O processo de reinventar o dia a dia nas escolas e as relações entre educadores e alunos passa pela descentralização do saber, que até pouco tempo se encontrava limitado à sala de aula e à voz do professor. Neste contexto, o mobile learning – que se utiliza de dispositivos móveis para que o aprendizado aconteça em qualquer lugar – aparece como uma tendência capaz de potencializar projetos de educação inovadores. Nesta terceira reportagem da série “Gerações Digitais”, conversamos com os especialistas Alexandre Sayad, Gilson Schwartz e Martín Restrepo sobre o panorama do m-learning no Brasil e tentamos entender como este conceito vem transformando a forma de ensinar e aprender.

Levar o conteúdo que seria explorado em sala de aula para outros ambientes, criando situações de aprendizagem com o auxílio dos dispositivos móveis, é o desafio dos educadores que vêm aderindo ao m-learning. Exercícios com geolocalização, por exemplo, têm sido bastante usados por eles em projetos educacionais deste tipo e podem ser o primeiro passo para quem ainda não se aventurou neste cenário “Com esse recurso, vivenciei um projeto de mapeamento de árvores de uma comunidade com o uso de Google Maps em tablets e celulares. A partir do mapeamento é possível criar um ótimo projeto de biologia, por exemplo”, conta Alexandre Sayad, jornalista e educador do colégio Bandeirantes, de São Paulo, e autor do livro “Idade Mídia: A comunicação reinventada na escola”. Para ele, o salto não depende tanto das especificidades de cada tecnologia, mas de encontrar uma forma criativa de utilizá-las.

Outra questão central para o avanço de uma educação mais horizontal e amplificada para além dos muros da escola é a percepção de que os professores não apenas ensinam, mas aprendem constantemente com os alunos. “O aluno hoje, se é um cara antenado, se joga games, se acessa a internet, se circula, já chega a uma aula de história com um conhecimento muito avançado, em alguns pontos até mais aprofundado que o professor”, explica Sayad, que já utiliza tecnologias deste tipo há algum tempo em sala de aula.

Para alcançar uma maior flexibilidade nas relações hierárquicas entre educador e educando é preciso, primeiro, que o professor se sinta seguro para usar as ferramentas junto com os alunos e passe a criar possibilidades a partir delas. A capacitação dos educadores seria, portanto, um primeiro passo para quebrar as barreiras iniciais e vencer o preconceito em relação à utilização dos dispositivos e à possibilidade de uma interação menos tradicional com seus alunos. E esta capacitação precisa ir além do conhecimento técnico dos dispositivos digitais. “O professor do futuro será principalmente um mentor e empreendedor”, afirma Gilson Schwartz, professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA)-USP e pesquisador do Núcleo de Política e Gestão Tecnológica da universidade. “Quem não souber sonhar com os alunos será substituído por máquinas e programas, aplicativos e games”, avalia.

Alexandre Sayad

O Brasil já vem desenvolvendo políticas públicas favoráveis à implementação do mobile-learning, com projetos como o UCA- Um Computador por Aluno -, mas ainda há uma série de desafios pela frente, segundo Martín Restrepo, sócio-fundador e diretor de tecnologia educacional na Editacuja Editora. Entre as limitações, estão a distribuição de dispositivos móveis nas escolas, a formação de professores e a produção de conteúdos a serem acessados de maneira remota. Mas Restrepo alerta que não adianta buscar apenas a instrumentalização da escola para o uso das TICs, é preciso construir : “É um grande erro pensar que a tecnologia tem o poder de mudar tudo. Ela tem que ser usada com pensamento”.

Em muitas ocasiões, o m-learning já está inserido no nosso dia a dia, sem que a gente perceba. Uma ida ao teatro, ao parque, ou o uso das redes sociais podem gerar tanto conhecimento quanto uma aula, como indica nosso infográfico. Vale lembrar que o m-learning deve ser percebido dentro deste conceito mais amplo: o de mobile education, que envolve não só questões diretamente relacionadas ao processo de ensino ou aprendizagem, mas também às demandas de gerenciamento educacional. Martín explica que escolas que utilizam aplicativos ou plataformas para uma avaliação do aluno, por exemplo, estão inseridas no modelo de m-education. “Hoje, a educação não é transmitir e, sim, participar e desenvolver conhecimento. É um nível de apropriação tão incrível que faz com que todo mundo se torne um desenvolvedor de conteúdos digitais”, finaliza Restrepo.

Confira nosso infográfico

 

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