A discussão sobre a adaptação do formato do livro físico aos dispositivos móveis tem evoluído ano a ano, pesquisa a pesquisa sobre comportamento dos leitores de livros digitais. Quanto mais a leitura em tablets e em celulares passa a se mostrar comportamento padrão de quem dispõe desses dispositivos e não mais somente uma tendência na cultura digital, mais atenção é dedicada ao assunto por editoras, escritores e pesquisadores.

Mas e quanto à adaptação para o usuário de ler a nova mídia? E quanto às diferentes oportunidades que ela apresenta? Essas foram as principais questões tratadas na terceira edição do Ciclo USP 2.0, que nesta temporada trouxe para a discussão os pesquisadores e educadores italianos Roberto Maragliano e Mario Pireddu, da Università degli Studi Roma Tre. Maragliano é titular da cátedra de comunicação em rede para o aprendizado da universidade. Pireddu é docente da disciplina mídia de massas, novas mídias e sociedade em rede, além de membro do Laboratório de Tecnologia Audiovisual. Na ocasião, os educadores debateram com profissionais brasileiros questões ligadas ao uso das obras na universidade, além dos livros digitais.

A interação no ato da leitura

Para Pireddu, é importante que os educadores tenham consciência de que a principal contribuição que os livros digitais apresentam é a possibilidade de maior interação com o seu conteúdo. “Quando se está lendo por meio de um dispositivo eletrônico, é muito mais fácil fazer anotações sobre algo que você considera importante, compartilhar trechos com amigos ou até fazer uma pesquisa sobre uma expressão que você não conhece”, afirma. O pesquisador considera que há muitos paralelos entre o conceito ideal de uma leitura digital e a interação entre os usuários de uma rede social.

E é esse aspecto de compartilhamento, inerente a uma rede social, que Maragliano cita como principal contribuição da internet à leitura. Segundo ele, a experiência virtual é capaz de modificar totalmente a leitura individual. O educador afirma que a visualização de obras em um ambiente digital permite que o leitor controle parte desse espaço. Isso porque, por meio da troca de impressões e informações entre os diversos usuários, que se torna possível dentro de alguns e-books, é construída uma discussão coletiva sobre o livro, o que, para ele, pode tornar a experiência ainda mais educativa do que o texto em si.

Atualmente, poucos e-books oferecem essas possibilidades de interação. Em alguns casos, porém, a troca de informações pode ser feita até mesmo com o autor da obra, que abre um canal direto por meio de recursos no livro-aplicativo.

O livro digital na universidade

Divulgação

Pesquisadores italianos Mario Pireddu (à esq.) e Roberto Maragliano discutem e-books na educação

A educadora Sueli Mara, diretora técnica do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP (SIBi-USP), apresentou o acervo de livros eletrônicos disponíveis no portal da instituição. Além de contar com um total de mais de 250 mil e-books hospedados na nuvem, o sistema também está convertendo seu conteúdo para o formato em áudio Daisy (Digital Accessible Information System), voltado principalmente para pessoas com problemas de visão. Sueli também destacou a série em vídeo “As Bibliotecas e a Produção do Conhecimento”, realizada pelo SIBi-USP, que mostra a importância dos livros para a geração da informação, por meio de entrevistas com convidados ilustres.

Para o pesquisador Roberto Maragliano, as possibilidades são muitas, mas o uso dos e-books interativos precisa ser inserido com cautela nas salas de aula. Ele defende que a principal dificuldade para os alunos é que, vindos de um processo educacional clássico, eles podem não estar acostumados a esse sistema de compartilhamento das impressões individuais com foco na construção coletiva. “O mais importante, porém, é não restringir essa interação apenas à sala de aula, mas incentivá-la em qualquer espaço em que os estudantes se sintam a vontade para praticá-la”, afirma.

Impacto na escrita

Além da leitura, o processo da escrita também pode sofrer alterações com o uso das tecnologias. O pesquisador de comunicação digital da USP Artur Matuck apresentou em sua palestra o conceito da eletroescritura, por meio da qual se torna possível a criação de um texto escrito por diversos autores.

Nessa autoria, se incluiriam até mesmo softwares e recursos virtuais de geração de conhecimento. Segundo Matuck, eles estariam presentes na obra através da recombinação de elementos textuais, por meio de um sistema digital, que seria um recurso disponível nos processadores de texto em um futuro próximo. “Esse processo pode inclusive gerar uma nova concepção da informação, assim como dos direitos de autor e da propriedade intelectual”, conta.

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