A web 2.0 é uma consequência da evolução da internet. Elementos, espaços virtuais e conceitos que tinham como base a colaboração e a autoria dos usuários ganharam espaço e ajudaram a fomentar o terreno onde, agora, todos os dias brotam diversas iniciativas voltadas para o compartilhamento de informações e ações. Na área da educação, os objetos de aprendizagem digitais (OAs) e seus repositórios sentiram intensamente essas mudanças e estão tendo de se adaptar. Lá no século passado, quando surgiram, já tinham a proposta de servir aos educadores que buscavam utilizar a tecnologia nas suas aulas e valorizavam a “reconstrução e recombinação”.

 

Os OAs, que podem ser qualquer ferramenta (animação, flash, game, apresentação em power point etc) capaz de apoiar o processo de ensino-aprendizagem, sempre carregaram uma característica fundamental: a reusabilidade. Um game criado por um professor de ciências, por exemplo, poderia ser ajustado para uma aula de geografia. Os professores das duas disciplinas, mesmo que fossem totais desconhecidos, compartilhariam o objeto. Continua sendo assim. Continuam existindo, inclusive, grandes repositórios, como o CESTA, criado pela professora de “Informática na Educação” da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Liane Tarouco, no qual podem ser encontradas centenas de objetos passíveis de modificações. Mas o uso deles, assim como o da internet, vem sendo reconfigurado.

 

No CESTA, parte de todo o material que é disponibilizado gratuitamente mediante acesso do repositório via login e senha é produzida pelos próprios alunos da UFRGS nos cursos de pós graduação. A outra parcela é contribuição de outros desenvolvedores que tiveram suas produções consideradas úteis para o aprendizado pela equipe da professora Liane. Apesar do espaço aberto à produção externa, ali não há espaço para se compartilhar nada mais além dos objetos.

 

Nos repositórios, professores não têm espaço para, no mesmo local onde acessam os recursos, contar as suas experiências com um determinado objeto em sala de aula, tampouco fazer simples comentários. Fóruns de discussão, então, são uma distante realidade. Os repositórios, embora muito úteis por agregarem tantos recursos que poderiam ficar “perdidos” na web e por permitirem a catalogação deles (por temas, autor, disciplinas etc), não tiveram incorporada toda a possibilidade de interação da web 2.0.

 

 

Pesquisador dos objetos e repositórios, o professor da Universidade Federal da Bahia Antônio Carlos de Souza diz que enxerga uma pequena desvalorização dos objetos de aprendizagem. Entretanto, ele não considera que os mesmos tenham perdido espaço nos ambientes pedagógicos. Destaca que, com o crescimento da educação a distância, os objetos garantem lugar na educação. Segundo o professor, as iniciativas públicas de apoio ao desenvolvimento desses recursos eram mais constantes no passado. “O PAPED (Programa de Apoio à Pesquisa em Educação a Distância, do Ministério da Educação) tinha um investimento nos objetos muito maior do que o atual e, atrelado ao Rived, que era o repositório do MEC, tinha o prêmio concedido aos melhores projetos de OA desenvolvidos por professores e pesquisadores”, diz Souza.

 

Atualmente, ele trabalha no desenvolvimento de um repositório para o Instituto Federal da Bahia, pois os cursos de EAD nessa instituição têm se multiplicado. “Esse repositório será inicialmente de acesso restrito ao Instituto. Hoje, que os custos de desenvolvimento desses ambientes caíram bastante, é possível fazer esse repositórios com caráter particular”, explica Souza.

 

Objetos inseridos na nova dinâmica da web

O Rived (Rede Interativa Virtual de Educação), citado pelo professor Antônio Carlos, ainda pode ser acessado pelos internautas, assim como os objetos de aprendizagem lá cadastrados. Mas o portal não conta mais com atualizações. Todos os esforços da Secretaria de Educação a Distância (mantenedora do projeto Rived) voltados para os conteúdos pedagógicos digitais agora estão direcionados para o Portal do Professor, lançado no ano passado.

 

 

O diretor de produção de conteúdo e formação em educação a distância do MEC, Demerval Bruzzi, explica os motivos dessa mudança: “Quando o Rived surgiu, não era somente um repositório, era uma parceria do Brasil com outros países, mas eles não cooperavam, e só o Brasil fazia a sua parte”. Em seguida, completa: “Além disso, tínhamos uma equipe de professores que desenvolvia objetos de aprendizagem para o nosso banco, nós promovíamos cursos para a capacitação das equipes selecionadas por meio de editais públicos, e essa metodologia precisava de investimentos milionários.”

 

Quanto à extinção do Concurso Rived, o qual premiava os melhores projetos de OAs, Bruzzi justifica dizendo que aquele processo foi considerado ultrapassado: “O prêmio incentivava a produção, mas não tinha impacto na aprendizagem. Não havia nenhuma garantia de que aqueles projetos promoveriam uma educação inovadora.”

 

Seguindo a tendência da integração e interatividade da web 2.0, o MEC decidiu integrar todos os conteúdos no Portal do Professor. Lá, há realmente espaços interativos. Os objetos ainda são mantidos em um repositório, que agora é denominado Banco Internacional de Objetos Educacionais. Atualmente, são 7.031 recursos cadastrados. As discussões sobre esses recursos podem ser levadas novamente as espaços do Portal (ver reportagem “Portal do Professor mostra como incorporar novas ferramentas ao ensino“).

 

A professora da UFRGS Liane Tarouco revela também que está se dedicando a um novo projeto de repositório, onde haverá mais do que o trabalho de catalogação de objetos. “Trabalharemos também com gestão de conteúdo de uma forma que poderemos agregar informações e saber onde os conteúdos estão sendo utilizados e de que forma”, diz Tarouco.

 

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