Ainda não podemos fugir do trânsito montados em carros voadores, nem nos teletransportar para a praia quando chove na cidade, mas nossa ideia de “futuro” é mais presente do que se imagina. E isso graças ao que os pesquisadores vêm chamando de Internet das Coisas, ou IoT (Internet of Things, em inglês). Se você ainda não tinha ouvido falar sobre ela, é bom se acostumar, porque o assunto deve inundar nossos canais em pouco tempo, a começar pela própria internet como a conhecemos hoje. Mas o que quer dizer exatamente esse termo e como ele vai influenciar a sua vida nos próximos anos?

Podemos dizer que a primeira era da internet, a chamada 1.0, funcionava por demanda, ou seja: as pessoas basicamente buscavam informações e serviços de seu interesse na rede. Com a web 2.0, os usuários ficaram animados e mudaram de status perante o uso da rede ao passar de consumidores para produtores de conteúdo e divulgadores de suas próprias opiniões e criações. Depois de nos ajudar a “fazer amigos e influenciar pessoas”, agora a internet tem pela frente o desafio de facilitar nossa interação com o mundo real, envolvendo os objetos que estão ao nosso redor na conversa. E esta nova fase da rede tem tudo para ser ainda mais interativa e dinâmica.

Suponha que você sonhou com suco de laranja e acordou sedento por um copo, mas, ao abrir a geladeira, deu-se conta de que a caixa havia acabado no almoço do dia anterior. Pois se essa mesma caixa estivesse conectada por um chip a uma rede de informações, ela poderia enviar uma mensagem ao seu supermercado preferido, que entregaria uma nova caixa na sua casa, evitando frustrações pela manhã. Disso se trata a Internet das Coisas: criar sistemas e ferramentas que emprestem mais inteligência aos objetos para que eles possam “conversar” entre si e tornar nossa vida mais fácil. O que ainda falta aprimorar, segundo o professor José Roberto Amazonas, da Universidade de São Paulo (USP), é a conexão entre esses objetos e uma rede externa onde eles possam buscar dados e, assim, potencializar sua funcionalidade.

Conheça mais sobre a internet das coisas:

https://youtu.be/B-nPSsYdyQQ

O tal do RFID

Há várias ferramentas capazes de armazenar a história dos objetos, como os velhos códigos de barra ou os sensores wireless, mas a que vem sendo mais utilizada na pesquisa de Internet das Coisas é a tecnologia RFID (Identificação por Radiofrequência), que faz o que promete a sigla: rastreia coisas por meio de ondas de rádio e, geralmente, é acoplada aos objetos por meio de uma simples etiqueta.

Pensando ainda no exemplo do suco: atualmente, a fábrica e o supermercado conseguem controlar cada unidade produzida e vendida, pois eles já estão identificados. Mas, quando o produto chega a sua casa, esses dados não são usados para mais nada. Esse problema estará solucionado quando os produtos puderem devolver a informação processada para diferentes pontos. E não falta muito para chegar lá.

Sustentabilidade e produção colaborativa

Em outras palavras, já não há um limitador técnico para a criação dessa comunicação inteligente entre as coisas. “Ela só não existe ainda por uma barreira de custo: é caro introduzir uma tecnologia como essa em uma cadeia de suprimentos, por exemplo”, explica o professor Amazonas, representante na América Latina do projeto europeu CASAGRAS2, que estuda a Internet das Coisas com apoio da Comissão Européia. Iniciada na década de 1990 no MIT (Massachussetts Institute of Technology), a pesquisa sobre o tema hoje também está bem desenvolvida em países como Japão, Coréia do Sul e China. No Brasil, as aplicações da tecnologia vão da área militar – com a Aeronáutica e o Exército utilizando RFID no controle de fardamentos – até o Carnaval de Salvador, que faz o monitoramento de abadás com o mesmo sistema.

A expectativa dos pesquisadores é que, em um futuro próximo –cerca de dez anos–, os objetos conectados entre si possam gerar inventos como roupas que se adaptam à temperatura ambiente e cidades inteiras conectadas com o objetivo de economizar energia e água. A busca por soluções sustentáveis é, de fato, um grande eixo da pesquisa sobre a Internet das Coisas. Hoje podemos pensar em uma casa que pode programar sua lavadora de roupas para funcionar na madrugada, quando a energia é mais barata. Mas, se todas as casas de um bairro fazem isso ao mesmo tempo, haverá um pico energético neste horário que gerará custos para a empresa de energia, que os repassará ao usuário. “Se a gente coloca a internet no meio, com a possibilidade de compartilhar dados, podemos fazer uma programação global que atenda a necessidade de cada casa individualmente, mas que também previna o pico de consumo”, resume Amazonas.

Divulgação/FabLab

Projeto UrbanFeeds espalhou sensores por Barcelona para captar informações do meio ambiente com a internet das coisas

Iniciativa pioneira na Espanha

Guiados por esses princípios de sustentabilidade e eficiência energética, pesquisadores do FabLab, de Barcelona, estão desenvolvendo um projeto piloto que vai instalar sensores na cidade espanhola para captar e compartilhar informações relevantes sobre o meio ambiente. Chamado UrbanFeeds em sua primeira fase, o projeto gerou um aparato físico que traduzia as variáveis sobre o entorno para ajudar o usuário a aproveitar melhor o ambiente. “Se estou de ressaca, por exemplo, o dispositivo me diz quais são os lugares da cidade onde há pouca luz e pouco ruído”, explica o pesquisador chileno Tomas Diez, diretor do Fab Lab.

Agora o projeto está evoluindo para a plataforma online SmartCitizen, que será alimentada pelos próprios usuários, sem intervenção de empresas ou instituições. “A plataforma está pensada sob o princípio de que cidades inteligentes devem ser construídas por cidadãos inteligentes”, afirma Diez.

https://youtu.be/azfIgtYV4NQ

O objetivo do FabLab, que está associado ao IAAC (Institute for Advanced Architecture of Catalunya), é viabilizar a construção de ferramentas de baixo custo pelos próprios usuários que possam ser utilizadas para gerar negócios, promover a educação e melhorar o meio ambiente, caso da plataforma Smart Citizen. E a aposta do pesquisador para o futuro próximo é inspiradora: “A Internet das Coisas vai começar a ficar interessante de verdade quando muita gente puder usar e gerar aplicações a partir de diferentes necessidades”. Nesse sentido, é possível imaginar as possibilidades que esse fenômeno pode abrir também para a aprendizagem.

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