Popularizada por recentes produções cinematográficas, a tecnologia tridimensional vem ganhando espaço em nosso cotidiano. Salas de projeção modernas, televisores 3D, conteúdos no Youtube, videogames e até em celulares. Por que não utilizar essas novidades em prol da educação? Além de prender a atenção dos alunos, a terceira dimensão pode proporcionar ou facilitar o aprendizado de conteúdos diversos. E alguns projetos já estão dentro das escolas.

 

Guilherme Hartung

Os alunos aprendem na prática, através de situações-problema, como lidar com a tecnologia 3D

 

Uma iniciativa pioneira acontece no Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo. Desde o início do ano, o Consa é a única instituição de educação básica do país com um curso de produção 3D em sua grade. Alunos do 9º ano do ensino fundamental ao terceiro colegial podem optar pela matéria, que tem duração de dois anos. “Estou sempre pesquisando novas maneiras de fazer uso da tecnologia no colégio. A ideia é que a ferramenta não seja um fim, mas sim um meio, contextualizada no aprendizado. Observando meu filho de três anos, conversando com estudantes e analisando o mercado de trabalho, resolvi desenvolver um trabalho de terceira dimensão. O foco do curso é o entretenimento, mas as habilidades aprendidas aqui podem ser usadas em projetos de áreas variadas, como engenharia, arquitetura e física. É uma profissão de futuro”, diz Fabiano Gonçalves, responsável pela área de Tecnologia Educacional do Consa.

 

A primeira etapa do curso tem foco nos recursos básicos de 3D, como ferramentas de modelagem, textura e iluminação. Os alunos começam criando objetos inorgânicos – como mesas, cadeiras e casas – e, conforme avançam, passam para figuras orgânicas, com expressões, movimentos e voz. O diferencial das aulas é oferecer uma situação-problema para que os estudantes resolvam, e não uma explicação teórica comum. Fabiano ressalta que em vez de aprender os conceitos e só depois ir para a prática, a escola estimula a aplicação do conteúdo na própria aula. “Trabalhamos com uma metodologia de problematização e colaboração”, afirma. “O professor é um mediador, que explica os recursos técnicos que o aluno ainda não sabe sozinho. Mas ele não dá a receita pronta. São os jovens que constroem o desafio, interagindo com os colegas”.

 

Vale destacar que parte da carga horária do curso é cumprida via EAD. Além dos encontros presenciais, os alunos devem apresentar trabalhos em um ambiente virtual. “Percebo que eles dedicam muito tempo fora da escola ao software, extrapolando o número de horas que pedimos. Mostram trabalhos para os colegas, compartilham links e tutoriais com a sala toda. Até os pais acabam envolvidos nesse processo”, completa Gustavo.

 

Guilherme Hartung

O projeto O Fantástico Mundo 3D nasceu do interesse dos alunos pela tecnologia

 

Outro bom exemplo de projeto é o Fantástico Mundo 3D, desenvolvido pelo professor Guilherme Hartung, do Colégio Estadual Embaixador José Bonifácio, no Rio de Janeiro. O trabalho surgiu despretensiosamente, a partir de uma conversa entre o professor e alguns alunos, no intervalo das aulas. “Eles me questionaram sobre o recente sucesso de filmes em terceira dimensão, mostrando uma típica confusão entre vídeos com inserção de personagens criados em softwares de modelagem tridimensional, como Transformers, e aqueles que usam tecnologias de visualização 3D”, lembra Guilherme. Alice, Avatar e Toy Story, por exemplo, ganharam versões específicas para salas de cinema diferenciadas, que contam com sistema de projeção 3D. O espectador consegue visualizar o efeito apenas se utilizar óculos com lentes especiais. Ele explica que “a produção tem o objetivo de ‘enganar’ o cérebro, para fazê-lo acreditar que as imagens são realmente tridimensionais, dando a impressão que os objetos e personagens estão ‘saltando’ da tela. Para isso, deve-se usar um óculos polarizado ou anáglifo [aquele com lentes vermelha e azul]”.

 

A explicação não foi suficiente para acalmar a curiosidade dos jovens, que nunca haviam experimentado a nova tecnologia – em Petrópolis, ainda não há um cinema 3D. Diante do assunto, o professor enxergou uma possibilidade educativa. “Me dei conta da quantidade incrível de conteúdos de geometria, física e biologia que estavam envolvidos no tema. Ângulo de sobreposição dos olhos, polarização da luz, visão binocular, componentes, reflexão e refração da luz são só alguns dos conteúdos abordados. Foi então que percebi o gigantesco potencial pedagógico do tema, como uma tecnologia multidisciplinar, interdisciplinar e de grande atração para os jovens”, diz Guilherme. Visando a incrementar suas aulas, ele ousou ao criar o grande trunfo do projeto: um sistema de exibição de baixo custo. Os filtros polarizadores, óculos polarizados e uma tela adaptada custaram menos de 200 reais. Somados aos dois projetores da escola, o resultado foi um verdadeiro auditório 3D.

 

Guilherme Hartung

Conteúdos curriculares podem ser abordados de forma dinâmica, despertando a atenção dos alunos

 

Oportunidade de negócio

Algumas empresas estão se especializando em oferecer sofwares com material educacional em 3D para instituições de ensino. O Eureka, produzido pela Designmate, traz animações e gráficos com conceitos de diversas matérias do ensino fundamental, médio e superior. São 650 conteúdos em terceira dimensão, envolvendo Matemática, Ciências, Biologia, Física e Química. Embora as narrativas estejam em inglês, há a possibilidade de traduzir o software para o português e de ajustar os tópicos à realidade brasileira. Taís Ribeiro, analista de marketing da Absolut Technologies, que distribui o software no país, conta que, devido ao boom do 3D, a empresa criou asoluções para escolas do ensino fundamental, que vão desde um simples sistema de projeção portátil até um complexo auditório/cinema 3D. “Através da parceria com a Designmate, recebemos mais de 2.000 conteúdos didáticos, que estamos traduzindo. Eles também podem ser utilizados sem áudio, permitindo maior explicação do professor”, diz.

 

Guilherme Hartung

Por permitir atividades lúdicas, a tecnologia 3D pode tornar as experiências em sala de aula mais completas

No Brasil, o Iesde (Inteligência Educacional) acaba de lançar o projeto ‘Como funciona’, similar ao Eureka. É uma coleção de conteúdos para ser utilizada em sala de aula, colaborando, principalmente, para a visualização do aluno. Temas como relevo dos países, constituição do corpo humano ou geometria ganham nova roupagem com o recurso 3D. “O material agrega um diferencial na aprendizagem, motivando o aluno a uma interação com o assunto e o professor a partir de uma linguagem já conhecida e admirada por ele. É uma ferramenta perfeita para quem tem dificuldade de visualização por causa das três perspectivas dada às formas”, analisa o coordenador de projetos do Iesde, Marco Antônio Ribas Vieira.

 

As tecnologias 3D podem contribuir de diversas formas para o processo de ensino-aprendizagem e até motivar até os jovens mais desatentos. “Nosso projeto é importante tanto pelas aulas – onde abordamos, de forma interdisciplinar, todos os conceitos curriculares exigidos para se entender a técnica (geometria, física, biologia) -, como pela utilização das imagens e vídeos produzidos pelo grupo, nas mais diversas disciplinas”, afirma Guilherme Hartung. “Imagine visualizar um inseto, uma molécula, um relevo geográfico ou um sólido geométrico tendo a sensação de que esses objetos são tridimensionais e estão à sua frente. Além do grande atrativo lúdico, a técnica permite uma visualização muito mais completa que a do livro didático”.

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