O youtuber Ph Côrtes em seu quarto, onde grava os vídeos sobre heróis negros
brasileiros: "´papel do negro na história foi crucial" (Crédito: Divulgação)
 
Não raro as personalidades negras são esquecidas nas aulas de história. Diante dessa realidade, o estudante de 14 anos Pedro Henrique Côrtes, ou Ph Côrtes, como é chamado, decidiu utilizar o seu canal no YouTube como ferramenta para difundir a trajetória desses homens e mulheres. Nascia, assim, o quadro “Meus Heróis Negros Brasileiros”, no ar desde novembro de 2015. A iniciativa aconteceu após o jovem ganhar de presente um ingresso para a peça "O Topo da Montanha", com Lázaro Ramos e Taís Araújo. O espetáculo faz alusão à última noite de Martin Luther King – ativista político do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.


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“Essa peça mexeu comigo e eu pedi para minha mãe as biografias de Luther King, Mandela e Malcolm-X. Ela disse que me daria de presente, com a condição de que eu pesquisasse sobre os heróis negros brasileiros”, conta o estudante. “Ao pesquisar, encontrei muitos heróis. Eu já tinha o meu canal no YouTube, que falava de assuntos variados. Então minha mãe sugeriu que eu fizesse um vídeo falando dessa descoberta no Dia da Consciência Negra”, relembra.
 
Segundo o estudante, cada nova descoberta é surpreendente. “Foi legal, por exemplo, descobrir que Dandara era tão líder quanto Zumbi e detinha práticas de guerrilha. Era ela que treinava homens e mulheres enquanto Zumbi, por ter estudado álgebra, era fera na estratégia”, empolga-se. “Tem também Machado de Assis, que nasceu de etnia negra, conforme registro de nascimento. Mas, após ter se tornado célebre, o médico que fez sua certidão de óbito o atestou branco”, relata.
 
Com mais de dez mil inscritos em seu canal, Pedro procura lançar um vídeo por semana. As gravações ainda ocorrem em seu quarto, mas agora com uma infraestrutura melhor. Hoje, o estudante já possui câmera, tripé e kit de iluminação. Também, conseguiu patrocínio de uma livraria e de duas marcas de roupas. 
 
“No começo, o que eu ia descobrindo, ia gravando. Agora, temos um cronograma onde contemplo as diferentes regiões do país, o equilíbrio entre homens e mulheres, as diferentes profissões e os diferentes momentos históricos. Muitos heróis são trazidos pela audiência inscrita no canal”, destaca.  Sua meta, agora, é melhorar a qualidade do audiovisual. “Em honra aos homenageados, pela sua grandeza e importância”, justifica. 
 
Quebra de estereótipos
Para Pedro, o pouco espaço dado aos heróis negros nas escolas é um problema generalizado. “No meu caso, falaram rasamente sobre Zumbi apenas no mês de novembro. Percebo por meio da galera que me segue que isso se repete no ensino de forma geral, mas, principalmente, nas escolas particulares”, relata. “Os negros foram cruciais em toda a história. Seu papel não se restringiu somente à capoeira, samba e feijoada”, decreta. 
 
Segundo o jovem, iniciativas como a sua são importantes para a valorização cultural e histórica do povo negro. “Querendo ou não, falar que somente os bandeirantes foram heroicos dá ao povo europeu e descendentes um local de destaque, que é legítimo, mas que não pertence somente a eles. Que a sociedade dê importância a todos. Fala-se em diversidade e igualdade, mas quando as histórias destes heróis terão o mesmo espaço que a história dos colonizadores?”, questiona.
 
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Atualizada em 15/03/16, às 10h05
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