O sinal para o recreio bate e em meio a tantos alunos no pátio, um chama mais atenção: está com um tablet e colegas sentam a sua volta. “Estava pesquisando para a aula de história, do professor Rafael, um assunto que vai cair no simulado do Enem”, conta Lucas Augusto Ribeiro, de 16 anos, aluno do terceiro ano da Escola de Referência em Ensino Médio Joaquim Távora, em Recife (PE).

Desde o segundo semestre do ano letivo de 2012, os alunos dos segundos e terceiros anos do ensino médio da rede pública estadual passaram a receber tablets gratuitamente, por meio do Programa Aluno Conectado. O objetivo do governo pernambucano é levar a tecnologia digital para dentro da sala de aula. “Se eu não quiser trazer o caderno, posso escrever aqui dentro. Têm os livros das matérias também”, completa Lucas, quando perguntado se o uso do equipamente trouxe facilidades.


Lucas, do terceiro ano do ensino médio, utiliza o tablet para pesquisa

Um dos softwares incluso no tablet é o chamado Educandus, que oferece o conteúdo de dez componentes curriculares (português, literatura, matemática, história, filosofia, geografia, biologia, química, física e artes). Assim, o estudante tem no equipamento o que é ensinado em sala de aula.

Apesar de estar no primeiro ano do ensino médio, Lídia Emanuelle de Sena, de 15 anos, também utiliza o tablet, mas emprestado do amigo. Ela está no Facebook: “Provável que ano que vem eu também ganhe. Não ajuda só a gente, mas a escola. Além do divertimento, de poder acessar redes sociais nos intervalos, colabora nas nossas pesquisas e trabalhos”, acredita ela.

Ficou definido que os tablets devem ser entregues, inicialmente, nas escolas localizadas em municípios com mais de 300 mil habitantes, e também nas 23 unidades que obtiveram notas maiores do que cinco no Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (Idepe). Mas, apesar do início do ano letivo em fevereiro, o processo de entrega ainda está ocorrendo. Uma remessa de 114 mil novos equipamentos deverá estar com os alunos que ingressaram no segundo ano em 2013. O número soma-se aos 156 mil que foram entregues em 2012, quando o investimento do governo foi de R$ 106 milhões.


Durante o intervalo, alunos acessam o Facebook

Na Joaquim Távora, desde o ano passado, 360 alunos de segundos e terceiros anos dos turnos da manhã e tarde receberam os tablets. “Só o pessoal da noite que não tem. Estão loucos para receber, mas ainda não temos previsão”, diz a coordenadora pedagógica Enalva Santos Farias. Ainda, há turmas de segundo ano na parte da manhã sem o equipamento.

Apesar de estar no terceiro ano, Daniela Barbosa de Souza, de 16 anos, também está sem tablet. Ela veio de uma escola em Belém (PA). “Fica mais fácil aprender com o tablet, porque acho que fixamos mais [o conteúdo] na mente. Estimula o raciocínio logico e rápido”, acredita ela, mesmo sem o acesso. De acordo com a diretora da escola, Maria da Guadalupe Freitas, o caso da jovem é pontual e está contemplado no pedido de novos equipamentos. A Secretaria de Educação do Estado informou que o atraso na entrega é devido ao processo moroso de licitação para compra de novos tablets.

Tecnologia e ensino
Prestes a completar um ano do início do recebimento dos equipamentos, o professor de história, geografia, sociologia e filosofia, Raphael Xavier Barbosa, ressalta que a utilização da tecnologia em sala de aula está em evolução: “No começo, os alunos não conseguiam usar o tablet para a aprendizagem, queriam ficar baixando música e fazendo outras atividades. À medida que vão compreendendo que a tecnologia veio para melhorar o ensino, começaram a usar melhor”. “Como toda inovação, teve um período de adaptação, conseguir conscientizá-los que receberam para fins do conhecimento, melhorar a qualidade de ensino”, completa Enalva.
 

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Para Barbosa, o tablet ajuda principalmente pela facilidade de acessar a internet. Quando surgem dúvidas sobre determinado tema ou o professor pretende que os alunos visualizem uma imagem, pode ser feita uma consulta em tempo real. “O aluno obtém respostas rapidamente que o professor não conseguiu prever na preparação da aula”, exemplifica.

Nas aulas de história dos segundos anos, Roma é a temática a ser estudada no momento. Após mostrar a imagem do Coliseu, uma pergunta desencadeou uma série de assuntos: “professor, o que se fazia nesse Coliseu?”. “Então vamos conversar sobre o período romano, os gladiadores, a ideia do pão e circo, o porquê aquela arquitetura foi planejada. Saímos de uma aula simples de geografia, para relacionar com outros conteúdos. Ao falar de arquitetura e o que se fazia, você discute história, como era a estrutura da sociedade romana para que aceitassem aqueles jogos sangrentos, o que os romanos faziam. Tudo isso por meio de uma imagem que foi proporcionada pela internet”, explica o professor.

“Assim, surge a parte do debate. Porque sem o diálogo, você não consegue trabalhar com a tecnologia. Com as dúvidas, você vai ampliando o nível de conhecimento dos alunos. A mídia modifica a aula tradicional que é no quadro, é um recurso a mais”, pontua Enalva.


Professor Raphael se prepara para iniciar aula de filosofia em
uma turma de terceiro ano

Também, algumas atividades já são entregues por e-mail, bem como os trabalhos corrigidos são devolvidos pelo meio online. “Então, o ambiente de aprendizado não fica restrito a escola. O aluno pode se comunicar por meio do e-mail e pode ter outras experiências no ambiente virtual. É um ganho importante”, conclui Barbosa.

Os tablets são dados aos alunos em regime de empréstimo, que terá validade até o aluno ser aprovado no terceiro ano do ensino médio. Se sair da escola antes de completar seus estudos, terá que devolver o equipamento. Agora, se terminar os estudos, poderá ficar com o tablet para ele.

Muito além da lousa
Além dos tablets, outro programa relacionado à tecnologia disponível é o P3D, a chamada lousa digital. São 300 escolas monitoradas pelo Pacto pela Educação, que contam com o projeto. Por meio do equipamento, é possível ensinar com imagens em três dimensões.

Durante uma aula de química, no primeiro ano do ensino médio da Joaquim Távora, os alunos aprenderam sobre o átomo de Bohr. Com o recurso 3D, foi possível visualizar como um elétron recebe energia, possibilitando a existência da luz, de fogos de artifício e a utilização de lâmpadas de neon. O investimento da Secretaria de Educação do Estado foi de R$ 9 milhões.

No entanto, o recurso precisa ser mais utilizado, segundo os alunos. “A última vez foi no começo do bimestre. Usamos em média uma vez por mês. Nem todos os professores tem familiaridade com a lousa nova e temos que usar mais a tecnologia avançada”, conclui o aluno do terceiro ano, Thales Alexandre Silva, de 16 anos.


Professora demonstra na lousa digital como um elétron recebe energia

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