Bruno Poljakan cursava economia e se interessava por tecnologia e música. A partir de um convite da equipe do Circuito Fora do Eixo, uma rede colaborativa de produtores culturais, ele e seus colegas de faculdade resolveram usar a experiência acadêmica para investir no mercado cultural brasileiro. O resultado foi a criação do Toque no Brasil, portal que já funciona com uma versão beta e, em 2011, será lançado oficialmente. Estruturado como uma rede social, a proposta do site é possibilitar que músicos e produtores culturais troquem informações entre si, divulguem seus trabalhos e criem parcerias de negócio.

A grande diferença entre o Toque no Brasil e outras redes sociais culturais diz respeito à realidade brasileira. Diferentemente de outros portais do gênero, o site pretende ser uma plataforma que visa a profissionalização. Para isso, vai divulgar vagas de trabalho, oferecer capacitação e serviços de orientação, como dicas para montar uma turnê ou fazer um release de divulgação, além de propor fóruns de discussões.

Divulgação

Toque no Brasil: rede social profissional para artistas e produtores

São projetos como esse que dão impulso à economia criativa, que cada vez mais se firma como geradora de novos negócios, garantindo um desenvolvimento mais sustentável, tendo como um dos seus principais pilares o capital humano. A especialista Lala Deheinzelin, assessora da unidade especial de cooperação do Sul-Sul da ONU, ressalta que as tecnologias têm um papel determinante nesse processo, uma vez que potencializam a possibilidade de réplica, aumentando a pluralidade de opções colaborativas. O errado, diz, é pensar a cultura apenas como sinônimo de expressões artísticas. “A cultura engloba muito mais, a gastronomia, os costumes, a língua local, o comportamento, a identidade de um povo”, afirma.

Sob esta ótica, Lala explica que o que ocorre hoje é uma culturalização dos negócios, onde a economia criativa não é mais uma opção e sim uma necessidade das empresas em busca de novos mercados e competitividade. Isso se reflete em empresas atentas à necessidade de semear no presente uma economia preocupada com a marca e com o significado que ela tem para público. A especialista separa a realidade econômica em duas e a compara ao funcionamento de ecossistemas. De um lado, o ecossistema que envolve os recursos naturais, portanto não renováveis, referenciando a economia que se preocupa apenas com o produto. Do outro, o ecossistema que envolve os recursos imaterias (como um conhecimento ancestral, um saber), ou intangíveis, em uma analogia à economia criativa. Seguindo esse raciocínio, ela conclui que, ao mesmo tempo em que o primeiro ecossistema não é renovável, ele precisa da preservação biodiversidade para continuar existindo. Assim, o segundo ecossistema fica responsável por desenvolver e estimular a diversidade, e portanto a criatividade, para que seja possível surgirem negócios ilimitados para uma economia perene e inesgotável.

Tecnologia: a grande aliada

Mesmo tendo outro peso, a economia criativa, assim como qualquer outra indústria, está preocupada com os preços dos processos. Nesse sentido, as tecnologias da informação e comunicação aparecem como grandes aliadas na economia criativa, seja para viabilizar ou potencializar um novo negócio. Um dos meios mais favoráveis para desenvolvimento da criatividade está no campo digital. Um software de um programa de arte, por exemplo, pode custar um valor que obviamente é superior ao custo da mídia, o CD que é utilizado como meio de transportar aquele conhecimento. Porém, o que está sendo levado em conta é a ideia e o desenvolvimento do criador. E assim têm sido com vários “produtos” culturais.

Patrimônio cultural

Segundo Lala, o desenvolvimento da economia criativa no Brasil, porém, só será efetivo caso a sociedade repense o modelo exclusivamente econômico e passe a valorizar outro tipos de moeda de troca, como o conhecimento e as experiências. “Criatividade e cultura são recursos abundantes, especialmente nos países do Hemisfério Sul e representam um enorme patrimônio, que pode provocar uma revisão no conceito de riqueza e pobreza. Recurso é muito mais do que dinheiro e deve, além do econômico, incluir as dimensões cultural, social e ambiental”, afirma Lala.

Um exemplo disso foi o que aconteceu na cidade de Barbacena. Conhecida como a  Cidade dos Loucos, por abrigar hospitais psiquiátricos, resolveu tirar proveito positivo da alcunha e criar o Festival da Loucura, no qual grandes artistas brasileiros vão mostrar para a população da cidade e seus visitantes uma programação de entretenimento gratuito com direito a Salão do Humor e ao Museu do Inconsciente.

Então, pensar em economia criativa é repensar as moedas presente na economia tradicional. Mas isso não quer dizer deixar de pensar em um modelo econômico que gere receita. “Hoje a moeda é o capital humano, cultural, social, ambiental, e essas moedas são capazes de agregar mais valor às empresas e gerarem mais lucros do que a preocupação única com o valor econômico pensado anteriormente.” Prova disso, é o crescimento de empresas em busca do valor agregado. “Medir o número de músicos que se profissionalizou com o Afroreggae, por exemplo, é como medir litros com régua. Quanto vale a autoestima de uma comunidade? Quanto vale acreditar que há futuro?”, afirma Lala. Pensar em economia criativa hoje é pensar em uma economia inclusiva, cooperativa, e que necessita de outro tipo de escambo, a troca de aprendizados.

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