De acordo com pesquisa do Ibope/NetRatings realizada no segundo semestre de 2008, 43,1 milhões de pessoas – a partir dos 16 anos – possuem acesso à rede em ambientes diversos como lan houses, residências, bibliotecas e escolas. Dos números apontados, destaca-se o crescimento de internautas que usam Orkut e outras redes sociais no país. Mestre em gestão e produção em e-learning pela Universidade Carlos III, de Madri, a professora Sônia Bertocchi acumula reflexões e experiências pedagógicas no uso das redes sociais virtuais como incentivo à educação dos seus alunos.
A educadora Sônia iniciou sua carreira como professora de língua portuguesa em uma escola pública e conta que o seu interesse pelas redes sociais surgiu quando ela começou a compreender como funciona o caráter multimídia da internet e sua linguagem hipertextual. Hoje é coordenadora de projetos colaborativos em comunidades virtuais de aprendizagem e de cursos online e ainda responsável pela Lousa Digital, um blog de educação. “Quando interagimos, isto é, quando estamos em rede, aprendemos mais, estabelecemos contatos, criamos relações, conhecemos mais”, diz.
Antes, as comunidades virtuais eram vistas como entretenimento e diversão. Hoje, podemos considerá-las como indispensáveis para o conhecimento humano?
Fritjof Capra, em Teia da Vida, 1996, disse: “Sempre que olhamos para a vida, olhamos para redes”. Ou seja, a vida é organizada em redes. Nossa família é uma rede, nossa cidade, a empresa onde trabalhamos é uma rede e a escola é uma rede, daí a rede escolar. Todas essas redes se articulam e cada uma delas tem sua parcela em nosso crescimento humano. Da mesma forma, as redes sociais online.
De que forma as redes podem ser utilizadas como incentivo ao aprendizado dos alunos?
Elas podem ser usadas como excelentes ferramentas em um projeto educativo, que privilegie ações em grupos/equipes, que exijam/estimulem as interações e a comunicação digital entre alunos e professores ou ainda entre alunos/professores e pessoas fora da comunidade escolar. Lembrando que sem um bom projeto pedagógico não há ferramenta que dê conta.
Para quem nunca utilizou esses sites como ferramenta educacional, como deve iniciar?
Uma sugestão é se inscrever em uma comunidade virtual de aprendizagem (conheça as redes mais usadas no mundo) e participar das atividades propostas, explorar as ferramentas de interação, de publicação. Ou seja, interagir e analisar criticamente a experiência – os desafios, as dificuldades, os pontos fortes e os fracos, os ganhos e as lições aprendidas.
Qual a diferença entre rede social e comunidade virtual?
Na verdade, rede social é um novo nome para comunidade virtual. Um dos primeiros autores a usar a expressão “comunidade virtual” foi Howard Rheingold, que definiu: “As comunidades virtuais são agregados sociais que surgem da internet quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no espaço cibernético”.
As comunidades realmente funcionam para o aprendizado?
Existem exemplos exitosos de uso pedagógico de várias comunidades virtuais. Trata-se de dizer ao educador que ele precisa conhecer o potencial de cada uma delas, explorar sua natureza, seus objetivos, suas características e ver como podem ser eficientes no desenvolvimento da proposta pedagógica.
Como a senhora avalia as novas ferramentas, como a webtevê e o podcast, em relação ao uso para a educação?
Essas ferramentas podem e devem ser integradas a projetos de educação. Sua utilização torna mais fácil o protagonismo do jovem. Ele passa de consumidor a produtor de conteúdo na internet.
Desde que a senhora decidiu utilizar as redes nas aulas, houve dificuldades em coibir o plágio ou mesmo a cópia indevida de trabalhos escolares de alguns alunos?
Sim. Todos – alunos e professores – devem ter clareza sobre o que seja propriedade intelectual. Esse é um primeiro e importante passo para evitar problemas de desrespeito ao direito autoral quando são desenvolvidas atividades de busca e utilização da informação que está na web. Ao contrário do que muitos, ingenuamente, repetem, a internet não é uma “terra de ninguém”.
Apesar das redes virtuais serem positivas para o aprendizado, como a senhora – professora de língua portuguesa – analisa o crescimento do “internetês” nos textos dos jovens?
Penso que não devemos eliminar. Como o nome diz, internetês é uma linguagem criada para ser usada na internet – nas ferramentas de comunicação digital, em uma situação em que digitar rápido é importante para manter a conversação animada. O que não pode acontecer é usar internetês ou o miguxês em um texto escrito para o professor, trabalho escolar, um relatório da empresa.
No seu ponto de vista, a interatividade recorrente na internet serve apenas para adquirir conhecimentos ou existe algo mais importante que ainda não foi descoberto por todos?
As possibilidades de pesquisa, comunicação digital, publicação de conteúdos próprios e a atuação em redes são, a meu ver, as grandes contribuições da internet para a educação das pessoas. Acredito que essas novas tecnologias da informação e da comunicação ainda estão numa fase embrionária e que muita inovação está por vir com a web 3.0, ou web semântica.
O que deve ser feito para que os alunos não se tornem dependentes unicamente das comunidades virtuais na hora de fazer uma pesquisa de escola?
Diz um ditado popular que o tempo muda as coisas, mas diz também que, na realidade, quem tem de mudá-las é cada um de nós, com o tempo. O professor deve sempre oferecer/indicar várias fontes de pesquisa ao seu aluno – livros, jornais, revistas, cinema, TV, rádio e, principalmente, pessoas.
Saiba mais sobre as comunidades virtuais
Blog da professora Sônia Bertocchi: www.lousadigital.blogspot.com
Mapa das redes sociais: http://migre.me/Mrh
Mídias Sociais: http://migre.me/Ms6
Vídeo sobre Redes Sociais: http://migre.me/MsQ