A entrada das TICs no cotidiano escolar tem trazido, junto com todas as novas possibilidades pedagógicas, novíssimos desafios. A prevenção e o combate do cyberbullying é o exemplo mais atual. A expressão é usada para designar o bullying – termo inglês utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica – que vem acontecendo entre as crianças e adolescentes no mundo todo por meio da internet e cujo objetivo é humilhar e difamar. Apesar de o alvo ser qualquer indivíduo da rede virtual, o mais preocupante é que essa prática de violência tem sido realizada em grande escala entre os alunos das mais diversas idades.
A pesquisa Geração Interativa, realizada em 2008 pelo Programa EducaRede Brasil, mostra que 12% dos adolescentes entrevistados disseram ter sofrido algum tipo de cyberbullying. Desse resultado, a maioria das humilhações ocorreu pelo ambiente das redes móveis – via celular. O estudo está em sua segunda edição e acontece até agosto deste ano.
De acordo com a responsável pela coordenação-executiva do EducaRede, Priscila Gonsales, esse tipo de violência é o retrato da atual sociedade, cercada por códigos e linguagens digitais. “Cada vez mais os jovens e crianças estão conectados a esse ecossistema e a escola, por sua vez, ainda ignora todos esses recursos”, argumenta a especialista ao acrescentar que as crianças de hoje possuem outra motivação para aprender e o uso da tecnologia é indispensável para atender essa demanda.
Para Priscila, escolas não devem isolar aluno, mas fazê-lo conviver com problemas reais para que, depois, possa enfrentá-los sozinho
Priscila aponta que o bullying sempre existiu e com a era digital ele se potencializou em uma amplitude maior, indo para fora dos muros das escolas. “Atualmente, com o cyberbullying, o anonimato ou a própria invisibilidade é maior, é feito de qualquer lugar, pode ser perene à medida que não tem como tirar da rede facilmente e é rápido e cômodo para o agressor”, pontua.
Outra dificuldade é saber quem promove essa violência, já que não existe uma característica específica para o divulgador de cyberbullying. “Como antes a humilhação acontecia porque o menino ou a menina era mais forte em relação ao outro, hoje o agressor necessariamente não precisa ser uma pessoa que aparenta ter características agressivas em seu temperamento”, exemplifica Priscila.
A especialista destaca que “muitas vezes esses bullyings acontecem sem os alunos saberem que estão fazendo, porque eles não têm uma noção da amplitude de suas ações no meio digital”.
Mesmo com uma situação bem preocupante, parece que as escolas cooperam para agravar ainda mais o problema por meio de modelos enganosos de educação digital, cuja navegação tem acesso restrito ou com pesquisas dirigidas, em que o professor lista os sites a serem navegados. “Esse método de navegação adotado está fora da realidade na vida dos alunos, porque eles saem das escolas e vão ligar tudo que está disponível no mundo virtual. Ou seja, como saber dos perigos existentes na web e que atitudes responsáveis como cidadão digital o aluno deverá ter fora da escola, se a instituição não os orienta?”, questiona.
Como os professores devem proteger seus alunos?
Em primeiro, Priscila Gonsales atenta que não dá para o educador e a escola ignorar as ferramentas virtuais existentes como aprimoramento na educação. “Na medida em que se trabalha com esses recursos no dia a dia dentro de uma sala de aula, eles tornam-se mais familiares”, pontua. Isso permite que os alunos “tenham consciência do problema que possa acontecer com as ameaças virtuais na rede”.
Tornou-se primordial que os profissionais de educação tenham em mente que a proteção está vinculada à orientação. Conforme exemplifica a coordenadora do EducaRede, o professor deve mostrar aos seus alunos o significado das ferramentas de internet, assim como o conceito de web 2.0, para que eles consigam analisar os perigos existentes nesse ambiente. “Não tem como falar disso sem planejar e mostrar educativamente como funciona”.
Quando se fala na preparação de uma atividade por meio do uso da rede virtual, Priscila pontua que o professor deve produzi-la juntamente com os alunos, tendo a função de ouvir, debater e combinar o que pode ou não ser incluído no projeto. “Ele (professor) também pode trazer esse modelo de discussão para um fórum online ou um chat. O ideal é conhecer melhor os seus alunos para elaborar essa ferramenta”, afirma.
O professor precisa também buscar uma constante atualização sobre o que acontece e não ignorar o mundo fora da escola. “Não existe parede no mundo virtual e as escolas e os educadores não devem proibir ou omitir, e sim mostrar, ou seja, realizar um uso responsável”, diz Priscila.