A pop art foi uma corrente artística que surgiu nas décadas de 1950 e 1960 nos Estados Unidos e no Reino Unido, marcada pelo uso de elementos da cultura popular, como histórias em quadrinhos, propagandas, embalagens de produtos, celebridades e objetos do cotidiano.

“Ao valorizar imagens do dia a dia, rompeu com a ideia de que a arte era elitista, restrita a museus e distante da vida comum”, resume o professor de arte e coordenador da Escola Estadual Tancredo Neves Presidente, em Guarujá (SP), Márcio Alexandre Gouvêa.

Ao transformar o banal em expressão artística, artistas como Andy Warhol, Roy Lichtenstein e Richard Hamilton questionaram a sociedade de consumo e o impacto dos meios de comunicação de massa.

“Para discutir o conceito de cultura de massa, Warhol replicou várias vezes a imagem das latas de sopa Campbell”, complementa Gouvêa.

“Os artistas incorporaram elementos da cultura de massa e incentivaram a arte como produto de consumo, a partir de um processo produtivo impessoal e mecânico”, explica a coordenadora dos cursos de licenciatura em Artes Visuais EAD da Unoeste Luli Hata.

Abordagem crítica no Brasil

Hata explica que, após a Segunda Guerra Mundial, parte do mundo passou a vivenciar um sentimento de prosperidade impulsionado pelo acesso a bens de consumo.

“Experimentações artísticas baseadas no acaso e na exploração de temas corriqueiros desembocaram em dois movimentos: o Minimalismo e a Pop Art, que surgiu na Inglaterra, com Richard Hamilton, e ganhou força nos Estados Unidos, nos anos 1960, tendo Andy Warhol como principal expoente”, apresenta a professora.

“Inicialmente, na Inglaterra, essa temática teve um caráter crítico, evidenciando a proliferação da publicidade de objetos de consumo e mostrando como as imagens midiáticas influenciavam até mesmo os corpos das pessoas, além de trazer referências do cotidiano da vida pública e privada”, contextualiza Hata.

“Nos EUA, a tendência assimilou a noção de arte como produto, incentivando o comércio da produção artística, inclusive como caminho para democratizar o acesso à arte. Warhol, por exemplo, elaborou capas de discos”, exemplifica Hata.

Enquanto nos EUA e na Inglaterra a Pop Art se destacou pela produção voltada ao consumo, a abordagem foi mais crítica no Brasil devido ao contexto da ditadura militar.

“Ela chegou pelas mãos de Rubens Gerchman, e, com ele, José Roberto Aguilar e Antonio Dias usaram elementos da cultura de massa para criticar o regime e refletir sobre a identidade nacional, adaptando a estética pop ao contexto político brasileiro”, acrescenta.

Como apresentar aos alunos?

Segundo Hata, a corrente artística permite aos estudantes compreender a relação entre arte, cultura e sociedade. “Como a linguagem desse movimento está ligada a imagens acessíveis e reconhecíveis, ela facilita a aproximação dos alunos com a produção artística e estimula reflexões sobre consumo, publicidade e identidade”, aponta Hata.

“Apresentar a pop art para crianças e adolescentes não se limita à exposição de obras. É preciso provocar os alunos a analisarem as imagens que consomem diariamente”, alerta a professora.

“Eles estão imersos em um universo imagético repleto de referências da cultura de massa, como quadrinhos, embalagens, memes, celebridades e redes sociais, que influenciam suas percepções e identidades. A pop art, por sua própria natureza, dialoga diretamente com esse universo, pois se apropria de elementos visuais cotidianos e os ressignifica artisticamente. Ao considerar essas imagens como parte legítima do repertório cultural dos estudantes, os professores de artes visuais têm a oportunidade de transformar a sala de aula em um espaço de reflexão crítica e criação”, destaca.

Para os primeiros anos do ensino fundamental, ela sugere atividades de experimentação com cores, formas e simplificação de imagens complexas.

“Nos anos finais, é possível discutir cultura de massa, redes sociais e a ideia de bolha, além de realizar releituras de obras. Já no ensino médio, a análise crítica ganha espaço, com debates sobre consumo, mídia e identidade”, completa.

A seguir, conheça cinco atividades para ensinar pop art em diferentes etapas de ensino

1) Transformar objetos cotidianos (todas as etapas)

Imprima o contorno de uma garrafa de refrigerante e entregue aos alunos colado em um papelão. Eles devem criar um desenho a partir desse molde. A mesma proposta pode ser feita com o contorno de um tênis do tipo All Star. “Costumo dizer: ‘A minha empresa vai lançar uma nova linha de tênis, quero modelos lindos e com algo a mais’. Eles podem incluir ícones como asas, molas ou outros elementos criativos”, sugere Gouvêa.

2) Customizar balão de fala (todas as etapas)

Os alunos escrevem o próprio nome dentro de um balão de fala de história em quadrinhos e o personalizam. “Nos primeiros anos, podem apenas colorir as letras com cores vibrantes. Nas séries mais avançadas, a proposta é esconder ou disfarçar o nome com outros elementos visuais, explorando cores intensas e símbolos marcantes, como raios ou estrelas”, sugere Gouvêa.

3) Criação de retratos com cores vibrantes (todas as etapas)

“Inspirados em Andy Warhol, a atividade parte de uma fotografia simplificada em alto contraste, o que facilita a adaptação às técnicas, especialmente o estêncil”, explica Hata.

Para o estêncil:

Materiais para o molde: chapa de radiografia antiga, acetato, papelão, cartolina ou sulfite (do mais resistente ao mais simples de cortar) e papel manteiga.

Materiais para o corte: estilete ou tesoura (este último, no caso de crianças pequenas).

Materiais para a pintura: esponja, rolinho de espuma ou pincel; tintas guache, para tecido ou PVA; além de papel, papelão, tecido ou outro suporte. Também serão necessários fita crepe para fixar o molde e bandejinhas descartáveis para colocar a tinta.

Procedimento:

Hata indica colocar o papel manteiga sobre o retrato e traçar os contornos, destacando as áreas de sombra. Essa simplificação pode ser feita com cópia xerox ou aplicativo de imagem. Posicione o desenho sob o material escolhido (acetato, radiografia, papelão ou cartolina), fixe com fita crepe e recorte com estilete. Para crianças, use sulfite e tesoura.

Use o molde para replicar a mesma imagem várias vezes em diferentes suportes, como papel, tecido ou parede. “A tinta pode ser aplicada com esponja, rolinho ou giz de cera, se o molde for de sulfite”, resume Hata.

4) Releitura de embalagens de produtos (fundamental II)

Com colagem, pintura ou até elaboração tridimensional, os alunos recriam embalagens de produtos em formatos maiores. “Podem, por exemplo, reproduzir uma pasta de dente usando tecido, costura ou outros materiais inusitados”, sugere Hata.

5) Produção de cartazes críticos ou audiovisuais sobre consumo e mídia (ensino médio)

Hata sugere duas possibilidades:

Primeira: investigar os desdobramentos estéticos da pop art e identificar conexões com o presente. “A partir da compreensão dos aspectos técnicos e históricos, os alunos podem pesquisar artistas contemporâneos, apresentar suas obras e relacioná-las ao grafite ou a outras linguagens urbanas”, recomenda a professora.

Segunda: discutir arte e consumo. “Inspirados nos artistas da pop art, que entendiam suas obras como objetos de consumo, os alunos analisam diferentes espaços de venda de arte — uma loja de decoração, uma galeria e uma feira de artesanato — para refletir sobre quais trabalhos estão acessíveis ao grande público, que tipo de arte circula nesses ambientes e quais públicos a consomem”, ensina.

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Crédito da imagem: jameslee1 – Getty Images

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