Aprovada em um concurso público, a professora de Geografia Aline dos Santos Lima, 29 anos, chegou ao Colégio Estadual Olavo Alves Pinto (Ceoap), em Retirolândia, cidade distante 220km de Salvador, com disposição para ir além dos livros e dos conteúdos tradicionais.

 

Pesquisadora do território do Sisal, região que tem um forte histórico de trabalho infantil, ela já conhecia bem a realidade local quando passou a compor o quadro da escola, em 2007. Sabia que, além da retirada dos menores da lavoura do sisal, o município de cerca de 12 mil habitantes tinha outros desafios a enfrentar. O lixo era um deles.

 

O despejo em locais inapropriados e o acúmulo de entulhos próximo a residências e comércios eram algumas consequências da falta de orientação à população sobre o que fazer com o lixo produzido. Para tentar diminuir o impacto ambiental do mesmo, a professora aliou-se a dois outros colegas que também lecionam Geografia, Matteus Freitas de Oliveira e Luciene Gomes Matos, e colocou em prática o projeto “Por uma Retirolândia verde. Eu penso verde. E você?”, um dos vencedores da modalidade Vivência do Prêmio Instituto Claro – Novas Formas de Aprender.

 

Maíra Soares

Aline Lima (centro), professora de Retirolândia, na cerimônia de entrega do Prêmio Instituto Claro

 

A iniciativa, já finalizada, foi bem sucedida e conseguiu envolver 16 turmas de diferentes séries do ensino médio na tarefa de buscar soluções para o problema do lixo. Além disso, todas as etapas do projeto contaram com o uso das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação). “Estamos falando de uma região onde muitos jovens não tiveram ainda a chance de explorar as novas tecnologias, pois é uma região carente de recursos e, para se ter ideia, muitos dos estudantes chegam ao ensino médio ainda com dificuldades de ler e escrever”, explica Aline Lima.

 

Cada uma das turmas foi coordenada por um professor e uma liderança da sala, formando o Conselho Verde. “O grau de envolvimento dos alunos foi tamanho que houve quem compusesse música ou criasse blog por conta própria”, conta a professora de Geografia. A maior parte das ações, entretanto, foi bem “orquestrada”. Após a identificação do trabalho a ser feito, as intervenções a serem realizadas nas ruas, em meio à comunidade, eram apresentadas em sala de aula.

 

“Trabalhamos muito com arte-educação. Os alunos ensaiavam peças de teatro e a primeira encenação ocorria sempre no colégio, assim todos ficavam a par do que estava sendo feito pelas diferentes turmas e podiam dar sugestões para melhorar aquela ação”, afirma Aline.

 

 

O resultado da proposta de gerar maior conscientização à população através de iniciativas que chamassem atenção das pessoas para o problema do lixo ainda não pode ser aferido. Será necessário algum tempo para avaliar se os hábitos no município realmente mudaram, se os moradores da região estão atentos aos riscos e efeitos de não atuar em prol do meio ambiente e, consequentemente, da própria saúde.

 

Mas, desde já, alguns objetivos foram alcançados, a exemplo da compreensão, por parte dos alunos, das interrelações entre os diversos aspectos do meio ambiente e das atividades sociais, que agora é uma realidade. A inserção desses mesmos jovens nos ambientes virtuais através de pesquisas e trabalhos em grupo que prezavam pela colaboração proporcionou uma inclusão digital à qual eles ainda não tinham tido acesso. Alguns até já possuíam computador em casa, muitos frequentam lan houses, mas o uso do ambiente virtual para fins didáticos, compartilhamento de conhecimento e domínio de ferramentas da web foi novidade para o grupo.

 

Todas as descobertas e aprendizados proporcionados aos alunos pelo “Por uma Retirolândia verde – Eu penso verde. E você?” foram compactadas em um evento realizado em meados de agosto deste ano, quando stands em salas de aula, apresentações cênicas e banners trabalhados em Power Point foram produzidos para sintetizar o projeto. A iniciativa, porém, não se encerrou com o evento de apresentação. Cada turma participante ainda teve de elaborar um artigo. “Estamos tentando a publicação de um livro com cerca de 200 páginas”, revela a professora

 

Entusiasmada com o reconhecimento e com o engajamento dos alunos envolvidos, os professores Aline, Matteus e Luciene já pensam numa ação mais abrangente. Segundo Aline, o próximo dessa caminhada é buscar recursos (através de editais) para desenvolver ações mais longas e que possam envolver alunos de diversas escolas.

 

 

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