O conto “João e Maria” narra a história de dois irmãos que, abandonados pelos pais na floresta devido à pobreza, enfrentam desafios para sobreviver. Eles encontram uma casa feita de doces que pertence a uma bruxa má, que os captura com a intenção de comê-los.
A mestra em educação Juliane Lobo e a doutora em ciências Thatiane Milaré usaram uma versão dessa fábula, inserida no gênero textual reconto, para ensinar sobre nutrientes e alimentação saudável no quinto ano do ensino fundamental, temas previstos no curriculo municipal da cidade de Limeira (SP), onde atuam.
“Nesta etapa de ensino, pretende-se que o estudante reconheça a importância dos nutrientes para o desenvolvimento do corpo e a manutenção da vida, e que uma alimentação saudável depende de uma dieta equilibrada, em variedade e quantidade de nutrientes”, explica Lobo.
Para as docentes, as histórias infantis podem ser utilizadas na contextualização de atividades investigativas em ciências.
“Buscamos histórias clássicas infantis que permitissem abordar aquilo que estava previsto no currículo municipal em relação a conhecimentos químicos e alimentação saudável. Como a história de João e Maria envolve a problematização da fome e a casa de guloseimas, identificamos que um reconto poderia ser elaborado para abordar os nutrientes e sua importância para o organismo”, justifica Milaré.
A proposta, porém, não era abordar ciências por meio da obra literária original. “A literatura deve ser apreciada, promover reflexões e emoções. Ela foi lida primeiro, somente depois disso apresentamos o reconto, criado com intencionalidade pedagógica”, diferencia Milaré.
Nutrientes em destaque
A sequência didática incluiu a leitura do conto original e do reconto, fichas didáticas explicando vitaminas e grupos alimentares presentes no texto, jogo de perguntas e respostas e também atividades práticas.
“Primeiramente, os nutrientes foram apresentados aos estudantes por meio de fichas previamente elaboradas com o nome do nutriente, onde é possível encontrá-lo, o que a deficiência do nutriente pode causar e a que o excesso pode levar”, explica Lobo.
Durante o reconto, para abordar a vitamina C, as professoras incluíram uma cena em que a bruxa, interessada em manter a própria beleza, ordenava aos irmãos que descobrissem a quantidade de um nutriente presente em dois litros de bebida. “As crianças deveriam, então, ajudar com os cálculos e criar o final da história”, destaca Milaré.
Também era necessário identificar no reconto quais alimentos poderiam ser fonte de energia para os personagens. Assim, foi realizada a atividade de listar os alimentos ricos em amido que apareciam no texto— como pão, bolo, bolacha, frutas e legumes — para, em seguida, fazer um experimento desses alimentos com solução de iodeto.
O tema do amido foi ainda explorado por meio de um experimento com solução de iodeto, usada para identificar alimentos que contêm esse tipo de carboidrato. A proposta era que os estudantes observassem a mudança de cor da solução em contato com os alimentos, reconhecendo assim a presença ou ausência do amido.
Quando o tema foi o açúcar, professoras e alunos aqueceram amostras de diferentes bebidas que tivessem como sabor a laranja até a evaporação da água, observando o resíduo formado, semelhante a caramelo. A partir disso, compararam visualmente as quantidades de açúcar nas bebidas. “Entre os comentários, os alunos mencionaram cheiro e tonalidade”, compartilha Lobo.
Para completar, a turma analisou os rótulos de produtos citados na história, comparando teores de açúcar e outros nutrientes.
“Entre os comentários iniciais dos estudantes na interpretação do reconto, o açúcar foi mencionado como um vilão da alimentação saudável. Ao longo do estudo, foi proposta a reflexão sobre a possibilidade de uma alimentação que, para ser considerada saudável, contemplasse os diversos nutrientes apresentados nas fichas, de forma equilibrada”, descreve Lobo.
Além da aplicação nas aulas de ciências, Lobo destaca o potencial interdiciplinar do projeto.
“Ele também dialoga com conteúdos de língua portuguesa, como conto, reconto e interpretação textual; e de matemática, na resolução de situações-problema e operações para proporcionalidade de açúcar em bebidas”, finaliza.
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Crédito da imagem: Grafissimo – Getty Images