O uso de mídias e recursos audiovisuais na sala de aula, como o rádio, o vídeo, o blog e até mesmo o celular, para muitos pode parecer algo fácil de cair no descontrole e capaz provocar a dispersão da turma e a perda do foco da aprendizagem. A experiência, entretanto, mostra o contrário. É o que atestam diversos professores da rede municipal de São Paulo do ensino fundamental que participam do projeto de educomunicação Nas Ondas do Rádio, inserido no programa Ler e Escrever da Secretaria Municipal da Educação.

Teco Luján

Professores participam do curso “Aprender e Comunicar”, que trabalha a mídia como elemento pedagógico

Desde 2001, o projeto está na ativa, oferecendo o curso “Aprender e Comunicar” a professores interessados em saber como usar a mídia na classe como instrumento pedagógico para o ensino das mais diferentes disciplinas, da história ao português. Segundo Carlos Eduardo Fernandez, o Cadu, educomunicador que ministra o curso há 9 anos, mais de 5.000 docentes de cerca de 450 escolas do município já passaram pelo treinamento, hoje dado nas Diretorias Regionais de Educação (DRE).

“A mídia faz do aluno o protagonista do seu aprendizado, capaz de intervir diretamente na forma como o conteúdo da disciplina é apresentado. Aprender fica mais prazeroso, porque o aluno se reconhece no processo. Essa é a grande vantagem que a mídia traz ao ambiente escolar”, diz Cadu. O curso promove encontros para a discussão da inserção de cinco tipos de mídia no plano de aula: o jornal mural, o jornal web, o rádio, o vídeo e o blog. A cada encontro os professores aprendem como trabalhar as mídias na classe, de forma integrada e dentro da realidade de cada escola.

Teco Luján

Para o orientador Carlos Eduardo Fernandez, mídia ajuda o aluno a se reconhecer

“É preciso ter clareza de que a mídia não é a aula”, afirma Carlos Mendes, coordenador geral do projeto. “O curso apóia os professores nesse planejamento. Não adianta colocar um vídeo para o aluno assistir e depois pedir para que ele faça um relatório. Se o recurso faz parte da aula então é preciso utilizá-lo de forma pontual e objetiva, sem fazer com que ele ocupe todo o tempo da classe”. Segundo ele, as mídias não substituem os livros, nem a lousa, mas são valiosas para melhorar pontos como a oralidade, a escrita e a compreensão crítica dos alunos. O orientador Cadu completa: “Com poucas ferramentas, as escolas podem desenvolver projetos pedagógicos muito criativos. Basta o computador ligado à internet e acoplado à caixinha de som, um gravador e uma máquina de fotografar digital ou um celular que tenha estas duas funções”, explica.

A escola municipal Professora Philó Gonçalves, na região do Perus, está começando a elaborar planos de aula com o uso de mídias. “Os professores não têm resistência e usam a sala de informática para desenvolver os projetos. A proposta só esbarra mesmo na falta de conhecimento técnico de alguns docentes e na dificuldade para adquirir alguns equipamentos”, diz Lara Lucas, professora do Ensino Fundamental I. Lara foi uma das alunas da edição do curso que aconteceu na DRE de Pirituba, no final de março.

Já mais avançada na experiência, a escola Júlio de Oliveira, também no Perus, inaugurou no ano passado o seu programa de rádio didático. A escola também já tem seu blog e está começando a produzir o jornal mural. “Os alunos usam filmadoras, máquinas de fotografar e gravadores em trabalhos de campo principalmente das disciplinas de história e ciências. Depois tudo é editado nos laboratórios de informática, com a supervisão dos professores”, diz Andréa Cristina Pinheiro de Moraes, professora orientadora de informática educativa.

Segundo Cadu, os docentes podem fazer uso integrado das mídias para a apresentação de um mesmo conteúdo. “Para quem está começando, acredito que a produção de um jornalweb é o mais indicado, por ser mais simples. Mas em minha opinião, o rádio é a mídia mais eficaz, porque promove um grau de compreensão maior ao usar uma linguagem rápida e direta, e que não é escrita”.

Primeira rádio mirim do Brasil
A instituição Antônio Munhoz Bonilha, de ensino infantil, na Vila Mirante, inaugurou em novembro do ano passado a primeira rádio mirim do Brasil, a Rádio Jacaré FM. A professora Ana Paula Emilio Escudeiro, responsável pela rádio, conta que na prática as crianças fazem uma lista de sugestões de pauta e elegem as prioridades. Com o microfone conectado ao computador da escola, fazem as gravações das matérias. Depois, as crianças ouvem e falam o que não gostaram e o que gostariam que permanecesse. Todas as etapas de gravação e edição são feitas com a participação dos alunos.

Teco Luján

Participantes do curso “Aprender e Comunicar”, que já formou mais de 5.000 docentes da capital paulista

“As crianças conquistaram uma autonomia que não haviam ainda experimentado” diz a professora. “Desde o surgimento do projeto, elas foram melhorando a elaboração de ideias, ampliaram seu vocabulário e seu repertório de atitudes diante de diferentes situações. A visão de mundo delas mudou, a noção de tempo e espaço foi desenvolvida e, com isso, a conquista da confiança em poder descobrir coisas novas, testar suas hipóteses e apresentá-las, por meio de registro oral, também revela um amadurecimento. Elas não deixaram de ser crianças, mas, agora, têm certa noção de que aprender pode ser diferente: elas podem construir sozinhas, com o apoio dos adultos, o próprio conhecimento. Não têm noção disso, mas são protagonistas na cultura infantil”, constata.

Vagas abertas
Para este semestre o curso já reuniu cerca de 500 inscrições e está abrindo mais 250 vagas. Para o próximo semestre, o projeto oferecerá cursos específicos para professores que querem se aperfeiçoar em uma ou mais mídias. A proposta é formar mais 500 docentes. Mais informações podem ser checadas no endereço http://nasondasdoradio.ning.com/

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