Última sensação do mundo dos gadjets, o iPad surge como promessa de facilidade e prazer no acesso à informação e ao conhecimento. Livros se misturam a games; a internet refaz a forma de acessar um texto acadêmico; acelerômetro e touch screen permitem interagir de novas formas com o conteúdo. Seu lançamento traz novo alento à categoria dos aparelhos híbridos, que juntam características de diversos outros, como computador, videogame, smartphone e e-reader. Com o advento dos novos tablets, aponta-se também para um grande potencial educacional, que pode ser explorado tanto por seus usuários como pelos criadores de softwares.

 

Com uma tela de 9.7″ multi-touch, o iPad é voltado principalmente para jogos, entretenimento e livros. Quase a totalidade dos mais de 150 mil aplicativos da AppStore – já usados no iPhone e iPod Touch, que possuem o mesmo sistema operacional – são compatíveis com o iPad, podendo ser executados no tamanho original ou expandidos para toda a tela (com perda de resolução). Desde o lançamento do aparelho, milhares de aplicativos já foram disponibilizados especialmente para ele: jogos de corrida e baseball, revistas em quadrinhos, jornais, episódios de seriados de TV, livros de receita, leitor de ebooks (iBook), controlador de ações na bolsa de valores e muitos outros, incluindo o software da Amazon que permite ler arquivos do Kindle. Na seção educativa, há dicionários, enciclopédias, livros multimídia, calculadora, mapas, telescópio para ver corpos celestes e até um esqueleto e um cérebro em 3D.

 

Jefferson Coppola

Estudantes experimentam o kindle na Biblioteca de São Paulo

 

Cerca de 20% dos programas disponibilizados na loja da Apple são gratuitos. De acordo com uma pesquisa feita recentemente pela empresa Distimo, o iPad possui 2.385 aplicações próprias até o momento. A grande maioria delas é formada por games: 833 exemplares, ou 35% do total. Em seguida, vêm as categorias “entretenimento”, com 260 apps (11%), e “educação”, com 205 títulos (8,6%).

 

Surge um terreno fértil para os desenvolvedores de softwares. Apenas no primeiro dia de vendas da iPad App Store, estima-se que o público gastou cerca de US$ 400 mil em downloads. A californiana Kleiner Perkins Caufield & Byers (KPCB), que realiza o fundo de investimentos conhecido como iFund, lançou uma oferta pública de US$ 200 milhões para investimento em novos aplicativos para iPad.

 

Creative Commons/goXunuReviews

Na App Store do iPad, cerca de 9% dos títulos disponíveis têm como tema “educação”

 

“As oportunidades para criação de novos projetos para os tablets estão crescendo de maneira acentuada e, quanto mais cedo um empresário ou programador perceber essas oportunidades, maiores serão suas chances de sucesso. A produção no Brasil ainda caminha devagar, principalmente porque a linguagem de programação do iPhone e do iPad, a Objective-C, não é muito difundida em nosso país. Porém, nos últimos meses o número de aplicativos brasileiros de qualidade vem crescendo. O futuro parece ser bem promissor”, diz o professor Sandro Massarani, do Dominantes, um curso preparatório para o vestibular que criou uma subdivisão especializada na produção de jogos educativos para os aparelhos Apple. A Dominantes Apps desenvolveu, desde o início do ano, onze aplicativos, que estão disponíveis na AppStore por US$1,99 cada.

 

“A vantagem do uso de tablets e e-readers”, diz Sandro, “em relação aos livros e computadores comuns, é a portabilidade desses equipamentos. Em vez de uma mochila com mais de 10kg nas costas, o aluno leva apenas um aparelho. Eu vejo esses dispositivos entrando nas escolas, sim, mas ainda vai levar anos. Primeiro, eles terão de abaixar o preço, que ainda é muito alto no Brasil. Também não podemos esquecer que deve haver uma reciclagem na mentalidade dos professores e gestores de escola, que devem gradativamente deixar a mentalidade conservadora de lado e abraçar a tecnologia”.

 

Um dos trabalhos educativos mais interessantes na loja da Apple, especialmente desenvolvido para o iPad, chama The Elements: A Visual Exploration. É uma tabela periódica inovadora, com textos, fotos em alta resolução e imagens tridimensionais com visualização 360º. Custa U$13.99 (cerca de R$23) e seu conteúdo é constantemente atualizado pela conexão online. A comparação com um livro é inevitável, mas não se trata apenas uma versão eletrônica da obra impressa. É uma experiência multimídia e interativa. Outro exemplo vem da empresa Atomic Antelope, que lançou uma versão virtual do livro Alice no País das Maravilhas para o iPad, mostrando que e-books podem ganhar funcionalidades interessantes nos tablets. Em vez de um simples texto, o trabalho foi enriquecido com efeitos visuais, gráficos, figuras animadas e interativas, que se movem ao toque ou durante a movimentação do aparelho, usando seu acelerômetro. O preço de download do livro é US$ 9 (aproximadamente R$ 15), mas existe uma versão básica gratuita no site dos criadores.

 

https://youtu.be/gew68Qj5kxw

 

 

Vídeo demonstrativo do livro Alice no País das Maravilhas para iPad

 

Esses exemplos marcam apenas o início do potencial criativo do aparelho como leitor de e-books, já ultrapassando seu principal concorrente, o Kindle, nesse quesito. Animações e interatividade ainda não podem ser realizadas em telas de e-paper ou e-ink, como as usadas na maioria dos e-readers tradicionais, que tampouco permitem ler artigos direto da web. A contrapartida é que a leitura pode ser mais cansativa em uma tela LCD como a do iPad.

 

A editora Penguin divulgou alguns projetos para iPad que pretende comercializar em breve. São livros para crianças, manuais de viagem, enciclopédias de biologia e outras experiências que vão além das letras. Veja o vídeo:

 

https://youtu.be/jdExukJVUGI

 

 

Enquanto os tablets não estão incorporados ao nosso cotidiano, a Biblioteca de São Paulo – espaço cultural no Parque da Juventude, na capital – deu um primeiro passo colocando à disposição do público, além do acervo físico, sete Kindles e alguns Cool-ers para a leitura de ebooks.

 

Os conteúdos disponíveis já são bastante atrativos. Apenas na loja da Amazon para o Kindle, estão disponíveis para os brasileiros 290 mil livros eletrônicos em inglês (nem todas as obras podem ser compradas por usuários fora dos Estados Unidos). Cerca de 100 mil títulos custam abaixo de R$10 (U$ 6), e o preço do restante deles gira em torno de R$20 (U$ 12). Além dos livros, é possível realizar assinaturas eletrônicas de grandes jornais, como The New York Times, Le Monde, El País e o brasileiro O Globo. Cada edição custa U$ 2 ou, pagando R$ 9 (U$5) por semana, obtém-se acesso a todos os periódicos. Formatos como Word e PDF também podem ser acessados no aparelho, o que amplia infinitamente a possibilidade de leitura.

 

Na Kindle Store não há livros em português, pois ainda nenhuma editora brasileira realizou acordo com a empresa. Também não há possibilidade, para nós, de publicar independentemente na loja. Qualquer americano com uma conta na Amazon pode fazer isso e comercializar suas obras.

 

Creative Commons/ViaGallery

Equipamentos como o VIA Tablet PC, produzidos há algum tempo, com o iPad viraram objeto de desejo

Por aqui, entretanto, temos alguns sites que disponibilizam ebooks, como Gato Sabido e Loja Singular (ambas com preço de cada download em torno de R$ 20), Mojo BooksDomínio Público e Editora Plus (as três oferecem downloads gratuitos). Esta última, em atividade desde 2008, possui um catálogo com dezenas de livros em português – desde publicações acadêmicas e literárias até obras de auto-ajuda -, que podem ser lidos no PC, Kindle, Sony Reader, Cool-er, iPhone e até em celulares mais simples (precisam apenas ter a função Java). Eduardo Melo, editor geral da Plus, acredita que o suporte diferente ajuda os estudantes a se interessarem pelo conteúdo. “Mesmo um ebook simples, apenas pelo fato de ser lido em uma plataforma diferente, prende o interesse e estimula o aluno de maneira indireta. O celular é uma ótima ferramenta educacional”, afirma.

 

Sem fins lucrativos, a Editora Plus também é uma alternativa aos autores brasileiros, pois oferece projeção nacional e não cobra pela edição de livros. Uma equipe de voluntários – editores, revisores, diagramadores etc -, espalhados por todo o país, se encarrega do trabalho. Quem tem interesse em publicar um e-book deve mandar um trecho de seu trabalho pelo site. A empresa também desenvolve o ‘Faça um E-book na Escola’, que incentiva estudantes de qualquer nível, do ensino básico à especialização universitária, a se reunir para produzir um livro eletrônico. Quatro trabalhos já foram publicados dentro do projeto e mais dois estão em fase de edição. Um deles, de uma escola pública da Paraíba, foi traduzido para o italiano e o espanhol.

 

É evidente que algumas funcionalidades ainda faltam no iPad, como tela widescreen, opção multitarefa (rodar mais de um programa ao mesmo tempo), câmera, armazenamento expansível e porta USB. Mas, assim como o iPhone revolucionou o setor de celulares, abrindo portas para outras empresas desenvolverem aparelhos melhores, o mesmo acontece aqui. Google, HP, Nokia, Dell e outras anunciaram lançamentos de novos tablets para os próximos meses. “O iPad é o primeiro de uma série de aparelhos”, diz Eduardo. “Virão outros mais baratos e melhores tecnicamente. Já existe tecnologia para resolver problemas como a luminosidade da tela. Acredito que em uns cinco anos será um dispositivo comum, substituindo realmente os e-readers. Os livros terão novos conteúdos, serão capazes de unir estudo e prática. Isso é revolucionário”, completa.

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Talvez Você Também Goste

Confira 7 filmes para debater bullying na escola

Produções ajudam a identificar a prática e conscientizam sobre preconceitos que a motivam

Como usar fanfics em sala de aula?

Produção literária colaborativa de fãs estimula leitura e escrita entre jovens

Como utilizar a culinária afrodiaspórica no ensino de química?

Pratos como feijoada, acarajé e moqueca ajudam a abordar diferentes conteúdos da disciplina

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.