto ‘Sempre a razão vencida foi de amor’ resgatado no livro de Neruda ‘Cem sonetos de amor’, no poema 54”, revela.

“O fato é que ele conseguiu escrever de poesia clássica à surrealista. ‘Livro de perguntas’, por exemplo, é meio dadaísta. E sua escrita é plural e se apresenta de várias formas: soneto, rondel, barcarola, ode, entre outras”, lista Gonzaga.

Do amor à política

Nascido Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, Pablo Neruda era filho de pai ferroviário, que se opunha a ideia dele fazer poesia. A escolha pelo seu pseudônimo ocorreu aos 17 anos de idade, em homenagem ao escritor checo Jan Neruda.

“Ele foi militante estudantil e criou um jornal no ensino médio. Diplomata, foi cônsul e viveu em diversos países do mundo, ajudando a trazer refugiados da guerra civil espanhola para o Chile”, relata Gonzaga.

Em seu país, foi eleito senador e perseguido. No exílio, morou na Itália, Chipre e fez amizade com outros escritores, como o brasileiro Jorge Amado. Apoiou a candidatura de Salvador Allende, em 1973, que sofreria um golpe militar liderado pelo chefe das Forças Armadas, Augusto Pinochet. Neruda morreria no mesmo ano.

Entre as características de sua obra, estão elementos da natureza e o amor. “Certamente, o primeiro tema recorrente é o amor, depois o Chile – suas paisagens, pessoas, coisas simples – América, Espanha e liberdade”, afirma Rodríguez.

“Penso que a principal característica é a solidez das imagens que ele concebe entre coisas simples e abstratas. Sua poesia foi influenciada fortemente por sua postura política de esquerda e sua ligação com as vanguardas literárias, que alimentou sua coluna vertebral poderosamente metafórica”, opina ele.

Todas as idades

Para o ensino fundamental I, Gonzaga recomenda ao professor usar “O livro das perguntas”. “São questões que parecem bobas, mas cujo o pano de fundo traz discussões sobre temas diversos, como preconceito, desigualdade, entre outros.”

Para o ensino fundamental II, a pesquisadora indica “O Rio Invisível”, livro póstumo que reúne poesias publicadas em jornais e revistas durante a juventude do poeta. “Fala de assuntos leves, como a natureza e sua mãe”, ressalta.

Já para o ensino médio, Rodriguez recomenda aos alunos “20 poemas de amor”. “São poesias muito claras e evocativas, com metáforas simples. Dá a sensação de que poderíamos tê-las escrito”, diz. “Para a situação atual em nossa América, seria muito útil rever o “Canto Geral” e refletir sobre a identidade. Existem vários textos neste livro que se referem ao assunto”, complementa.

Segundo Gonzaga, Neruda também pode ser utilizado em aulas de história e geografia. “Em ‘Espanha no coração’, há intertextualidade com a Guerra Civil Espanhola; ‘Alturas de Machu Picchu’ fala sobre o Peru e ‘A rosa separada’ sobre o período em que viveu na Ilha de Páscoa”, aponta.

O chileno também conta com um poema que aborda os problemas sociais cariocas: Ode ao Rio. “É um louvor, mas ele critica as mazelas sociais. Conclui que no dia que os governantes olharem realmente o povo, o Rio será a cidade maravilhosa”, interpreta Gonzaga.

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Crédito da imagem: AP Photo/File

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