A confiança na capacidade que os alunos têm de aprender foi apontada como primeira grande inspiração do educador Braz Rodrigues Nogueira no TEDxSão Paulo, realizado em 12 de agosto. Munido dessa confiança em 1995 Nogueira assumiu a direção da Escola Municipal Presidente Campos Salles, na favela de Heliópolis, na zona sul de São Paulo. Em integração com a comunidade criou e implantou uma metodologia baseada na portuguesa Escola da Ponte, focada na construção da autonomia dos alunos – e que dá a eles voz na tomada de decisões na escola.

“Quando cheguei, havia o problema da violência. A escola registrava até seis brigas por dia e era época das chacinas e do toque de recolher na comunidade. Eu só tinha para enfrentar tudo isso a certeza de que a criança é um ser capaz e outras duas ideias: a de que tudo passa pela educação e de que a escola tem que ser um centro de liderança na comunidade onde está inserida”, relatou.

A partir dessas percepções, Nogueira iniciou visitas a representantes comunitários e construiu, pouco a pouco, uma integração efetiva entre escola e comunidade, com a realização de vários projetos em parceria. Restava ainda, porém, o desafio de transformar as práticas engessadas que ocorriam em sala de aula – e que prejudicavam o interesse dos alunos pelo conteúdo e pela permanência na escola.

“Foi quando três professoras me falaram da Escola da Ponte, em Portugal, onde os alunos eram capazes de se organizar individualmente e coletivamente para um aprendizado autônomo”. Inspirado pela ideia, o educador realizou um curso de educação comunitária e decidiu elaborar, como projeto de conclusão, uma metodologia baseada no modelo da escola portuguesa.

Quebrando paredes e paradigmas
Braz apresentou a metodologia para o conselho da escola, que aprovou a sua implementação. A primeira medida tomada foi quebrar as paredes e transformar doze salas de aula em quatro grandes salões, com capacidade para 80 alunos e três professores cada. “Eles – alunos e professores – não possuíam outra alternativa a não ser trabalhar em equipe”, explicou.

Os alunos passaram a ser divididos em grupos e a receber roteiros prévios sobre as atividades do dia. Em caso de dúvida, um aluno do grupo passou a solicitar o auxílio dos professores. “O professor, nesse momento, não dá a resposta, mas busca apontar o recurso necessário para que os alunos descubram por si próprios”, descreveu. “Professor é aquele que oferece recurso para que os alunos possam aprender com tudo, com todos e em todos os lugares”, refletiu.

Segundo Braz, os jornalistas que visitam a escola sempre fazem a mesma pergunta: mas e os resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), formulado para medir a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para a melhoria do ensino? “Bem, estamos crescendo gradualmente ano após ano, mas nosso Ideb ainda é baixo. Contudo, eu sempre respondo: essa avaliação externa não mede autonomia, responsabilidade e solidariedade – os princípios da nossa escola”, assinalou. “Assim, abaixo à padronização e viva a criatividade”, decretou, antes de ser ovacionado pela plateia do evento.

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