Desbloquear a realidade física e fazer dela um imenso laboratório para a aprendizagem. É com essa perspectiva, que à primeira vista pode parecer complexa, que o mobile learning, ou apenas m-learning, vem ganhando espaço na educação.

Gestor de tecnologia educacional e consultor em m-learning, Martín Restrepo explica que esse “desbloqueio” acontece naturalmente quando se expande, com auxílio das TICs (tecnologias de informação e comunicação), as possibilidades de interação entre um aprendiz e os espaços virtual e físico.

A arte educadora Talita Matos geolocaliza a “poltrona” que enxergou no campus durante atividade proposta

O Instituto Claro acompanhou como funciona na prática esta dinâmica durante uma oficina promovida por Restrepo e sua equipe na Cidade do Conhecimento, na USP, e constatou que os participantes da oficina aguçaram a percepção em relação aos elementos do entorno usando celulares com aplicativos de geolocalização e mapas que conversam com um banco de dados. Foram capazes de perceber árvores frutíferas que antes passavam despercebidas, enxergaram “poltrona” em tronco de árvore, descobriram os aparelhos públicos destinados às crianças e, em cada um desses pontos, interagiram por meio da tecnologia: filmaram, fotografaram, gravaram uma mensagem de texto e depositaram  esse conteúdo, devidamente tagueado, em um grande mapa da região, disponibilizado a todos os participantes.

“Quando o uso dos recursos tecnológicos está inserido em uma metodologia de aprendizagem coletiva que contempla a criatividade, a curiosidade e a apropriação de diversos espaços e ambientes, consegue-se realizar atividades lúdicas que geram o aprendizado não formal”, afirma Restrepo.

Integrante do Núcleo Educativo do Paço das Artes, instalação da USP onde a parte teórica da oficina foi realizada, Paulo Futagawa participou da oficina e, embora não lide com as novas tecnologias em todos os projetos em que trabalha, concorda com Restrepo e exemplifica outras possibilidades: “Imagine um professor levar uma turma para o Jardim Botânico, pedir que os estudantes tagueem diversas espécies em um grande mapa, geolocalizando aquelas que considerarem mais interessantes ou curiosas e, depois, discutir esse mapa coletivo com toda a turma novamente?”.

Geolocalização da arte

Integrante da equipe do Paço das Artes, Paulo Futagawa explica dinâmica da exposição 748.600

Parceira de Restrepo nas atividades de mobile learning e na Editacuja, onde são sócios, a antropóloga Érica Casado arquitetou também a experiência da interação entre os participantes da oficina com obras da exposição “748.600”, que na ocasião ocupava salões do Paço das Artes. Ao acessar o mapa da exposição no aplicativo WildImage, os usuários, que estavam logados em um sistema onde previamente haviam se cadastrado, tinham na tela do celular a reprodução das obras presentes no salão. Bastava um clique sobre o nome do artista ou da obra e um questionário online era disponibilizado para que os visitantes escrevessem a sua interpretação e enviassem perguntas diretamente para o artista. Seguindo a lógica do compartilhamento, as impressões de todos os visitantes podiam ser partilhadas – inclusive até com quem ali não estava – no mapa, que somente após a intervenção dos usuários passou a ser coletivo. “Mas isso é uma questão de programação do aplicativo. Pode-se usar filtros e optar por não dividir tudo com todos”, explica Casado.

Contexto, experiência e desenvolvimento

Para os mentores da atividade desenvolvida na Cidade do Conhecimento, embora as possibilidades de aprendizagem com recursos mobile sejam muitas e relevantes na cultura digital, elas precisam estar em um contexto que faça sentido. E isso significa que precisam acontecer em um ambiente onde se tenha o mínimo domínio do uso dessas ferramentas – no caso de uma escola, é necessário que o professor tenha alguma familiaridade com os espaços virtuais -e precisam complementar uma proposta mais ampla de ensino/aprendizagem.

Com essa base pavimentada, as experiências podem ser desenvolvidas e exploradas de diferentes formas pelos educadores -formais ou não formais. “Cabe a cada um perceber aonde pode ir”, destaca Casado.

É verdade que a tecnologia, que neste caso funciona como meio, também pode ser um limitador caso não se disponha de celulares que leiam os aplicativos. Entretanto, uma vez com acesso aos sistemas, seja em celular, tablets ou outro dispositivo, cabe aos educadores olharem ao redor para ampliarem os limites da aprendizagem.

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