A disciplina de artes é notavelmente uma das mais preteridas pelos alunos do ensino básico em geral. As aulas, muitas vezes, são marcadas pela tradicional “bagunça”, além de contar com a desatenção dos alunos. É claro que não se pode generalizar, mas foi vivendo essa realidade que um professor de artes no interior de Minas Gerais criou um projeto que visa a tornar suas aulas mais atrativas aos olhos dos alunos. Um dos vencedores do Prêmio Instituto Claro – Novas formas de aprender, na modalidade Vivência, o projeto “A arte no toque do celular – Diálogo entre a arte e áreas do conhecimento: uma parceria da tecnologia para aprendizagem” usa e abusa das tecnologias para relacionar conceitos artísticos e conteúdos das disciplinas tradicionais, como Matemática, Geografia e História.

Geraldo Magela, professor de artes na Escola de Educação Básica e Profissional Dona Sinhá Neves, da Fundação Bradesco, em São João del Rey, desenvolveu o trabalho junto à professora Maria Rodarte, de Português, e 45 alunos do 6º ano do Ensino Fundamental. A ideia desde o princípio era trabalhar com conteúdos interdisciplinares. Para isso, o ponto de partida foi “o eixo das cores”. Geraldo explica: “Criamos atividades que aproveitassem os assuntos que os professores estavam trabalhando nas aulas e que interagissem com a arte de alguma maneira. Na Matemática, por exemplo, estudamos o conceito de simetria. Primeiramente, uma apresentação do tema era feita ao aluno no Power Point e depois eles tinham que, usando figuras geométricas e colorindo, formar imagens simétricas. A arte está no resultado final.”

Arte, celular, fotografia, computador e tecnologia

Mas você deve estar se perguntando: “E onde entra o toque do celular?”. Trata-se de uma outra atividade proposta. Para as disciplinas de Português e Inglês, os alunos foram incentivados a escrever pequenos textos falando sobre as suas relações com as cores (“vermelho me causa tensão; preto, medo…”). As melhores produções foram escolhidas para que os alunos as gravassem em áudio, cantando, e pudessem transformá-las em ringtones para celulares. Assim, ao final do trabalho eles podiam colocar nos seus próprios aparelhos pequenas músicas que começaram num trabalho de redação e na arte de cantar.

Divulgação

Alunos do projeto “Arte no toque do celular”

A fotografia como arte também foi trabalhada. Com os aparelhos celulares em mãos, os alunos tiveram que tirar fotos e levar para o laboratório de informática da escola, onde fizeram um trabalho de estilização das imagens, com inserção de figuras e cores. “Fomos preparando os meninos para que o celular pudesse ser usado de forma consciente, até mesmo para trabalhar com arte”, explica, empolgado, o professor Geraldo.

As propostas nesse novo universo apresentado nas aulas de artes não param por aí. Enquanto trabalhavam as cores, seus conceitos e impressões, os alunos assistiram a vídeos de esporte em que se deparavam com as causas e consequências de um cartão amarelo e de um cartão vermelho. Ao mesmo tempo, o professor de Educação Física acompanhava essa atividade, assim como o professor de Matemática ajudou os alunos no conceito de simetria e o de Português coordenou a produção de textos.

Outra experiência interessante com a qual os alunos tiveram contato relacionou as disciplinas de Geografia, Artes e História. Com o objetivo de trabalhar o urbanismo, a turma do 6º ano colheu no Google fotos de satélite da pequena cidade de Santa Cruz de Minas, que faz divisa com São João e de onde vem grande parte dos alunos da escola. Em cima dessas imagens, eles foram orientados a desenhar mais uma vez, usando figuras geométricas, e colorir. “No final, tivemos várias obras de arte cubistas, lembravam Picasso”, brinca o professor de artes.

Já para História, imagens antigas da cidade de São João del Rey, que faz parte do circuito histórico de Minas Gerais, e fotos recentes tiradas nas mesmas posições que as mais velhas foram usadas pelos alunos para desenhar sobre a imagem na elaboração de uma obra de arte – assim como na atividade de simetria. Ao mesmo tempo, os jovens faziam o exercício de comparação e análise do que foi preservado e do que foi demolido.

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Geraldo Magela em atividade com alunos da escola Dona Sinhá Neves, em São João del Rey, Minas

Para realizar as atividades, os alunos contavam com o apoio dos professores. Qualquer dúvida específica podia ser esclarecida com o responsável da área. Está aí uma dificuldade encontrada pelos coordenadores do projeto: Como, às vezes, uma atividade exigia conhecimento prévio de outra atividade ou até mesmo conteúdo que já deveria ter sido trabalhado na sala de aula, o desenrolar dos exercícios no laboratório de informática dependia do ritmo e da adaptação de vários professores ao “calendário do projeto”. Mas essa questão de planejamento não interferiu muito no trabalho dos alunos, segundo Geraldo, já que eles tinham certa autonomia com as tecnologias usadas.

Reconhecendo o trabalho dos jovens artistas e alcançando objetivos

A avaliação dos jovens artistas foi baseada principalmente em um “Diário de bordo” que eles escreveram durante todos os cinco meses de trabalho. A cada atividade feita, sua obrigação era relatar o que fizeram e o que aprenderam. Era nesses diários que os professores viam o rendimento dos alunos. Geraldo ainda pediu à turma que construísse um mapa rizomático: “Eles fizeram um esquema, ao modo de um fluxograma, em que destacavam as atividades feitas, interligando-as através de setas. Isso servia para lembrá-los de que o tempo inteiro várias disciplinas estavam conectadas”. Os resultados foram positivos e os planos são de que o projeto seja ampliado para duas turmas em 2010. A produção final pode ser conferida na biblioteca da escola, em dois computadores, onde foram salvos os arquivos de imagem (as obras de arte dos alunos) e os ringtones, que podem ser puxados.

Dois objetivos claros foram alcançados pelos idealizadores do projeto. Um deles era mostrar aos alunos que a arte não é apenas composta pelos quadros e outras peças de museus. Qualquer uma das crianças que participaram do projeto no primeiro semestre de 2009 pode se tornar um artista. Por outro lado, o uso da tecnologia como atrativo para a disciplina deu certo, como conta Geraldo: “Além do desinteresse dos alunos, eu tinha limitações de ferramentas para trabalhar os conteúdos em sala de aula. Queria fugir da rotina didática tradicional. Usando a informática, os meninos acabam enxergando a arte de maneira diferente. A postura mudou completamente; bastava entrar na sala de aula e eles já me rodeavam querendo saber qual seria a atividade do dia”.

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