Visitar pontos turísticos de fácil acesso do estado onde se mora, assim como construir um blog, parece atividade simples, não? Cada uma no seu mundo, virtual e real, respectivamente, mas ambas sem complexidade. O blog é recurso dos mais comuns na web e, se um internauta não sabe por onde começar, basta jogar a frase “como criar um blog” num site de busca. Mais de 2 milhões de resultados surgem na tela em formatos diversos: vídeos, podcasts, textos. Alguns minutos de leitura e a tarefa se torna simples. Já as visitas a pontos turísticos exigem deslocamento, é verdade. Mas com disposição e, se preciso for, um mapa em mãos, não há mistério.

Porém, o que parece simples pode não ser acessível. Foi o que percebeu a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC) ao constatar que a falta de recursos materiais impedia grande parte dos alunos da rede pública de desfrutar de passeios pelo próprio estado. Com a proposta de preencher essa lacuna e fazer os estudantes do ensino médio “descobrirem” o Cristo Redentor, o Maracanã e tantos outros cartões postais, surgiu o Jovens Turistas, projeto que se volta para a inclusão cultural e digital.

Além das visitas aos locais “badalados”, os alunos recebem orientações para criar um blog, onde podem trocar informações sobre a cidade do Rio de Janeiro e manter ativada a rede de contatos que se forma a cada vez que diferentes escolas são reunidas para atividades relacionadas ao projeto. Muitos dos estudantes, que não têm computador em casa e acessam a internet em lan houses ou, eventualmente, na escola, nunca tinham tentado, antes do Jovens Turistas, construir blogs, por preferirem gastar o tempo livre que têm nesses ambientes jogando, participando de programas de bate papo ou navegando em redes sociais.

Selecionadas de acordo com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) dos municípios onde estão localizadas (os indicadores mais baixos têm prioridade), as escolas participantes recebem, além de oficinas de blogs e de produção de vídeo, câmeras digitais emprestadas, para que os alunos possam produzir posts multimídia nos blogs recém-criados, com fotos e filmagens realizadas durante as “excursões”.

Há poucos dias, nove escolas da cidade de Japeri, a qual ocupa o 72º lugar num ranking de IDH que reúne 91 municípios do Rio de Janeiro, inauguraram o projeto e passaram pela experiência de desvendar o que o Rio de Janeiro tem de mais belo e famoso. Cento e vinte pessoas, sendo 80 alunos, 30 professores e 10 coordenadores, foram hospedadas no colégio Vicente Januuzzi, na Barra da Tijuca.

 

Cris Torres/SEEDU-SP

Alunos do município de Japeri a caminho de pontos turísticos

 

Diretor adjunto do colégio que serviu de albergue, Anderson Lencastre conta que os professores monitores foram mobilizados para acompanhar o grupo, o qual já havia recebido estudantes do Jannuzzi quando houve oficina para montagem de blogs. “Eles (os alunos) ficaram aqui de sexta a domingo e ouvi relatos muito interessantes, como o de uma aluna lá de Japeri que comentou que havia nascido no Rio, mas até aquele dia não conhecia nem a capital do estado”, diz.

Lencastre destaca ainda que a importância de um programa nesses moldes vai além da possibilidade de turismo cultural para jovens, pois proporciona aos professores a chance de trabalhar a educação com os seus alunos de forma mais ampla, saindo da escola e tendo uma cidade inteira ao fundo para contextualizar. Durante o processo, relata, os garotos se demonstraram abertos a discussões e mais participativos. “Eles queriam ver tudo, conhecer tudo, estavam bem entusiasmados”, relata o diretor.

A tarefa de levar os registros digitais para o ambiente virtual foi tirada de letra pelos estudantes, segundo Jader Santos, um dos coordenadores regionais da SEEDUC: “Em Japeri, os meninos têm laboratório de informática com acesso à internet, então não precisaram começar do zero, e as poucas dificuldades que tiveram depois das oficinas que participaram foram resolvidas com o intercâmbio de conhecimentos entre eles mesmos e os professores”.

Os vídeos produzidos, além de serem encaminhados para os blogs, poderão concorrer, após classificação por votação online, em uma competição que elegerá o melhor deles. De acordo com a assessoria da SEEDUC, ainda não há um formato definido para a disputa, nem a data em que será realizada. Mas os alunos das escolas participantes que não puderam participar dos passeios (os grupos são formados pelos alunos com melhor rendimento escolar) não terão de esperar até a competição para assistir às filmagens. Os colegas que integram a programação do Jovens Turistas têm a missão de preparar uma apresentação ao retornarem às escolas e dividirem com os que ficaram as impressões e os conhecimentos adquiridos.

 

Confira blogs de escolas participantes do Jovens Turistas

    • Blog do Centro Educacional Ana Nunes Viana
    • Blog dos professores dos Jovens Turistas
    • Blog da Escola Albergue

 

O professor Rafael Gomes, um dos que acompanharam os alunos na função de animador, diz que nenhuma das tarefas sugeridas ao grupo foi encarada por eles como uma “obrigação da escola”. Segundo Rafael, desde a fase de orientação, que antecede a viagem, a garotada entra no clima e se comporta, de fato, como um grupo de turistas que, na sequência de uma ida ao Pão de Açúcar ou de uma caminhada pela Floresta da Tijuca, por exemplo, tem o desafio de transportar o que viveu para a web.

A moderação dos professores nos blogs não é das mais intensas, como pode ser observado ao visitá-los. Erros de Português e linguagem informal (mais característica dos jovens) são recorrentes em alguns desses espaços virtuais. Aliás, os professores que atuam na iniciativa têm um blog à parte.

E, nesses mesmos blogs, é possível comprovar o que o professor Rafael afirmou sobre a forma como os alunos e professores enxergam o projeto. No blog criado pelo Centro Educacional Ana Nunes Viana, um dos participantes escreveu: “Conexão Alunoo.. o projetoo maiis legal que já vii!”. Com letrinhas coloridas e dobradas, que indicam entusiasmo.

Iniciado no final de agosto, o Jovens Turistas não tem data para ser finalizado. A assessoria da Secretaria de Educação informou ao Instituto Claro que a intenção é que seja um projeto contínuo e afirmou que ao menos até meados de 2010 a iniciativa está garantida.

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