João Montanaro, 13 anos, já anda ensaiando para a carreira de cartunista. Mais que isso, já soma reconhecimento na área em que pretende se profissionalizar. Atualmente ele publica as suas tirinhas no jornal Folha de S. Paulo, na Revista MAD e na web. Montanaro afirma que não vislumbrava tamanho espaço para as suas criações quando decidiu montar um blog, há pouco mais de dois anos. Não demorou, entretanto, para que a sua produção virasse assunto – e conteúdo para veículos renomados – depois que caiu na rede.

 

Post do dia 27 de janeiro do Blog do Joca;
autor tem 13 anos de idade

 

Joaquim Lo Prete, da mesma idade, também diz que não tinha a pretensão de ver tamanha repercussão de um post seu quando, em agosto de 2009, escreveu, no blog que mantém desde 2008, um texto sobre o preconceito que o jogador Richarlyson, do São Paulo, vinha enfrentando. Em seu blog, Joaquim rechaçou o julgamento à masculinidade de Richarlyson. “Eu apenas dei minha opinião sobre uma situação que considero injusta”, diz o garoto. Mas a opinião impressionou nomes da grande imprensa, como o do colunista Juca Kfouri, que reproduziram e aclamaram o texto do adolescente.

 

Os casos dos blogueiros João e Joaquim, ambos integrantes da mesa de debate da Campus Party que teve como tema “Grande rede, pequenos produtores”, remetem à espontaneidade no ambiente web que é tão peculiar aos que nasceram “dos anos 80 para cá”, e que compõe o que pesquisador canadense Don Tapscott chamou de “Geração Digital”. Eles apenas fazem na internet o que eles fariam em outro ambiente. Simples assim. Escrevem, desenham, dão as suas opiniões. Mas, como na web há espaço para quem tem 5, 15 ou 50 anos, conteúdos interessantes podem ganhar notoriedade e, como aconteceu nos casos citados, serem destacados, republicados e referenciados em diversos outros ambientes.

 

O hoje escritor Fábio Yabu, convidado para a mesma mesa da Campus Party, entrou há pouco na faixa dos 30 anos, mas “na época dele”, era diferente. Quando a sua série de quadrinhos online “Combo Rangers” virou febre na web, ali pelo comecinho dos anos 2000, não havia tantos jovens “sacudindo” a internet. A participação na web das gerações mais novas era centrada nos programas de bate-papo, nas pesquisas, nos games (que não eram em rede) e na navegação sem interação. “Não tinha tanta gente interessada na internet como tem hoje. Tanto que quando as minhas histórias foram para as revistas, foi difícil encontrar parceiros para manter as duas coisas”, conta Fábio.

 

Pois bem. Quase uma década depois do “Combus Rangers”, a internet não só interessa há muita gente como, para os jovens, é o que mais interessa em se tratando de veículo e meio de comunicação, como já demonstraram diversas pesquisas. Por isso, João Montanaro vivencia as publicações offline sem ter de se preocupar com a audiência da web, que se mantém fiel. “Neste ano vou lançar 3 livros”, conta o garoto.

 

Tirinha do jovem cartunista João Montanaro publicada em seu blog

 

Afirmando ter a escola como prioridade, Joaquim Lo Prete não se anima quando alguém na plateia pergunta se eles querem todos investir no que já vêm fazendo na web, a exemplo de Montanaro. Até arranca risos do público ao responder que, por ora, o que almeja é melhorar o seu domínio sobre recursos gráficos para não ter que passar a vida inteira dependendo do programa PaintBrush. “O blog e o Twitter já me tomam bastante tempo. Por enquanto não tenho interesse em fazer mais do que isso”, afirma Joaquim.

 

Blog X escola

 

Confira os blogs

 

O assunto “escola” foi levado à mesa “Grande rede, pequenos produtores” quando uma ouvinte atenta ao debate na plateia indagou se as professoras dos garotos palestrantes conversavam sobre o blog, estimulavam a produção nesse ambiente e propunham atividades também em blogs.

 

As respostas não foram as mais entusiasmadas. As professoras, segundo disseram, não são das mais engajadas no uso da tecnologias, embora muitas façam uso pessoal dos recursos disponíveis na web.

 

João Montanaro não deixou passar a ocasião e contou que certa vez se deparou com uma professora de português tuitando com muitas abreviações, com uma linguagem muito distante dos padrões gramaticais. “Eu escrevi que ela tinha de tomar cuidado na rede”, disse.

 

O foco saiu das professoras quando uma nova questão surgiu: quando tuitar, quando blogar e quando estudar? Ou seja, como administrar o tempo para que os estudos não sejam prejudicados. Joaquim Lo Prete afirmou que ele lista as suas prioridades. No topo, está a escola e obrigações que ela demanda. Depois, o tempo que sobra ele divide entre as atividades que dão satisfação. As postagens e a moderação do blog estão entre essas, mas ele garante que não deixa de jogar bola com os amigos, passear e curtir os momentos em família por conta do “Blog do Joca”.

 

Vitória Bastos, 13 anos, também blogueira, admitiu que às vezes escorrega e perde a lição de casa para ficar no MSN, apesar da supervisão da mãe. “Ela só deixa eu ficar na internet até às 22h”. Não significa que todos os dias a garota navega sem qualquer interferência de adultos até esse horário. Trata-se de um limite, que em alguns dias tem der ser lembrado. “Tem que estar sempre orientando, observando e conversando com o seu filho”, aconselha Maria Fernanda Bastos, mãe de Vitória e também blogueira. Ela destaca que as conversas não devem tratar só de limites. “É importante mostrar para os jovens que a internet é muito mais que Orkut, Twitter e bate-papo.”

 

 

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