Mais um ano começa e junto a expectativa para o início da temporada de inscrições nas chamadas olimpíadas do conhecimento. Uma das mais divulgadas, a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) mobilizou, em 2013, aproximadamente 20 milhões de estudantes de todo o país. Os concursos têm por objetivo geral estimular o interesse e o estudo em determinadas disciplinas, além de interferir na melhoria do ensino. No entanto, especialistas analisam que as competições incentivam, mas não propõe mecanismos necessários para aprendizagem, o que as configura mais como um teste.
Além de matemática, há olimpíadas do conhecimento de outras matérias e temáticas que acontecerão durante todo o ano de 2014, como física, química, história, robótica, astronomia e astronáutica, informática, linguística, ciências, geografia, biologia, saúde e meio ambiente. Podem ser organizadas ou apoiadas pelos governos federal, estadual e municipal. Dependendo da característica de cada prova, contam com a participação de alunos de escolas públicas, privadas ou ambas.
Uma das mais novas, a Olimpíada Nacional em História do Brasil (Onhp) chegou à sua quinta edição em 2013. Estudante do 2º ano do ensino médio, Marina Reis de Oliveira, junto com os colegas Artur Soares e Raquel Romanovski, conseguiu medalha de ouro no último ano. Para ela, participar trouxe benefícios. “Achei bem legal. Com certeza me acrescentou para fazer provas na escola. Aprendi a lidar com documentos. Sempre gostei de história e em 2012, uma equipe da minha escola já tinha ganhado ouro, o que me incentivou”, conta.
Marina junto com a professora Fátima Moreira, logo após saber que
recebeu medalha de ouro na Olimpíada Nacional em
História (Crédito: Onhb)
Para vencer, o grupo precisou participar de um processo em etapas pela internet. De acordo com documentos cedidos, deveriam responder a testes de múltipla escolha. “No fim de semana, nos reuníamos e discutíamos com a professora”, lembra ela. Ao todo, foram cinco etapas. Na última, tiveram que produzir dois textos. Marina também elogiou a prova por ser uma olimpíada que exige a participação em trios. Ela pretende participar novamente este ano, e o grupo já está fechado: será o mesmo. Em 2013, a competição envolveu mais de 10 mil equipes desde a primeira etapa, em agosto.
No geral, os vencedores de medalhas são convidados a participar do processo de seleção para concorrer a vagas nas equipes olímpicas internacionais. Ariel Kessel Akerman já foi medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Física, bronze na Olimpíada Paulista de Química e ouro na de História, mas não quis se preparar para competições mundiais. “Não estava disposto a estudar em um nível que eu não queria. Quando participei, o espírito foi mais de ver até onde chegaria. As olimpíadas são extremamente parecidas, no sentido de perguntar sobre conteúdo”, analisa. “Mas as de historia e de química tinham questões para além, que criou interesse pelo assunto e proporcionou conhecimento a mais.”
De acordo com o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutor em educação matemática, Luciano Meira, as olimpíadas incentivam os alunos, no entanto, poderiam agregar mais. “São testes de conhecimento, porque basicamente a arquitetura, montagem e mecânica foca em um tipo de avaliação mais retrospectiva do que o aluno aprendeu até ali. Não tem mecanismo pedagógico e didático em processo de aprendizado. O importante é que obtenha uma pontuação”, avalia.
Para ele, as competições têm um potencial enorme para construção de conhecimento. “A de matemática mobiliza três vezes mais que inscrições no Enem. Mas na primeira prova, já são eliminados uma grande quantidade de candidatos. Não se pode simplesmente dispensá-los. A estrutura de retenção e manutenção é muito pobre. Não deixa as pessoas dentro dela produzindo alguma coisa.”
O professor doutor e livre docente em tecnologias interativas da Universidade de São Paulo (USP), Romero Tori, acredita que iniciativas que envolvam educação são bem-vindas, no entanto alerta que as escolas não devem ter como objetivo treinar os alunos para a prova. “Faz com que os estudantes percebam o conhecimento que eles têm. Valorizar isso é importante desde que não seja algo obsessivo para ganhar por todos os meios e que a escola se preocupe com outras atividades escolares.”
Como aprendizado, ele pontua que “pode-se tirar algo das competições como saber lidar com derrota e situação de stress. Outra coisa, essa geração está muito acostumada com jogos e premiações. Então, se motivam muito quando existe um processo competitivo e lúdico”.
A Olimpíada em História é considerada um formato exceção. A professora da Escola Vera Cruz, localizada em São Paulo (SP), Lilian Starobinas, acompanha seus alunos há cinco anos nas competições. Segundo ela, trabalhar na competição com materiais como mapas, trechos de poema e documentos “traz variedade maior do que tem no dia a dia da escola. Há um incremento no repertório. Depois, acho que a qualidade das questões da Onhp bem elaboradas, trabalham a historia de maneira interessante”.
“Dependendo da abordagem que escola pode dar, há maiores benefícios. Não pressionar os alunos é uma. Tem possibilidade de troca muito interessante e dedicação tranquila. Nesse sentido, acaba não tendo caráter essencialmente competitivo e nem só da produtividade. Por outro lado, sinto que há necessidade de gerar nos estudantes um compromisso. Porque se não, ficamos numa posição de plateia, de participar só para ver como é, o que também pode não levar a muita coisa”, conclui.