Em um mundo permeado por novas mídias, que têm definido as maneiras de as pessoas se comunicarem e se informarem, as escolas enfrentam o desafio de se manterem atualizadas para fornecer aos alunos uma compreensão das novas linguagens digitais e audiovisuais que fazem parte do cotidiano.
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No projeto Cartografia dos Sentidos, diversas linguagens se complementam nos mapas
Algumas iniciativas já surgiram neste sentido, procurando mostrar o processo de produção de discursos e conteúdos em meios digitais, como as redes sociais e outras inovações da web 2.0, mas o desafio, na opinião de especialistas, vai muito além de instrumentalizar os alunos. Trata-se de abrir a caixa preta dessas mídias e linguagens, dando autonomia para que o estudante possa fazer suas próprias descobertas.
“É importante que o aluno entenda o processo e as funcionalidades que as tecnologias podem ter para cada um. Muitos trabalhos trazem a questão, mas não abrem a caixa preta. E isso é fundamental”, afirma Regina Helena Alves da Silva, coordenadora do Centro de Convergência de Novas Mídias, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). A professora completa dizendo que a tecnologia não precisa ser o fim, mas deve ser um meio e um componente do processo, já que este é o mundo em que vivemos. “Não me importa que o produto final seja outra coisa. O importante é o aluno entender o processo, ter mais autonomia e saber o que está acontecendo.”
Para Lucia Santaella, professora da pós-graduação em comunicação e semiótica da PUC-SP e autora, entre outros livros, de “Navegar no Ciberespaço: o Perfil Cognitivo do Leitor Imersivo”, de fato há uma revolução na comunicação ainda mais radical que a promovida por Gutemberg, e essa revolução está impactando outras áreas da sociedade, como a economia, a política e principalmente a educação. “A própria natureza da linguagem escrita está mudando, porque nas redes sociais, por exemplo, ela não vem mais sozinha, como no livro. Está acompanhada de animações, vídeos e imagens”, aponta. Um exemplo disso pode ser visto no vídeo abaixo.
Se os nativos digitais têm familiaridade com as novas linguagens, para Santaella, as escolas enfrentam um problema crucial para atuar com essas novas mídias e linguagens, que é a formação dos professores. “O que a escola precisa é mudar a sua mentalidade. O grande desafio é integrar essas mudanças, sem jogar fora o passado, através de projetos, não com atitudes intempestivas e dispersas”, afirma.
https://youtu.be/tgtnNc1Zplc
Convergência na aprendizagem
O projeto Cartografia dos Sentidos, iniciativa conduzida pelo Centro de Convergência de Novas Mídias da UFMG, é um exemplo dessa mistura de linguagens, que procura provocar o aluno a experimentar as várias formas de expressão. Atualmente, o trabalho é realizado com alunos do ensino fundamental da rede pública de Belo Horizonte e estudantes de licenciatura da universidade e envolve atividades como desenho, escrita, fotografia, música, além de edição de imagens e sons no computador.
O objetivo é sempre fazer um mapa de uma determinada região, mas como essa localidade será recriada fica a critérios dos envolvidos. Regina Helena Alves da Silva, que também é professora do departamento de história e de pós-graduação em comunicação social, conta que o início do processo é o levantamento de registros. Alunos da universidade monitoram essa e as demais etapas, partindo da percepção dos mais variados discursos e fontes dentro de uma comunidade ou local, que será então mapeada pelos participantes.
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Os alunos utilizam softwares de edição de imagem, som e vídeo para construírem mapas sensoriais
“Começamos a trabalhar o imaginário constituído sobre aquele lugar. Nesta etapa, o aluno desenvolve sua habilidade motora, uma vez que desenha, escreve e depois leva isso para o computador. A partir daí vem a etapa em que ele aprende a editar o desenho, utilizando softwares.” A coordenadora afirma que o conceito por trás dessas atividades é fazer os alunos entenderem que, no computador, há uma linguagem que gera aquelas imagens. “Se ele não quiser aprender a fundo a linguagem, tudo bem. Mas é preciso entender, já que é no ensino fundamental que se desenvolve o raciocínio matemático e linguístico”, coloca. Para esse desenvolvimento, é necessário, em sua opinião, a presença de um professor e a inclusão desse tipo de atividade no currículo pedagógico. “O professor deve estar envolvido desde o início.”
Formação de profissionais para atuar com as novas mídias é também uma preocupação das universidades
Universidades também começam a incorporar as novas mídias em seus currículos, absorvendo assim uma demanda da sociedade por novos produtos e profissionais para atuar em áreas que crescem a cada dia, como o mercado de games (educativos e de entretenimento), vídeos para celular e tablets, entre outras.
Renata Gomes, coordenadora do curso de pós-graduação em roteiro audiovisualno Senac-SP, conta que a instituição já reserva semestres e disciplinas, tanto no bacharelado quanto na pós, para áreas de roteirização para games e de vídeos interativos. A ideia é que, em um mundo marcado por inovações constantes, os alunos possuam potencial para acompanhar as mudanças, adaptando-se às diversas linguagens que surgem a cada instante nesta revolução comunicacional.
Para ela, são áreas em que são exigidas muitas competências do aluno ao mesmo tempo e, por isso, é necessário que, além do repertório tradicional a respeito de conceitos como narrativa, o aluno saiba conteúdos básicos sobre programação e o funcionamento desses novos meios. Renata aponta, porém, que não se pode abandonar o estudo de linguagens verbais e escritas –as mais “tradicionais”. “É preciso conhecê-las, até mesmo para inovar”, aponta.
* Colaborou Cleide Floresta
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