Mais do que um espaço de ensino e aprendizagem, a escola também é, por excelência, um ambiente de convivência e socialização. Nesse contexto, é compreensível que problemas de relacionamento ocorram. Para melhorar as relações interpessoais, algumas iniciativas em São Paulo (SP) e no Distrito Federal (DF) têm proporcionado formação para professores atuarem como mediadores de conflitos.

“O docente coordena reuniões conjuntas ou separadas com os envolvidos para construir, com eles, a solução a partir de suas motivações”, descreve a responsável pelo Sistema de Proteção Escolar da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SP), Leide Reisner.

“Esse terceiro é imparcial e ajuda essas pessoas a chegarem a uma compreensão das questões envolvidas para que elas próprias encontrem a melhor solução. Não cabe ao mediador impor ou sugerir um desfecho, mas facilitar a comunicação”, acrescenta o professor e mediador da Secretaria de Educação do Distrito Federal (DF), Fabiano Pereira Corrêa Sämy.

Falhas na comunicação, aliás, são o principal motivador de conflitos em escolas públicas pela experiência de Sämy. Os incidentes mais comuns incluem agressões verbais, físicas e depredação que podem envolver qualquer membro da comunidade escolar: alunos, professores, servidores, pais e gestores.

“Começa com uma comunicação violenta e pouco clara. Nem sempre o que gostaríamos que fosse compreendido fica explícito. A resposta também é agressiva e isso desencadeia uma série de problemas”, relata. “Já a depredação é um sintoma claro que o aluno não se sente incluído naquele espaço”, conta.

Para o educador, a mediação de conflitos promove um espaço de audição e cultura da paz na escola. “A escuta estimula a sensação de pertencimento. A comunidade percebe que tem voz ativa”, opina.

O diálogo, por fim, impacta diretamente na qualidade da educação. “Basta lembrar que a violência desmotiva a aprendizagem por parte dos alunos e também o trabalho dos educadores, que, não raro, adoecem”, defende o mediador.

Desafios cotidianos

Para Sämy, o mediador deve reconhecer que os confrontos existem e deve percebê-los de uma maneira positiva. “Os conflitos são necessários para provocar mudanças. Penso que a forma como iremos resolvê-los é mais importante do que simplesmente evitá-los. Para os envolvidos, o que passou serve de experiência, aprendizado e oportunidade para seguir um novo caminho”, destaca.

De acordo ainda com o docente, um desafio são os envolvidos no conflito se entenderem como iguais. “É comum o professor ter dificuldades para sentar na mesa ao lado do aluno. Há uma tendência em achar que ele é a autoridade na escola, independente da forma como tenha agido”, revela.

Para a pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC), Angela Maria Martins, outro benefício da mediação é estimular uma cultura de diálogo nas escolas. Em seu estudo, ela ouviu as impressões de professores que atuam como mediadores. “Constatamos que alguns diretores, por exemplo, optaram por chamar a Polícia Militar ou a Guarda Civil Metropolitana para resolver conflitos escolares. Isso é desaconselhável”, reforça.

Os alunos também podem ser envolvidos em atividades de mediação. “Seu envolvimento por meio de projetos específicos, de conversas individuais ou em rodas de conversa pode ampliar a compreensão, por parte de professores e diretores, para lidar com as culturas juvenis”, aponta.

Qualidades desenvolvidas

Para facilitar a resolução de conflitos, algumas atitudes são esperadas por parte do mediador. A primeira delas é não estabelecer julgamentos prévios sobre quem está certo ou errado.

“É necessário ouvir separadamente as diferentes versões sobre os fatos conflituosos que ocorrem na escola, preservando os envolvidos e levando em conta a parcialidade de cada versão”, diz Reisner. “A atuação do mediador tende a ser delicada, pois depende da credibilidade dessa pessoa junto à equipe escolar e alunos. Essa confiança pode ser construída ao longo de sua atuação, mas é fundamental que a direção da escola colabore nesse sentido”, complementa.

Para Sämy, estimular os próprios envolvidos a buscarem a solução é importante para que todos saiam da conversa se sentido contemplados. “Uma vez, dois garotos brigaram porque queriam jogar totó sozinhos, no mesmo lado da mesa. Na conversa, eles disseram que preferiam aquele lado porque um era canhoto e o outro tinha mais facilidade em jogar a bolinha. Ao final, o segundo acordou em jogar ao lado do colega, desde que ficasse responsável pela bolinha”, relata.

“Se eu fosse dar a solução, provavelmente falaria para eles trocarem de lado a cada gol. Ou seja, esse exemplo mostra que o mediador tem uma compreensão limitada do problema porque não sabe os interesses e os sentimentos das pessoas. Quando ele as estimula, elas próprias encontram a resolução do conflito”, finaliza.

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