Uiramutã é um município brasileiro. Já ouviu falar? Fica no estado que abriga também Pacaraima. Este também não lhe soa familiar? Mais uma dica: ambos estão no Norte do país. Nenhum lampejo na memória? Ok. Você é apenas um dentre milhões de brasileiros que não sabem, sequer, que esses lugares existem. E que, dificilmente, terão a chance de conhecer tais cidades. Uiramatã e Pacaraima ficam no estado de Roraima, em regiões de fronteira. O primeiro encontra a Guiana e a Venezuela. O segundo, apenas a Venezuela. Regiões de mata, de floresta, de dificílimo acesso – para pessoas e recursos. No entanto, devido às novas tecnologias, nem tudo é sempre tão diferente dos grandes centros urbanos do país. A educação, por exemplo.

 

Filhos de militares que figuram entre o 6º e 9º ano do Ensino Fundamental ou em qualquer uma das três séries do Ensino Médio, matriculados no Colégio Militar de Manaus, têm acesso, nas áreas fronteiriças do Norte, ao mesmo padrão de ensino de que dispõem os alunos que assistem aula nos 12 colégios militares espalhados por capitais do Brasil. A iniciativa que possibilita tal igualdade é o projeto de Convergência de Mídias do Curso Regular, um dos vencedores do Prêmio Instituto Claro na categoria Desenvolvimento.

 

Monitorado pelo Colégio Militar de Manaus, o projeto contempla atualmente 378 estudantes. Se estes não dispõem de professores ao lado para tirar as dúvidas que surgem durante o estudo das disciplinas, já que a maior parte das atividades é realizada em ambiente virtual, ao menos desfrutam da possibilidade de fazer o seu próprio horário, dispensando mais horas de dedicação às disciplinas em que têm maior dificuldade.

 

Efraim dos Santos, 11 anos, mora em São Gabriel da Cachoeira (AM), onde o seu pai, o major dos Santos, serve ao Exército. A rotina do garoto inclui estudo a manhã inteira, no computador e nas apostilas cedidas pela instituição, e mais uma lida nos conteúdos educacionais à tarde. A tradicional farda não é necessária. Se quiser, Efraim pode estudar de pijamas. O pai do adolescente, entretanto, afirmou ao Instituto Claro que a flexibilidade que um curso EAD oferece não é confundida com indisciplina. “O Efraim estuda das 7h30 às 11h, diariamente.”

 

O garoto poderia estar matriculado em uma escola regular. São Gabriel da Cachoeira, assim como a maioria dos municípios de fronteira onde o Exército atua, possui escolas. A escolha pelo método a distância foi do oficial e da sua esposa. “Avaliamos e optamos pelo padrão de ensino do Colégio Militar, pois tive a oportunidade de estudar numa das unidades, quando jovem, e realmente é excelente”, justifica o major.

 

https://youtu.be/mq7MOL-x70w

 

 

Efraim revela que, às vezes, sente dificuldades durante os atividades. “Tenho de tirar as dúvidas com meus pais. Quando eles não conseguem me ajudar, espero até o dia de ir ao quartel ou envio perguntas por e-mail”, conta o garoto, que se entusiasma ao ser indagado se gostaria de voltar a estudar em método presencial e, na sequência, fala com uma certa maturidade sobre a sua atual experiência: “Eu adoraria ir para escola, mas o ensino a distância foi uma coisa nova na minha vida, achei legal e hoje estou bem adaptado.”

 

Coordenador do projeto de Convergência de Mídias do Curso Regular, o major Santos Silva, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras e especialista em EAD, revela que a iniciativa, pensada para atender os jovens que acompanham a família em áreas fronteiriças, foi expandida também para alguns países onde o calendário escolar difere do adotado no Brasil. “Dependendo do lugar, o ano letivo pode começar em maio, em setembro. Antes do nosso programa, isso fazia com que muitos estudantes se prejudicassem ao retornar ao Brasil e até tivessem de repetir de ano”, diz o major.

 

Reconhecido pelo MEC, o programa de ensino desenvolvido pelo Exército já funciona em seis estados do Brasil e em 33 países. Apostilas, CD-Room e uma plataforma online disponibilizam conteúdos de Ciências, Geografia, História, Inglês, Matemática e Português. Na web, cada aluno precisa de login e senha para acessar a peagina do projeto e só consegue navegar pelos conteúdos cadastrados em sua respectiva série. A aprendizagem é averiguada por meio de provas. “O Exército é uma instituição tradicional, por isso, mesmo com as dinâmicas online, as provas são feitas nos quartéis, com data e hora marcada”, diz o major Santos Silva.

 

Segundo ele, a constatação de que esse sistema de ensino funciona e mantém um bom padrão de qualidade é tida quando se observa o desempenho dos alunos que voltam a estudar em colégios militares, de forma regular, após passarem pela EAD. “Observamos que 85% dos alunos têm readaptação plena, 8% apresentam dificuldades e apenas 7% não se adaptam, apresentando muita dificuldade”. O militar revela ainda outro dado interessante: “Quanto melhor a escolaridade do pai, melhor o desempenho do filho que participa do programa”.

 

Melhoras no horizonte

O projeto de Convergência de Mídias do Curso Regular vem passando por atualizações e melhoras desde que foi criado. Inicialmente, por falta de acesso à internet nas regiões inóspitas, o ambiente virtual não era utilizado. Os estudantes recebiam material impresso, a exemplo das apostilas, e as dúvidas que tinham eram tiradas via fax ou telefone.

 

 

Com o Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac), a internet se tornou uma realidade em locais remotos e passou a ser possível trabalhar para promover a aprendizagem a distância em rede. “Agora, com a premiação do Instituto Claro, vamos melhorar o material didático, fazendo reformulações que visem integrar de forma direta o material impresso com o material virtual”, explica o major Santos Silva, que revela ainda um próximo passo do projeto. “Vamos inaugurar em breve um ambiente no Second Life. Alunos terão seus avatares e será uma forma ainda mais dinâmica de promover essa aprendizagem.”

 

Embora o Colégio Militar de Manaus seja o único da rede a ter autorização para fazer uso da EAD, o coordenador do programa afirma que já se estuda a ampliação para outras unidades. “Nesses casos, o ambiente EAD não seria uma prioridade como aqui no Norte, onde as condições geográficas justificam o destaque que damos a esse sistema, mas seria mais uma possibilidade para os estudantes que conhecem e gostam do mundo virtual”, analisa.

 

Conheça outros ganhadores do Prêmio Instituto Claro

O Portal do Instituto Claro está realizando uma série de reportagens com os ganhadores do Prêmio. A ideia é dar maior visibilidade às iniciativas vencedoras, que mostram novas formas de usar a tecnologia nos processos de aprendizagem.

 

Além deste texto, já se encontra o portal uma reportagem sobre o projeto Iniciação à Docência em Física, realizado em Cuiabá/MT. Visite este Portal e confira, nas próximas semanas, reportagens sobre os outros ganhadores.

 

 

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