As expectativas mercadológicas sobre os livros digitais são crescentes e mobilizam o mercado nacional e internacional na oferta de possibilidades interativas das mais diversas. No Brasil, embora o processo de inserção dos ebooks esteja no início, é cercado de boas expectativas de crescimento embasadas principalmente na venda de aparelhos que permitem a leitura da mídia digital.

No primeiro trimestre de 2012 deste ano, livrarias como Gato Sabido e Saraiva se destacaram como as que mais acumulam ebooks à venda. Em 2012, são 12 mil títulos no Brasil, contra 4 mil em 2011. E quem são as pessoas que consomem os livros digitais? Como se constrói o relacionamento dos leitores com essa nova mídia? Há diferenças entre a leitura impressa e a leitura virtual? O NET Educação foi esclarecer estas questões e entender se estamos diante de uma nova maneira de ler e assimilar os conteúdos dos livros.


 

Conhecendo o cenário

A Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pró Livro, realizada pelo IBOPE Inteligência, e divulgada em março deste ano, apontou algumas questões sobre a relação dos brasileiros com os livros digitais. Segundo dados do estudo, 9,5 milhões de pessoas (5% da base de entrevistados) se disseram adeptos da leitura de livros digitais, sendo a maioria do sexo feminino, com curso superior e idade entre 18 e 24 anos.

Os consumidores concentram-se em grande parte na região Centro Oeste (9%), seguida da Sudeste (6%), Sul e Norte(5%) e Nordeste (4%). A maioria dos leitores é da classe social A (21%), sendo as classes B e C responsáveis por 11% e 4%, respectivamente.

Em relação à popularidade, os ebooks ainda têm um caminho de conquista entre os leitores brasileiros. Segundo apuração,  45% dos entrevistados alegaram nunca ter ouvido falar em ebooks, 25% disseram nunca ter ouvido falar, mas apresentam interesse em conhecer, e 30% apontam que já escutaram algo sobre os livros digitais.

Segundo o Instituto Pró Livro, o grande desafio para o mercado de livros digitais é a falta de conhecimento e também de acesso, uma vez que a internet, que pode ter relação direta com a adesão dos ebooks, não é utilizada em igualdade entre os entrevistados: 54% das pessoas não acessam a internet e 33% acessam todos os dias ou algumas vezes na semana.

Expectativas sobre a leitura

Para José Luiz Goldfarb, professor do programa de pós- graduação da PUC-SP e curador do Prêmio Jabuti, os desafios de leitura vão além da segmentação impressa ou digital. “Temos uma realidade pouco favorável no Brasil em relação ao incentivo à leitura, pois somos carentes de políticas públicas que façam com que os livros cheguem à sociedade”, aponta.

Goldfarb pontua que, no Brasil, a média de leitura é baixa independentemente da classe social (segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a média é 4 livros habitantes/ano) e que as bibliotecas públicas brasileiras, ponto fundamental de apoio à leitura, acabam virando depósito de livros, sem perspectivas de atualização de acervo.

Justamente por essa questão, Goldfarb se diz entusiasmado com a possibilidade da leitura digital. “Salvas as condições de acesso, é uma maneira de franquear o acesso à leitura de maneira mais ampla, para qualquer lugar do mundo”.

Quando questionado sobre as diferenças entre a leitura impressa e digital, o educador acredita que as possíveis reações aos livros digitais sejam naturais de um período de transição. “Na época em que surgiram os livros impressos, muito se falou em falta de sociabilidade, ou seja, que os indivíduos se fechariam em suas leituras e não mais conviveriam entre si”, relembra.
 “E a verdade é que a leitura só agrega novos repertórios”, pontua. . “No caso da leitura dos ebooks,  estamos diante de uma geração digital, sedenta por interatividade, e muito bem acostumada a recursos como hipertexto e hiperlinks”, declara Goldfarb.

E embora haja a tendência pelas tecnologias, especialistas não fazem projeções quanto a possível substituição dos livros impressos pelos livros digitais. E também não creditam ao suporte tecnológico, a responsabilidade de modificar a postura leitora no País, uma vez que a questão está enraizada na falta de hábito e práticas incentivadoras da leitura.

Goldfarb tem olhar taxativo para a questão: “Se partirmos do ponto que é necessário o incentivo à leitura, pouco importa o suporte, impresso ou digital”. “Precisamos redescobrir o prazer de ler em nossa sociedade”, finaliza.

*A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil considerou como universo de pesquisa população brasileira residente com 5 anos ou mais, independente de alfabetizadas ou não. (178.082.033)

Para saber mais:

– Conheça a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil

– Leia a matéria “E-books: novas perspectivas ao mercado literário”

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