Aproximadamente 8,5 milhões de alunos brasileiros estão atrasados no mínimo dois anos na escola. É a chamada distorção idade-série, que atinge o seu pico no período do 6º ao 9º ano da Educação Básica. “O problema compreende duas situações: quando o aluno abandona os estudos ou quando repete a série”, resume Adilene Gonçalves Quaresma, doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) mostram que o problema reflete as desigualdades socioeconômicas regionais do Brasil. Entre o 6º e 9º ano do ensino, a distorção atinge 21%, no Sudeste; 23,8%, no Sul; 28,5%, no Centro-Oeste; 40,7%, no Norte e 40,4%, na região Nordeste. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram, ainda, que a incidência é maior entre os alunos mais pobres, de áreas rurais e que se declaram negros.
 
“As crianças geralmente ingressam no sistema escolar na idade certa. A defasagem cresce à medida que se avança na Educação Básica, no mesmo ritmo em que aumenta a exigência das habilidades em leitura, escrita e oralidade”, assinala Inês Kisil Miskalo, gerente-executiva de Educação do Instituto Ayrton Senna. 
 
Efeito dominó
Para Inês Kisil Miskalo, a ineficiência dos processos de alfabetização está na origem da distorção. “Trata-se de uma espécie de efeito dominó”, afirma. Além disso, o problema reflete a falta de acompanhamento da criança pela família e escola, além de um ensino pouco atrativo. “Essas duas instituições precisam saber se a criança aprende, o quanto ela aprende, se está na média de sua turma, se responde às demandas que lhe são feitas, se está feliz e etc. A distorção nada mais é do que um retrato da ineficiência, ao vivo e a cores”, decreta.
 
Os alunos prejudicados também exigiriam políticas educacionais específicas. O perfil engloba jovens que apresentam dificuldades de aprendizagem não sanadas no processo, que precisam trabalhar para ajudar suas famílias, com problemas de indisciplina, que são vítimas de violência na escola e mães adolescentes. “Esses alunos precisam ter tanto as dificuldades quanto as causas identificadas por profissionais competentes e, somente após esse diagnóstico, receberem o atendimento adequado por parte da Secretaria de Educação e da escola. São crianças que requerem olhar e atendimento diferenciado daquele disponibilizado para a média dos alunos”, acrescenta Inês.
 
PNE 
Houve, contudo, melhoras na distorção idade-série. No final da década de 90, o Brasil possuía 47,4% dos alunos do ensino fundamental estudando em séries não compatíveis. O Censo da Educação Básica de 2013 apontou uma média nacional de 21%. Além da redução da desigualdade social no pais neste período, houve mudanças na prática pedagógica. “No passado, os alunos eram considerados os responsáveis pelo seu próprio fracasso escolar. Houve uma mudança de entendimento por parte da escola”, opina Adilene.
 
Entre as atuais medidas para diminuir a distorção aluno-série, está o Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê a alfabetização de todas as crianças até o final do 3º ano do Ensino Fundamental, aos oito anos de idade. “Há uma facilidade de aprendizagem na primeira infância, quando se dá o maior número de conexões no cérebro”, aponta Inês.
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